Nomeado em praça pública, Flávio Dino é o único nome certo para ministério de Lula

Por Redação em 31/10/2022 às 19:08:55

Sinais de que tudo é muito embrionário vêm do fato de que nem mesmo a equipe de transição está definida “O único ministro já definido é Flavio Dino porque Lula o nomeou em praça pública”. Acossado pelas ansiedades em torno do ministério, este coordenador da campanha lembra o comício do ex-presidente em São Luís, em 2 de setembro, quando ele olhou para o candidato que se elegeria senador pelo PSB do Maranhão e disse: “Flavio Dino que se prepare. Vai ser eleito senador, mas não será senador muito tempo porque vai ter muita tarefa nesse país”.

Sua experiência como juiz de carreira o empurra para a Justiça e, como governador, para a Casa Civil, mas Lula se limitou a qualificar sua passagem pelo Palácio dos Leões: “O genocida o chama de governador gordão e eu te chamo de governador mais competente que temos no país”.

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Tirando Dino, que não estava no palanque da Avenida Paulista na noite do domingo - ficou no Maranhão cuidando da eleição no Estado que deu 71,1% dos votos a Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno - Lula não tem ministro nomeado. E nem terá até sexta-feira, quando o ex-presidente volta de uma viagem a Bahia, onde vai descansar e prestar homenagem à votação que teve no Nordeste. Naquele Estado, em que Lula teve 72,1% dos votos, o PT completará, com a eleição de Jerônimo Rodrigues, 20 anos no poder.

As especulações são livres, algumas delas calçadas no prestígio que adquiriram ao longo da campanha, como a senadora Simone Tebet (MDB), ou na proximidade desfrutada junto ao presidente eleito, como Fernando Haddad, que deu ao PT o melhor desempenho da história do partido na disputa pelo governo do Estado, com 44,7% e é responsável pela aproximação entre Geraldo Alckmin e Lula.

É natural que Marina Silva, que negociou sua adesão á candidatura mediante a criação de uma Autoridade Climática, a acompanhar a gestão da política ambiental do governo, seja cotada para o cargo, mas não há sinais de que as gestões de ex-diretores da gestão Henrique Meirelles no Banco Central, hoje bem postos no mercado financeiro, tenham acolhida definitiva de Lula. Até porque são gestões para que o ex-colaborador petista vá, não para a Economia, mas para o Itamaraty.

Os sinais de que tudo é muito embrionário vêm do fato de que nem mesmo a equipe de transição está definida. Só o será quando o ex-presidente voltar da Bahia. Ainda que o presidente eleito se apressasse, não há garantia de que o atual nomeasse os indicados, visto que nem o resultado a eleição reconheceu. Da família, o único a fazê-lo, até agora, foi o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ).

Pelo papel que teve na campanha, Aloizio Mercadante é apontado como o candidato natural a montar esta transição. Embora negue, é ele quem tem se movimentado, ao lado da ex-ministra Miriam Belchior, junto a instituições como o Tribunal de Contas da União pela garantia de acesso aos dados que possam pavimentar a montagem do próximo governo.

O tema foi discutido ontem, em maio a uma agenda que ainda teve um encontro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e telefonemas de chefes de Estado, como Emmanuel Macron (França) e Joe Biden (EUA).

O vice-presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, soltou uma ordem de serviço nomeando os ministros Vital do Rego, Antonio Anastasia e Jorge Oliveira para integrar o comitê a ser coordenado por ele para garantir o acesso da equipe de transição aos grandes bancos de dados da União: Dataprev, Serpro e Receita Federal.

Embora os despachos passem pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a presidente da Caixa Econômica Federal, Daniela Marques, que recuou na concessão do crédito consignado do Auxílio Brasil a tempo de não se indispor com as instituições de controle e com o próximo governo, é uma das possíveis interlocutoras da equipe de transição.

Mais do que o bloqueio das estradas, é o do Orçamento que preocupa o presidente eleito. Com a adesão do presidente da Câmara, Arthur Lira, a Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ficou mais livre para negociar, ao longo dos últimos meses, um modelo que livre a União da trava representada pelos R$ 19 bilhões das emendas de relator.

Neste modelo, a verba desta rubrica, no patamar de R$ 1 bilhão, voltaria a ser destinada a ajustes de investimentos e as emendas individuais retomariam sua condição de principal instrumento de intervenção parlamentar no Orçamento. Na negociação entre a ministra Rosa Weber, relatora no Supremo Tribunal Federal, Pacheco e a equipe de transição, ainda vai se tentar forçar uma elevação no valor das emendas individuais para compensar a desidratação do orçamento secreto. Com este papel, Pacheco encontraria uma avenida para pavimentar sua permanência no cargo, ameaçada pelo crescimento da bancada do PL no Senado.

Se o orçamento secreto preocupa pelo potencial de desagrado aos parlamentares, o problema número 1 do governo eleito é fazer caber na peça orçamentária que já está no Congresso as promessas de campanha, como a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600 (com o adicional de R$ 150 por criança de até 6 anos), que tem um custo anual de R$ 70 bilhões, além da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a prorrogação do corte de impostos federais sobre combustíveis.

Da negociação com o Congresso depende não apenas a viabilidade da execução dessas promessas como a própria aprovação do orçamento para evitar que Lula, empossado, seja obrigado a governar com os duodécimos da peça orçamentária.

A despeito de a questão estar no âmbito do Executivo, auxiliares de Lula já se mobilizaram na tentativa de garantir a contenção do movimento dos caminhoneiros. A preocupação é de que este movimento seja o prenúncio de outros tantos que estão por vir. A convicção é de que a base bolsonarista não vai assistir à transição de braços cruzados, muito embora os aliados de Lula não pretendam gastar energia com um tema que acreditar ser da alçada dos poderes constituídos e não daqueles que ainda estão por ser empossados.

A única certeza é de que o golpismo bolsonarista gorou. “A bomba do Riocentro explodiu antes no colo dele”, define um petista que descrê numa contestação expressiva do resultado das eleições. O plural também se aplicaria na frase, haja vista a sucessão de iniciativas – o tiroteio de Roberto Jefferson, a denúncia das inserções de rádio e os bloqueios nas estradas no domingo.

Bolsonaro se mostrou mais eficaz como candidato do que como golpista. Ele ganhou mais votos (7,1 milhões) que Lula ( 3 milhões) no segundo turno, mas não conseguiu emplacar nenhuma das tentativas de tumultuar a eleição. A despeito dos bloqueios de rodovia, iniciados na noite de ontem, este aliado vê, nos fracassos acumulados, uma indicação de que o bolsonarismo “perdeu a narrativa da contestação”.

Flávio Dino, ex-governador e senador eleito pelo Maranhão

Denio Simoes/Valor

Fonte: Valor Econômico

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