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Especialistas avaliam que criação das federações e fim das coligações fizeram com que partidos mudassem estratégia para registrar candidatos nesta eleição. Nova urna eletrônica que será usada no Brasil em 2022Antonio Augusto/Secom/TSEO PL (antigo PR) foi o partido que mais registrou candidaturas para as eleições de 2022, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A atual legenda do presidente Jair Bolsonaro passou de 721 candidatos, em 2018, para 1.591 neste ano, somados todos os cargos da disputa. O valor representa aumento de 120%.Até esta quinta-feira (25), o TSE já havia contabilizado mais de 28,8 mil candidaturas no total, valor inferior aos 29 mil de 2018. Os registros ainda serão analisados antes de serem deferidos ou indeferidos.Em 2018, o partido que apresentou mais candidatos havia sido o PSL, com 1.543 (destes, 1.454 foram considerados aptos). A legenda se fundiu ao DEM, criando o União Brasil, que lançou 1.500 candidaturas neste ano. O União Brasil ocupa o segundo lugar entre os partidos com mais candidatos (veja o ranking abaixo).O PT do ex-presidente Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto no primeiro turno, lançou individualmente duzentos candidatos a menos nesta eleição. No entanto, como o partido está em uma federação junto com PV e PC do B, a soma dos três deve ser equivalente à de um só partido. De acordo com a lei eleitoral, o limite de cada legenda para lançamento a cargos proporcionais é equivalente a 100% do número de vagas disponíveis mais um. Ou seja, se houver 70 vagas para deputado federal, caso de São Paulo, um partido pode lançar 71 candidatos.Os partidos de direita lideram a lista dos que mais ganharam candidatos no comparativo entre eleições, com exceção de Patriota, Podemos e União, que estão entre os que mais perderam candidatos. Já os partidos de esquerda que se uniram em federações tiveram enxugamento de quadros (veja o ranking abaixo). Mudança nas regrasSegundo especialistas ouvidos pelo g1, mudanças nas regras eleitorais como a criação de federações, a cláusula de barreira (desempenho) e o fim das coligações obrigaram as legendas a pensar em novas estratégias para o pleito de 2022. “Existem dois movimentos interessantes. O que tem a ver com aglutinação de partidos, com as minirreformas, e outro que acontece porque o partido do presidente e os partidos satélite que o apoiam acabam crescendo. Isso pode ser percebido nos quadros bolsonaristas do PSL, que migraram para o PL", diz o cientista político e professor do Insper Leandro Consentino.Ao contrário de 2018, esta eleição não terá coligações para os cargos proporcionais (deputados distritais, estaduais e federais). Também será mais rígida a cláusula de barreira que determina o desempenho mínimo de cada partido para ter acesso ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV, além dos recursos do fundo partidário.ENTENDA o que é a cláusula de barreira“Parte da mudança dos quadros é explicada pela cláusula de desempenho. Alguns partidos conseguiram ler o desastre [de não alcançar o mínimo] antes de acontecer, e as federações foram uma estratégia para evitar isso”, afirma Consentino.Partidos que mais perderam candidatosO PC do B foi o partido que mais perdeu candidatos entre as duas últimas disputas gerais, com 85% candidatos a menos. Em 2019, se fundiu ao PPL para superar a cláusula de barreira. Neste ano, disputará ao lado do PT e PV em uma federação partidária. “O PC do B é um partido pequeno. Na medida em que agora sairá ao lado do PT em uma aliança nacional, não faz sentido lançar tantos candidatos. O partido pode se dar ao luxo de ser mais cirúrgico no lançamento de seus candidatos. Muda o jogo, muda a estratégia”, diz o cientista político e professor da FGV George Avelino. Na avaliação de Consentino, um fato que pode explicar a queda do PT no ranking geral de partidos que mais lançam candidatos é um possível enfraquecimento regional. “O lançamento dessas candidaturas [a deputado] se apoia muito no cenário local, e o PT tem sofrido uma grande queda nas prefeituras. Então isso pode ter a ver com esse cenário adverso no local. Embora o PT tenha um grande nome nacional, que lidera as pesquisas, ainda enfrenta problema nas bases”, diz o professor do Insper.Já o PSDB, que enfrentou uma crise interna que culminou com o não lançamento de um candidato próprio à Presidência da República, não apresentou muita alteração no número de candidatos entre 2018 e 2022. “O PSDB está fazendo algo semelhante ao que ocorre com o MDB. Como tem muito diretório, está lançando muito candidato. Já que não tem chance majoritária, usa sua estrutura para lançar para o legislativo”, diz Avelino.Para o professor da FGV, o enxugamento do quadro partidário deverá ser sentido de forma mais robusta nas eleições 2026.“O fim das coligações obriga quem não está federado a "fusões e aquisições" entre 2022 e 2026. Tem gente que já sabe que não tem força, mas tem gente que ainda está na dúvida e fará um teste nestas eleições. Já em 2026, vamos ter um quadro mais enxuto, porque com a cláusula de barreira não vai mais ter dinheiro”, afirma Avelino.