Diferencial de Ceni é a coragem

Por Redação em 11/05/2021 às 03:18:43

Na comparação com 2019, Fla é menos seguro, o que valoriza a atual ousadia do time O Flamengo de hoje não é o de 2019. Não mesmo. Mas, depois de 2019, o Flamengo de hoje é o que está mais perto daquele. No ano passado, mesmo quando Jorge Jesus estava, a torcida rubro-negra andava cabreira, achando que o time deveria ter ganho o Estadual de maneira mais tranquila. Com Domenec Torrent o time tinha consistência ofensiva mas pulverizou a segurança na marcação que o Flamengo tinha com Jesus. E Ceni, até janeiro, não inspirava confiança, ganhava jogos aos trancos e barrancos. Nem o segundo título brasileiro consecutivo empolgou.

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O Flamengo de Ceni jamais será igual ao de Jesus. A começar pelo fato de que o português tinha Pablo Mari, um baita zagueiro, que se colocava bem, bom no alto, e principalmente com uma saída de bola espetacular. Jesus, histriônico, exigia o limite dos jogadores e isso levava o Flamengo ao limite ofensivo e defensivo. Do meio para a frente, era irresistível porque os meias e atacantes partiam seguros de que, se perdessem a bola, o Flamengo tinha como se defender. Ceni, por seu turno, ainda busca um parceiro convincente para Rodrigo Caio. Está vendo, embora não vá admitir, que Isla não é Rafinha. Então, qual é a marca do treinador, que faz com que o Flamengo tenha acalmado a torcida e começado a reconquistá-la?

A coragem. Ceni, sem comparações, faz no Flamengo o que Zagallo fez com a Seleção em 1970: coloca os 11 melhores em campo e trata de arrumar um esquema para eles. Arão virou zagueiro. Gérson e Diego são os marcadores do meio. Para fazer isso é preciso coragem. Se a máxima de Jorge Jesus era atacar e marcar no limite, e sofrer menos gols do que fazia, Ceni arrisca-se a levar gols e tenta marcar mais do que o oponente.

Não creio que o faça de caso pensado. Faz porque não tem zagueiros em quantidade para montar um sistema seguro. Faz porque não tem o temperamento para dar soco na mesa e fazer os jogadores correrem até o fim de todos os jogos. Sabe que tem elenco para ser o melhor do Brasil. E levando gols como inevitavelmente leva, o único jeito de ser de novo o melhor do Brasil é fazendo muitos gols. Contra o Palmeiras, quando começou a virar o jogo com a torcida, Ceni tentou até o fim ganhar o jogo sem ir aos pênaltis - e foi corajoso a abrir mão de bons batedores em troca do que acreditava poderia levar à conquista nos 90 minutos.

Ceni foi também cirúrgico na relação com Gabigol. É claro que hoje o maior ídolo recente da história do clube trabalha por ele. Empenha-se, faz gols, busca marcas, dá passes para os companheiros, pede para jogar todos os jogos. Ao fazer isso, obriga os companheiros a não deixar também a peteca cair - era a lógica de Zico ao explicar o efeito de dar carrinho e marcar: "Os mais jovens não têm como não dar carrinho depois de verem o Zico dar carrinho."

Não é mero acaso que a estratégia de atacar sempre e defender se possível, que reservas de ataque - como Pedro, Vitinho e Michael - estejam "recuperados" ou, no caso de Pedro, jogando bola de titular, enquanto outros da retaguarda, como Renê, Léo Pereira, Gustavo Henrique, Hugo Souza, vivam um momento muito difícil. Não é mero acaso que ele tenha sido o maior goleiro da história do São Paulo, ou seja, alguém que defendia, em paralelo a ser artilheiro - ou seja, alguém que contra a lógica de sua posição, atacava.

Ceni vai se revelando também um profissional de sorte. O Flamengo começa a colher frutos de um belo planejamento para o início da temporada - férias, descanso, volta para faturar a Supercopa do Brasil, sub-20 + Maurício de Souza no início do Estadual, titulares jogando com coragem na Libertadores - o melhor início de competição de sua história - mescla ideal na reta final do Estadual. Só que em 47 acompanhando futebol de perto, já vi muitos planejamentos "perfeitos" desmontarem num pênalti perdido, num frango do goleiro, numa hesitação da zaga, numa fomeagem de atacante. Ceni juntou competência com sorte.

O Flamengo pode não ganhar mais nenhum título este ano - afinal, é uma temporada que ainda será caótica por causa da pandemia, e porque há adversários de muita qualidade como Palmeiras, São Paulo, Internacional, Grêmio e Atlético-MG. Mas, se continuar fazendo o Flamengo ser sinônimo de ousadia, de topete, umazinha (ou Brasileiro, ou Copa do Brasil, ou Libertadores) Ceni vai faturar. E pode reivindicar o apelido que remete aos protagonistas da velha novela de 1973: Rogério Coragem.

Fonte: Globo Esporte/G1

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