Sisu: deputados federais entram com representação no MPF contra sistema de 'dupla classificação'

Por Redação em 09/04/2021 às 20:01:03

Segundo parlamentares, mudança aplicada pelo MEC ainda em 2020 causa uma falsa impressão sobre as notas de corte e prejudica principalmente os estudantes mais vulneráveis. Página do Sisu

Reprodução / Sisu

Os deputados federais Bohn Gass (PT-RS) e Paulo Teixeira (PT-SP) pedem em representação enviada ao Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal nesta sexta-feira (9) a suspensão da chamada "dupla classificação" no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Os parlamentares afirmam que o modelo "infla artificialmente as notas de corte" e "ganha ares de crueldade contra os estudantes".

O Sisu abriu na última terça suas inscrições e se encerra às 23h59 desta sexta.

"Com as notas de corte infladas, os candidatos pelo país ficam sem referências para saber onde colocar sua nota. A simulação de lugares onde estudar com base na sua nota do Enem é um direito adquirido dos alunos brasileiros desde 2010, quando tivemos o primeiro Sisu", afirma o documento.

Entende a chamada "dupla classificação" ou "nota fantasma" no Sisu:

O Sisu é um sistema que usa as notas do Enem para que candidatos tentem uma vaga nas universidades públicas brasileiras

Durante os 4 dias em que o Sisu fica aberto para inscrições, os estudantes podem mudar livremente as duas opções de curso + universidade que indicam em seu perfil (embora, ao final, a matrícula será feita em apenas uma delas)

O sistema é frequentemente comparado a um leilão. A pontuação dos candidatos que se inscrevem em um curso vai determinar a nota de corte

Ou seja, nesse período de 4 dias, a entrada de candidatos com pontuações altas pode alterar a lista de aprovados de uma hora para outra e, consequentemente, a nota de corte

Até 2020, a concorrência pelas vagas só levava em conta a primeira opção assinalada pelo candidato. Mas no Sisu passado, o MEC introduziu sem aviso um novo modelo em que as duas opções são computadas na disputa

Como a matrícula só será feita em apenas uma opção de curso + universidade, uma "nota fantasma" pode inflar artificialmente as notas de corte já que uma das opções não valerá com o fechamento do sistema

O texto enviado ao MPF também classifica a atual situação com "loteria seletiva" para a escolha das universidades e que incentiva "que pessoas que não tiraram notas não tão altas (mas mesmo assim altas), que se concentram entre as populações de menor renda, saiam do processo mesmo tendo aproveitamento suficiente".

Ofício ao ministro

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) também enviou nesta sexta-feira um ofício direcionado ao ministro da Educação, Milton Ribeiro. Ele pede "providências para garantir o direito de estudantes afetados pela mudança nas regras do Sisu" e a suspensão do prazo para inscrições em 2021 e o fim da chamada "dupla classificação".

Em seu documento, Valente também argumenta que a duplicação "infla as notas artificialmente, fazendo com que as notas de corte simuladas sejam, em muitos casos, maiores do que realmente serão quando o sistema for fechado". Ele diz que a mudança aplicada pelo MEC causa uma "classificação fantasma" que prejudica sobretudo os estudantes mais vulneráveis.

UNE e UBES

A União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) também entraram com um pedido de ação civil pública na Defensoria Pública da União sobre o mesmo tema.

As duas organizações estudantis argumentam, assim como os deputados, que "a dupla classificação de um mesmo candidato faz com que sua nota seja concomitantemente considerada na definição da nota de corte em dois cursos".

"Verifica-se, assim, que os parâmetros utilizados pelo Sisu para definição da nota de corte são irreais, pois pressupõem a possibilidade de uma mesma pessoa estar na lista de concorrência de dois cursos, quando, na verdade, sua nota ao final necessariamente impactará apenas uma das listas"

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Fonte: G1

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