Ex-deputado Tony Garcia detalha articulação de impeachment de Dilma: "Foi como uma conversa de botequim"

O ex-deputado estadual do Paraná e empresário Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia, detalhou o modo do foi articulado o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que perdeu o seu cargo no dia 31 de agosto de 2016.

Por Redação em 17/01/2024 às 16:40:17

Foto: Reprodução internet

O ex-deputado estadual do Paraná e empresário Antônio Celso Garcia, conhecido como Tony Garcia, detalhou o modo do foi articulado o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que perdeu o seu cargo no dia 31 de agosto de 2016. "Foi como em uma conversa de botequim".

Em entrevista à ISTOÉ, Tony Garcia explicou que conhecia de longa data o ex-deputado federal Valdir Rossoni (PSDB-PR). "Como eu era próximo do então presidente da Câmara Eduardo Cunha, ele entrou em contato comigo para fazer a intermediação entre os dois", acrescentou.

"Eu fui procurado por volta das 14h10 (do dia 2 de dezembro de 2015) pelo Valdir Rossoni. Ele escreveu, por meio do WhatsApp, que havia acabado de sair de um almoço na casa do Aécio Neves, onde também estavam o deputado federal Carlos Sampaio, então líder do PSDB na Câmara, e outros quatro ou cinco parlamentares", completou.

Na época, segundo o empresário, já havia o risco de Eduardo Cunha ter o seu mandato cassado pelo Conselho de Ética da Câmara.

"O Valdir pediu para eu passar o recado ao Cunha de que, se ele colocasse o processo de impeachment da Dilma no plenário naquele mesmo dia, o PSDB daria dois votos contrários na ação de cassação. Foi um ato de barganha, toma lá dá cá", afirmou.

Ainda de acordo com o empresário, Eduardo teria confirmado o suposto esquema com Carlos Sampaio e iria decidir o que faria. "Algumas horas depois, pergunto para ele: 'Você vai ou não levar o processo de impeachment para o plenário?' E ele me respondeu: 'Eu já decidi', Então questionei: Monocraticamente'. O Eduardo afirmou: 'Sim'".

Cerca de quatro horas depois, no mesmo dia 2 de dezembro, Eduardo Cunha anuncia no plenário da Câmara que acolheu o pedido do jurista Hélio Bicudo para o impeachment de Dilma Rousseff, que teria cometido as chamadas "peladas fiscais", manobras de atrasar os repasses a bancos públicos a fim de cumprir as metas parciais da previsão orçamentária.

Porém, em 2022, o MPF (Ministério Público Federal) arquivou o inquérito civil de "pedaladas fiscais" contra a ex-presidente.

"Ao tomar a decisão monocrática, Eduardo Cunha pegou todo o louro do caso para si, e eu disse para ele que a vaidade o prejudicou, pois colocou todo o PT contra ele junto aos companheiros do plenário", afirmou Tony Garcia.

"Depois, o Rossoni me escreveu: 'Que confusão a gente fez. Se eles imaginassem que nós dois fizemos essa confusão. E eu respondi: "Nós dois não, fui apenas o mensageiro. Quem fez a confusão foi o Eduardo Cunha", ressaltou.

Segundo o empresário, ainda havia o plano de realizar um jantar na casa do então vice-presidente, Michel Temer (MDB), no qual Eduardo Cunha iria levar Valdir Rossoni e apresentá-lo como uma das pessoas que articulou o processo de impeachment.

"Antes do jantar, o Rossoni me ligou e pediu para encontrá-lo e levá-lo no meu carro até o aeroporto de Curitiba, pois ele iria para Brasília. Durante o trajeto, ele afirmou que a atitude monocrática de Eduardo Cunha não foi bem vista pelo partido, que o estava pressionando. Em um determinado momento, ele disse: 'Você não acha que o meu voto (contra a cassação de Cunha) vale R$ 5 milhões. Você tem até o período da noite para falar com o Cunha e me informar se aceita ou não. Caso contrário, não aparecerei no jantar'. Eu fiquei estampado e contatei Eduardo Cunha para relatar o que havia acontecido, e ele recusou a proposta", afirmou.

"Então, no dia da votação da cassação, o Rossoni apareceu na primeira fila segurando uma placa com os dizeres: 'Fora, Cunha'", completou.

No dia 13 de setembro de 2016, Eduardo Cunha perdeu o seu mandato por 450 votos favoráveis e 11 contrários. Em outubro do mesmo ano, ele foi preso pela PF (Polícia Federal) no âmbito da Operação Lava-Jato e, no ano de 2020, sentenciado pela Justiça Federal a quase 16 anos de detenção pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em março de 2020, a Justiça Federal autorizou que o ex-deputado federal fosse para a prisão domiciliar por conta da pandemia de Covid-19. No mês de maio de 2023, a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a condenação dele.

Na época em que ocorreu o processo de impeachment, Dilma chegou a afirmar ao portal do PT que "a base do pedido e das propostas do presidente da Câmara é o PSDB, sempre foi. Ou alguém aqui desconhece esse fato? Porque se não fica uma coisa meio hipócrita da nossa parte. Nós fingimos que não sabemos disso".

A ISTOÉ entrou em contato com todos os citados por Tony Garcia, mas não obteve resposta até o momento. O espaço permanece aberto para futuras manifestações.

Fonte: Isto É

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