Tecnologia é bem-vinda, mas não deve ser único instrumento na educação, afirmam especialistas

Por Redação em 20/01/2022 às 14:50:52

O uso da tecnologia nas escolas é uma importante ferramenta de educação, mas não deve ser o único instrumento no processo de transmissão de conhecimento, defenderam especialistas na Live do Valor dessa quinta-feira (20). "Devemos evitar uma postura de deslumbramento diante da tecnologia, como se fosse a panaceia para todos os problemas. A tecnologia por tecnologia não garante aprendizado ou inovação", disse a educadora Gina Vieira Ponte, que participou do debate.

Já a formação e o conteúdo acadêmico não deveriam se destinar apenas a municiar alunos para provas e garantir aprovação, argumentou a estudante Ana Júlia Carvalho. Para ela, o ensino deveria ser mais humanizado e considerar as aptidões individuais. Além disso, a jovem de 18 anos defendeu que os alunos sejam incentivados a buscar o empreendedorismo.

"Há diversas pessoas com graduação e pós graduação sofrendo sem emprego ou sem retorno suficiente. O empreendedorismo é uma estratégia para sair dessa realidade."

Entrevistadas na Live do Valor, Ana Júlia Carvalho e Gina Vieira Ponte abordam o acesso ao conhecimento e as tecnologias como meios de inclusão

Reproducao/Valor

Gina Vieira Ponte defendeu, contudo, que o sentido da educação não é de apenas instrumentalizar o aluno para o mercado de trabalho, mas trata de um processo muito mais complexo. Assim, a visão empreendedora deveria ser apenas uma das que devem ser apresentadas aos jovens.

"Não podemos abrir mão do pensamento criativo, sociológico, filosófico. É importante que a escola discuta o empreendedorismo, mas em que termos a discussão será feita? Em que perspectiva?", observou a educadora, que tem experiência de mais de 30 anos com educação básica no Distrito Federal.

Para a professora, as pessoas estão sendo arrastadas pela lógica do êxito individual, quando são necessárias políticas públicas que combatam desigualdades.

Já Ana Júlia acredita que a inovação também pode ajudar a mudar realidades de forma coletiva, para ajudar a solucionar os problemas do país. "Eu acho que precisamos começar a fazer algo, iniciar projetos como os da Gina. Podem ser coisas menores, qualquer ação pode fazer acontecer", afirmou.

Gina Vieira Ponte é autora do Projeto Mulheres Inspiradoras, agraciado com 14 prêmios, entre eles o I Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos. Ana Júlia recebeu o prêmio Top 10 do Global Student Prize e desenvolveu um Aerador Sustentável – mecanismo para aumentar a produção de leite em áreas de subsistência, oxigenando a água do gado com energia eólica.

Nesse momento, ela trabalha em conjunto à Secretaria de Educação de Maceió para iniciar o ensino da robótica em escolas públicas. Como as crianças e jovens acabam assistindo muitos vídeos pelo Youtube, a proposta de Ana Júlia é desenvolver conteúdo educacional criativo e que aumente o engajamento dos estudantes em conjunto com o material de robótica.

"Os conteúdos precisam ser mais engajadores, não estão sendo explorados da maneira correta. O ensino muitas vezes é passado de uma forma difícil. A pessoa que está adquirindo o conhecimento não está no mesmo nível de quem está ensinando. O conteúdo poderia ser mais simples e com o tempo integrar as informações mais difíceis", afirmou.

Gina observou, no entanto, que a desigualdade social do país impede que muitos estudantes tenham acesso a um tablet, smartphone, computador. "A internet ainda é muito cara no Brasil. Até chegarmos a uma plataforma virtual [de educação], há um árduo caminho a se percorrer."

Mesmo Ana Júlia, estudante do ensino privado, reconhece que em seu colégio, durante a pandemia, havia turmas em que apenas um estudante tinha um computador em casa. Além disso, lembrou Gina, os principais indicadores sociais no Brasil estão relacionados à população negra.

"As desigualdades foram sistematicamente produzidas pelo próprio Estado", disse ela, lembrando que ao longo dos séculos, os negros não foram apenas escravizados e marginalizados, mas também foram criadas leis que proibiram o acesso dos afrodescendentes às terras para plantar e o incentivo à uma educação eugenista.

"Quem ocupa a nossa elite econômica é branca, o Senado é branco, a Câmara [dos Deputados] é branca. Todas as pesquisas educacionais no pós-pandemia precisam trazer recortes raciais, de gênero, sociais. Precisamos pensar em políticas para sanar essas dificuldades", defendeu.

Durante a pandemia, muitas crianças de famílias que perderam emprego e renda foram obrigadas a trabalhar para ajudar no orçamento doméstico. "Uma tarefa das escolas é não permitir que nenhuma criança fique fora da sala de aula", ressaltou Gina Vieira Ponte.

Fonte: Valor Econômico

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