Mercado não gostou da notícia de que o presidente Lula demitiu Jean Paul Prates do comando da companhia e as ações despencam mais de 6%. Edifício-sede da Petrobras, no centro do Rio
Marcos Serra Lima/g1
A Petrobras já perdeu R$ 35,3 bilhões em valor de mercado até às 12h desta quarta-feira (15), após o anúncio de que Jean Paul Prates foi demitido da presidência da Petrobras.
O desligamento de Prates, feito pessoalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula a Silva (PT) na noite de terça-feira (14), acontece pouco tempo depois das polêmicas sobre a distribuição de dividendos da companhia (entenda mais abaixo).
Esse montante equivale ao valor total das ações da Equatorial Energia, por exemplo, segundo levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.
As ações ordinárias da Petrobras, que são as que dão direito a voto nas decisões da companhia, despencavam 6,73% às 12h25. Já as ações preferenciais, que são preferência no recebimento de dividendos, caíam 5,77%.
Conflitos na Petrobras e visão do mercado
O grande destaque deste pregão fica com a Petrobras, após a companhia informar que Jean Paul Prates foi demitido da presidência na noite desta terça-feira.
Segundo fontes confirmaram ao blog da Natuza Nery, o presidente Lula decidiu pela demissão de Prates já há algum tempo após uma sequência de desentendimentos com o governo, principalmente por conta da polêmica da distribuição de dividendos extras pela petroleira. Entenda o caso na matéria abaixo:
Petrobras: entenda a polêmica dos dividendos
O agora ex-presidente da Petrobras não se entendia com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, havia muito tempo.
De acordo com o blog da Andréia Sadi, Prates citou "intrigas palacianas" após ser demitido. O argumento usado é o de que Jean Paul não estaria entregando resultados da Petrobras na velocidade em que o governo esperava. Ao blog, Jean disse que respeita a decisão, mas afirmou que não pode deixar de dizer que presidente foi levado a adotar a medida por uma intriga palaciana.
Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos, comentou que o mercado foi pego de surpresa com a notícia, já que os conflitos de Prates com o governo pareciam ter ficado no passado.
Para o analista, a notícia é negativa, principalmente porque a possível substituta, Magda Chambriard, é uma executiva com um "viés ideológico mais próximo do desenvolvimentismo".
"Eu avalio como bastante negativa primeiro porque traz uma falta de credibilidade, insegurança. Eu acho que é desnecessário porque o Jean Paul Prates estava fazendo um trabalho bem razoável, era um cara bem ponderado que vem do setor, que conhece o setor, que conhece a empresa. É um cara que fazia uma gestão bem tranquila e tinha um diálogo com o mercado e também com representantes do governo", pontuou.
O chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares, tem um ponto de vista diferente. Para ele, a indicação de Magda não é negativa, tendo em vista que ela é uma profissional com uma "parte técnica muito boa" e de uma "carreira bem sucedida", sendo a indicação "bastante adequada".
"A gente acredita que a notícia (da demissão) é ruim, mas não muito ruim. Então o papel deve cair, mas sem tanto pessimismo", afirmou Soares.
Em relatório a clientes, os analistas do BTG Pactual afirmaram que apesar de a notícia ter sido especulada no início deste ano, a mudança repentina foi considerada "surpreendente" e negativa. A estimativa é que os investidores comecem, mais uma vez, a "precificar riscos maiores de interferência política na empresa".
"Neste momento, podemos apenas especular sobre as razões que podem ter motivado a decisão de substituir Jean Paul Prates. Mas é possível que isso decorra de alguma insatisfação do acionista controlador sobre o ritmo de investimentos da empresa", disseram os analistas do BTG no documento.