Retidos no AC sem conseguir passar para o Peru há 15 dias, imigrantes fazem protesto em frente à Prefeitura: "Até quando"

Por Redação em 01/03/2021 às 14:01:20

Cidade de Assis Brasil, no interior do Acre, tem mais de 500 imigrantes, sendo a maioria haitianos, que tentam passar para o Peru e seguir viagem. Após se concentrar em frente à prefeitura da cidade, grupo foi até a Ponte da Integração, onde tem cerca de 70 imigrantes acampados desde o último dia 14. Imigrantes fizeram protesto em frente à Prefeitura de Assis Brasil pedindo abertura da ponte

Arquivo/Prefeitura

Sem conseguir passar para o Peru e seguir viagem, o grupo de imigrantes que se concentra na cidade de Assis Brasil, no interior do Acre, fez um protesto nesta segunda-feira (1). Com cartazes, eles se reuniram em frente à prefeitura da cidade acreana e pediram que seja liberada a passagem deles para o país vizinho.

Em seguida, eles caminharam até a Ponte de Integração, onde um grupo de cerca de 70 imigrantes está acampado desde o último dia 14. Segundo o prefeito de Assis Brasil, Jerry Correia, além dos que estão na ponte, há pelo menos 300 imigrantes em uma das escolas que serve de abrigo e mais 150 em outra. Com isso, chega a mais de 500 o número de estrangeiros retidos na cidade.

Após se reunir na Prefeitura, grupo de imigrantes foi para Ponte da Integração, que liga Assis Brasil ao Peru

Reprodução

Em um dos cartazes segurado por um imigrante, eles escreveram em português: “Até quando a raça negra terá direito da imigração livre. Socorros”. Em outro eles dizem: “Imigrantes são seres humanos, filhos de Deus, e também têm seus direitos. Favor deixar nos (sic) passar.”

“O que eles pedem é que o Peru libere a entrada deles. A situação aqui só piora a cada dia, são problemas que só vêm se multiplicando. Os caminhoneiros se manifestando, também querendo uma resposta, a comunidade que já não aguenta mais essa situação, a prefeitura desgastada com tudo isso, os problemas vão se multiplicando e a gente fica aqui na inércia. Eles querem chamar atenção tanto dos brasileiros, quanto dos peruanos. Na verdade, eles têm a prefeitura como uma grande amiga que tem alimentado eles, tem dado assistência, o único ponto de referência do poder público no Brasil. Então, é isso”, disse o prefeito.

Caminhoneiros tentam passar com cargas para o lado peruano

Raylanderson Frota/Arquivo pessoal

Caminhoneiros retidos

Com a Ponte da Integração fechada pelo grupo de imigrantes, mais de 130 caminhões continuam retidos tanto do lado brasileiro como do lado peruano há 15 dias e o prejuízo é calculado já em mais de R$ 600 mil.

Pablo Cardoso, que é representante de um despachante aduaneiro e de uma distribuidora de combustível que fornece o produto para a Bolívia, disse que há mais de 100 caminhões no lado peruano carregados com combustível, alimentos e outros produtos para serem levados à Bolívia. Do lado brasileiro, há ainda pelo menos 30 caminhões que tentam sair do Acre.

“Desde que eles fecharam, não conseguimos passar de jeito nenhum, eles estão totalmente arredios. Eles sabem que a melhor pressão que estão fazendo é essa. O prejuízo diário do despachante é em torno de R$ 3 a R$ 4 mil e meu prejuízo como sócio da empresa de transporte, estamos tendo um prejuízo diário de R$ 60 mil. Calculando, por baixo, o prejuízo das empresas com caminhões parados ali chega a mais de R$ 600 mil”, disse.

No último dia 24, os caminhoneiros que estão retidos por conta da ocupação da ponte protestaram na tentativa de conseguir seguir viagem com suas cargas.

Imigrantes ocupam ponte da Integração há 15 dias

Raylanderson Frota

Visita do governo federal

O Secretário Nacional de Assistência Social, do Ministério da Cidadania, Miguel Ângelo Gomes, esteve dia 19 deste mês em Assis Brasil para ver de perto a situação dos imigrantes que estão no município acreano e tentam atravessar a fronteira para deixar o Brasil.

O representante do governo federal se reuniu com o governador da Província de Madre De Dios, Luis Guillermo Hidalgo Okimura, e o prefeito de Iñapari, Abraão Cardoso, ainda nesta sexta. Na conversa, segundo a Agência do Governo do Acre, as autoridades peruanas informaram que o país avalia uma forma de abrir a fronteira para liberar a passagem dos imigrantes, mas que, por enquanto, a fronteira no lado peruano segue fechada.

Ainda ao portal do Governo do Acre, o Secretário Nacional de Assistência Social reconheceu que o problema precisa ser resolvido de imediato, por se tratar de uma situação diplomática, mas não disse como o governo federal deve resolver a situação.

Gomes afirmou que o Ministério da Cidadania vai ajudar o estado e o município no enfrentamento do que chamou de crise humanitária na fronteira. “Viemos para conhecer a realidade e ouvir as demandas da prefeitura, que está na linha de frente dessa situação. De posse do relatório detalhado, iremos agilizar a ajuda dentro daquilo que a urgência nos permite.”

Ocupação

A situação dos imigrantes começou a ficar tensa desde o dia 14 de fevereiro, quando cerca de 300 imigrantes deixaram os abrigos que ocupavam e se concentraram na Ponte da Integração, na fronteira com o Peru. Os imigrantes tentavam deixar o país, mas foram barrados pelas autoridades peruanas.

No dia 16, os imigrantes enfrentaram a polícia peruana e invadiram a cidade de Iñapari, no lado peruano da fronteira. Depois de confronto, o grupo foi reunido pelos policiais peruanos e mandado de volta para Assis Brasil.

A crise imigratória resultou na visita do secretário Nacional de Assistência Social, do Ministério da Cidadania, Miguel Ângelo Gomes, que esteve no último dia 19 em Assis Brasil para ver de perto a situação dos imigrantes que estão no município acreano e tentam atravessar a fronteira para deixar o Brasil.

O representante do governo federal se reuniu com o governador da Província de Madre De Dios, Luis Guillermo Hidalgo Okimura, e o prefeito de Iñapari, Abraão Cardoso. Na conversa, segundo a Agência do Governo do Acre, as autoridades peruanas informaram que o país avalia uma forma de abrir a fronteira para liberar a passagem dos imigrantes, mas que, por enquanto, a fronteira no lado peruano segue fechada.

Cidade de Assis Brasil abriga mais de 400 imigrantes

Arquivo/Prefeitura de Assis Brasil

Policiamento

Além dos policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar e do Gefron, mais de 12 militares da Força Nacional e mais de 20 policiais rodoviários federais fazem o policiamento na região de fronteira.

Uma portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública, publicada no dia 18, autorizou o emprego da Força Nacional no Acre, no apoio às forças policiais no estado. A autorização é válida por 60 dias e pode ser prorrogada.

A determinação estabelece que as Forças Nacionais devem auxiliar "nas atividades de bloqueio excepcional e temporário de entrada no País de estrangeiros, em caráter episódico e planejado".

Ponte fechada para passagem de imigrantes de Assis Brasil para o Peru

Arquivo/Prefeitura

Rotas

São duas situações que fazem com que o número de imigrantes cresça na cidade de Assis Brasil; a primeira, a de imigrantes que entraram no Brasil entre 2010 e 2016 em busca de uma vida melhor e, com a crise da pandemia, tentam sair do país para seguir viagem até México, Canadá, Estados Unidos e outros países.

A segunda é que o Peru, mesmo fechando a passagem para a entrada de imigrantes, libera a saída deles para o lado brasileiro, então é uma porta de entrada para venezuelanos.

Sem conseguir passar para o Peru, alguns dos imigrantes retidos no Acre também tentam uma rota alternativa para chegar na Bolívia e de lá seguir viagem. Um grupo de mais de 40 pessoas foi barrado, no final da semana passada, já na Bolívia e mandado de volta por policiais bolivianos ao Acre após tentar fazer a nova rota.

Vídeos: G1 em 1 Minuto

Fonte: G1

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