Três representações pedem ao TCU e ao MPF para apurar se governo criou 'orçamento secreto'

Por Redação em 10/05/2021 às 19:47:45

De acordo com jornal 'O Estado de S. Paulo', 'orçamento secreto' permitiria a parlamentares, em troca de apoio ao governo, indicar emendas em valor superior ao limite. Ministério nega. TrĂȘs representações protocoladas nesta segunda-feira (10) pedem ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério PĂșblico Federal que investiguem se o governo criou um "orçamento secreto" em troca de apoio parlamentar, segundo apontou o jornal "O Estado de S. Paulo".

De acordo com reportagem do jornal publicada neste domingo (9), o governo federal teria montado um orçamento paralelo de R$ 3 bilhões por meio do qual deputados e senadores aliados indicavam obras pĂșblicas e compra de equipamentos em suas bases eleitorais. Parte dos recursos teria sido destinada à compra de tratores e equipamentos agrĂ­colas com valores superfaturados, segundo o jornal.

O Ministério do Desenvolvimento Regional contesta a reportagem e afirma que não hĂĄ irregularidades (leia mais sobre a manifestação do ministério ao final desta reportagem).

Das trĂȘs representações, duas são dirigidas ao TCU e uma ao Ministério PĂșblico Federal. Ao TCU, recorreram o subprocurador-geral da RepĂșblica Lucas Furtado e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). A bancada do PSOL na Câmara fez representação à Procuradoria-Geral da RepĂșblica.

Os deputados e senadores tĂȘm direito às chamadas emendas individuais, limitadas a R$ 16,3 milhões por parlamentar — metade vai obrigatoriamente para a saĂșde. O chamado "orçamento secreto" permitiria que indicassem obras em valores superiores, executadas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional e pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do ParnaĂ­ba (Codevasf), estatal subordinada à pasta.

Na representação que protocolou no TCU, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado pede a adoção "das medidas necessĂĄrias a apurar a notĂ­cia de que o Presidente Jair Bolsonaro criou orçamento secreto em troca de apoio parlamentar, promovendo a anĂĄlise, de maneira urgente e aprofundada, do esquema denunciado pela reportagem do site Estadão, de modo a identificar as fragilidades da metodologia de distribuição de recursos a parlamentares e determinar as alterações necessĂĄrias ao procedimento denunciado".

Segundo Furtado, a verba do orçamento paralelo seria aplicada "à margem de todo o regramento constitucional, legal e regulamentar, em ofensa ao princĂ­pio da isonomia que orienta a distribuição de recursos orçamentĂĄrios entre os parlamentares no regime das emendas individuais e sem a transparĂȘncia que requer o uso de recursos pĂșblicos".

Ele diz, ainda, que os fatos denotam, em tese, "inadequada execução orçamentĂĄria, motivada supostamente por interesses polĂ­ticos", podendo "caracterizar eventual crime de responsabilidade, por atentar contra a lei orçamentĂĄria".

LĂ­der da minoria na Câmara, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) enviou uma representação à presidente do TCU, ministra Ana Arraes.

No texto, o deputado pede que a Corte instaure uma auditoria para apurar todas as circunstâncias denunciadas pela reportagem e eventuais responsabilidades.

Na representação, Freixo lembra que os 513 deputados e 81 senadores tĂȘm direito a indicar, no mĂĄximo, R$ 8 milhões em emendas por ano, além dos R$ 8 milhões que vão necessariamente para a saĂșde.

"No entanto, os parlamentares que apoiaram os candidatos do governo nas eleições para as presidĂȘncias das casas do Congresso Nacional conseguiram expandir o poder de direcionar gastos do orçamento", argumenta.

Ele afirma, ainda, que as possĂ­veis ilegalidades apontadas pela reportagem de "O Estado de S. Paulo" não se deram "apenas no âmbito do desvio de finalidade na utilização de verbas pĂșblicas. HĂĄ também superfaturamento na compra de produtos agrĂ­colas".

A bancada do PSOL na Câmara dos Deputados ingressou com representação no Ministério PĂșblico Federal (MPF) contra o presidente Jair Bolsonaro, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e o diretor-presidente da Codevasf, Marcelo Pinto.

Os deputados do PSOL argumentam que a reportagem revela um "esquema que atropela leis orçamentĂĄrias, regras legais e a Constituição Federal".

"Para além disso, tem o objetivo de dificultar o controle do Tribunal de Contas da União (TCU) e da própria sociedade. Contrariando princĂ­pios administrativos consagrados, os acordos para direcionar o dinheiro não são pĂșblicos e não tĂȘm transparĂȘncia", diz a representação.

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Ministério contesta

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional contesta a reportagem. A pasta afirma que é do Congresso a prerrogativa de indicar recursos da chamada emenda de relator-geral do orçamento. Essas emendas são indicadas no processo orçamentĂĄrio com o código RP9.

"O RP 9 foi criado por iniciativa do Congresso Nacional em 2019, e não pelo Executivo, como erroneamente tenta afirmar a manchete do jornal. A reportagem teve acesso, por exemplo, aos ofĂ­cios de parlamentares da oposição que tiveram indicações contempladas dentro do RP9, mas preferiu omiti-los, divulgando apenas os da base aliada e deste ministério", diz o ministério.

Sobre o possĂ­vel superfaturamento, o MDR afirma que a planilha de valores dos equipamentos agrĂ­colas adquiridos, à qual a reportagem teve acesso, foi "elaborada com base em pesquisas de preços realizadas em 2019, é apenas uma referĂȘncia para a apresentação de propostas e não considera as especificações dos equipamentos, a marca e os itens disponĂ­veis, fatores que podem alterar o custo final".

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Fonte: G1

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