Delivery, home office e hábitos digitais: como a pandemia mudou relações de trabalho e consumo

Por Redação em 13/03/2021 às 06:10:48

Mercado de delivery, antes restrito à alimentação, passou a ser, praticamente, de tudo. Empresas se adaptaram à nova realidade e flexibilizaram exigência da presença física dos trabalhadores. Motoboy fala sobre mudanças em entregas por aplicativo na pandemia

O distanciamento social exigido para o combate à pandemia da Covid-19 mudou hábitos, comportamentos e relações de trabalho (veja vídeo acima). Além de moradia, as casas viraram espaços de trabalho e de compras, impulsionadas pelo crescimento de soluções digitais. Será que a vida de antes da pandemia vai ser retomada ou já estamos vivendo o futuro?

Antes dominado pelos restaurantes, o mercado de delivery passou a ser, praticamente, de tudo. Agora, o setor de alimentação compartilha o modelo de negócio com todo e qualquer tipo de produto – e não somente para o público humano.

Gerente geral de uma empresa de delivery para produtos de pets, Bernardo de Luca afirmou que a companhia já nasceu com a intenção de entregar produtos, mas a pandemia intensificou o crescimento do negócio, que chegou ao Recife no fim de fevereiro.

Criada antes da pandemia, empresa de delivery de produtos para pets percebeu consolidação do modelo de negócio após isolamento social

Zee.Now/Divulgação

“A gente teve uma aceleração até mais rápida do que a gente esperava. De certa forma, foi uma confirmação desse modelo de negócios, pelo agradecimento dos clientes por não precisarem sair de casa e por não esperarem tanto tempo para receber uma compra online”, disse.

Além de ser um espaço de compras, o lar também virou local de trabalho. No caso da analista comercial Vitória Melquíades, houve, inclusive, espaço para mudar de emprego.

“No dia 17 de março de 2020, a empresa em que eu trabalhava, de tecnologia, colocou os funcionários para trabalhar de casa. No fim do ano, participei de um processo seletivo totalmente online para outra empresa e passei. Só fui lá um dia para pegar os equipamentos”, disse.

Sem gastar três horas diárias no ônibus nos trajetos de ida e volta entre o bairro da Iputinga, na Zona Oeste do Recife, e o de Boa Viagem, na Zona Sul, Vitória contou que, de casa, consegue usar o tempo para outros fins. “Tenho um projeto no Porto Digital, o trabalho e a faculdade de administração”, contou.

Vitória Melquíades mudou de emprego durante a pandemia e manteve o modelo home office de trabalho

Reprodução/Arquivo pessoal

Há cerca de um mês trabalhando e estudando de forma remota, a parte difícil é não ter as interações presenciais na hora do cafezinho na empresa ou para tirar dúvidas sobre exercícios, na faculdade.

“A empresa faz alguns momentos de interação para a gente conhecer mais o outro, mas sinto falta de ter histórias em comum, de ficar alguns minutos na copa comentando sobre o 'Big Brother'”, brincou.

Com ou sem pausa para o lanche com colegas de trabalho, Vitória acredita que o modelo veio para ficar. “Acho que, quando a pandemia acabar, o futuro vai ser híbrido. Em alguns dias, as pessoas vão ter que ir para os escritórios. A parte boa de estar em casa é que fico mais tranquila, consigo fazer mais coisas”, afirmou.

Adaptações e precariedade

Wesley trabalha desde 2018 como motoboy de aplicativos de entrega

Reprodução/Arquivo pessoal

O motoboy Wesley Vieira vive a realidade de trabalhar com aplicativos desde 2018, quando o novo coronavírus sequer existia. Ele diz que, desde o início da pandemia, o trabalho mudou bastante e teve diferentes fases.

"Antes, a gente entregava fast food e farmácia. Hoje, se entrega de tudo. No início da pandemia, quando todo mundo estava trabalhando em casa, eram muitos pedidos, porque as pessoas tinham muito medo e havia pouca gente na rua. Depois, muita gente foi demitida e encontrou nos aplicativos uma fonte de renda. Aumentou a quantidade de entregadores e diminuiu a de entregas", afirmou.

"Entre assaltos, acidentes e tanta coisa que a gente passa todo dia, a pandemia é só mais uma na vida de um motoboy. O problema é que é um mal que a gente pode levar para dentro de casa", disse.

Para ele, embora as facilidades trazidas pela expansão das atividades por aplicativo, o trabalho de quem está na ponta da cadeia tem se tornado cada vez mais precário. Ele disse que, ao longo do tempo, esse tipo de atividade tem se aperfeiçoado, mas ainda falta muito para que seja justo para todas as partes envolvidas.

"No começo, para fazer compras em mercados, era o motoboy que escolhia o produto e ia para o caixa. Agora, há 'shoppers' que ficam nas lojas e entregam o pedido quando a gente chega. Mas, em alguns casos, de entrega de qualquer coisa que não está no catálogo, precisamos passar duas ou três horas comprando uma coisa para ganhar R$ 7 ou R$ 5. Isso massacra muito", afirmou.

Transformação digital

"A gente já poderia prever o aumento da transformação digital nos últimos anos. O que a pandemia fez foi acelerar o processo, fez em alguns meses o que seria em anos. Não só em relação ao mercado de tecnologia, mas com o mercado de aluguel de imóveis, de aviação, por exemplo", disse Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do país.

Em 2020, o faturamento das 349 empresas embarcadas no Porto Digital foi de R$ 2,86 bilhões, montante 21,7% maior do que os R$ 2,35 bilhões registrados em 2019, e 50,8% a mais do que em 2018. O parque tecnológico também encerrou 2020 com 13.378 profissionais empregados, uma alta de 14,7% em relação ao ano anterior.

Apesar do cenário favorável para o crescimento de soluções digitais, Lucena afirmou que há, no entanto, alguns contrapontos. "Essa transformação digital forçada leva a uma concentração de produtos, porque como é algo que você precisa resolver rapidamente, a solução está em um mercado que já está na prateleira, de uma empresa consolidada. Com isso, os pequenos negócios sofrem", afirmou.

Segundo o presidente do Porto Digital, o presente requer que, no futuro, as cidades funcionem de forma diferente. “Esse foi um grande recado de que mudanças grandes podem acontecer num pequeno espaço de tempo. A gente espera um mundo mais conectado, mas também é preciso pensar no capital humano”, disse.

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Fonte: G1

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