Conteúdo falso anti-vacina cresce 131% em rede social com início da imunização contra Covid, aponta projeto ligado à USP

Por Redação em 26/02/2021 às 06:15:32

Grupos disseminaram desinformação ao mencionar supostos riscos dos imunizantes e teorias da conspiração, segundo União Pró-Vacina. Instituto também questiona eficácia do Facebook em retirar ou sinalizar posts. Vacina contra a Covid-19 é alvo de desinformação na internet

REUTERS/Dado Ruvic

Falsos casos de mortes e teorias sem evidência científica protagonizam uma elevação, em mais de duas vezes, no volume de desinformação publicada no Facebook por grupos anti-vacina no início da imunização contra a Covid-19 no Brasil, aponta um estudo da União Pró-Vacina (UPVacina).

De acordo com o projeto, articulado pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP de Ribeirão Preto (SP) em parceria com diferentes universidades e centros de pesquisa, somente em janeiro dois grupos disseminaram no Facebook 257 posts com dados falsos, diante de 111 em dezembro de 2020, uma alta de 131,5%.

Segundo os pesquisadores, que também questionam a eficácia do Facebook em combater essas fontes, o número também representa mais do que o triplo do registrado em julho, quando os imunizantes ainda estavam em testes e o volume de publicações chegou a 87.

"A principal razão é o início da vacinação, com uma demanda maior por informações e, com a ansiedade da público, esses grupos aproveitam essa demanda para disseminar desinformação", afirma João Henrique Rafael Junior, fundador da UPVacina.

Em nota, o Facebook informou que o estudo da UPVacina é baseado em uma pequena amostragem e não reflete o trabalho da empresa para fornecer informações confiáveis sobre o novo coronavírus.

"Já conectamos mais de 2 bilhões de pessoas, incluindo no Brasil, a informações oficiais de organizações líderes de saúde, como a OMS, através da Central de Informações sobre o Coronavírus no Facebook e mensagens no feed", comunicou.

A vacinação contra a Covid-19 começou no Brasil após a aprovação do uso emergencial da Anvisa em 17 de janeiro, quando os primeiros profissionais de saúde foram imunizados com a CoronaVac em São Paulo, e no dia 18 de janeiro, quando a campanha atingiu 15 estados.

Até a noite de quarta-feira (24), 6,1 milhões de pessoas receberam a primeira dose de vacina contra a Covid-19, segundo balanço do do consórcio de veículos de imprensa, formado por G1, O Globo, Extra, O Estadão de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL. O número representa 2,92% da população brasileira.

Desinformação anti-vacina

O novo estudo da UPVacina encontrou, entre dezembro e janeiro, um total de 368 publicações veiculadas em dois grupos anti-vacina do Facebook: 111 em dezembro e 257 em janeiro. A segunda quinzena do mês passado, sozinha, representou o equivalente a 39,7% desse conteúdo.

"Os posts são realizados em grupos públicos do Facebook, desse modo é possível ver o perfil de cada usuário que faz as publicações, mas não é possível determinar com total certeza se é um perfil verdadeiro, um robô, ou simplesmente um perfil falso", afirma Júnior.

Segundo a UP Vacina, esses conteúdos foram produzidos por 126 autores, entre eles 16 que respondem por quase a metade das publicações, que predominantemente recorrem a vídeos (41,6%) e links (24,5%), estão em português (71%), inglês (19,8%) e espanhol (7,1%), e tiveram um volume considerado alto de reações (3.942), comentários (1.313) e compartilhamentos (2.372).

"Em alguns casos são vídeos de indivíduos que fazem essas acusações sem prova alguma, em outros são notícias de sites internacionais conhecidos pela distribuição de informação falsa, há também o caso de fotos simples com uma legenda como 'Esse era X, ele tomou a vacina ontem e morreu'", explica o fundador da UPVacina.

Os tipos de desinformação

Ao analisarem os dados, as equipes também notaram uma mudança no tipo de conteúdo utilizado. Antes em segundo plano, informações que incitam o medo ao cogitar, sem base científica, supostos perigos das vacinas correspondem a quase a metade das publicações, com 45,1%.

"Os posts na categoria perigo afirmam que as vacinas podem causar morte, infertilidade, alteração genética, além de alegações de que pessoas que já tomaram a vacina estão morrendo ou sofrendo fortes reações adversas", explica o representante da UPVacina.

Veja o perfil dos posts com informações falsas anti-vacina, segundo a União Pró-Vacina:

suposto perigo das vacinas (45,1%);

teorias da conspiração (19%);

falsas aplicações em personalidades de destaque (11,7%);

desinformações já usadas pelos grupos antivacina, como alteração do DNA humano (5,7%);

conspirações políticas (4,9%);

ausência de eficácia (4,3%);

uso de fetos abortados na fabricação (3,3%).

teorias específicas que citam Bill Gates como suposto articulador (2,7%);

questões religiosas (1,6%);

posts que afirmam que a vacina é desnecessária (0,8%);

posts que mencionam pouco tempo de pesquisa (0,8%)

Ainda presentes, as teorias da conspiração representam 19%. "Os posts são variados, mas possuem em comum o apelo a histórias mirabolantes envolvendo, normalmente, uma elite secreta que atua em parceria com órgãos internacionais e que tem dentro dos seus objetivos a diminuição da população."

Diretrizes do Facebook

No estudo, a União Pró-Vacina também aponta que, apesar de recentes mudanças em suas diretrizes, o Facebook não foi eficiente em retirar ou marcar todos os conteúdos considerados falsos.

Dos dois grupos anti-vacina, um não está mais acessível desde 10 de fevereiro, mas outro ainda permanece ativo há seis anos, aponta o instituto ligado à USP. Além disso, segundo a UPVacina, a rede social demarcou aos usuários como conteúdo falso somente 7,6% das publicações analisadas.

"Nós reportamos frequentemente ao Facebook os conteúdos, grupos e perfis envolvidos com conteúdos falsos sobre vacinas por meio da interface que a própria empresa disponibiliza", afirma Júnior.

Em nota, o Facebook informou já ter removido mais de 12 milhões de posts no mundo com desinformação sobre a Covid-19. Além disso, comunicou que informações que não violam as políticas da empresa estão sujeitas à revisão de parceiros de checagem de fatos.

"Se os conteúdos forem marcados como falsos, eles serão identificados como tal e terão seu alcance restringido. Sabemos que esse e um desafio continuo e seguimos trabalhando para destacar informações confiáveis e reduzir a desinformação”, informou.

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Fonte: G1

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