Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral realizam, nesta quarta-feira (29), uma homenagem ao ministro Alexandre de Moraes, presidente da Corte Eleitoral. Moraes deixa Justiça Eleitoral no próximo dia 3 de junho.
Atual vice-presidente, ministra CĂĄrmen LĂșcia serĂĄ a presidente do tribunal durante as eleições municipais. Ela foi eleita no dia 7 de maio, junto com o novo vice-presidente, ministro Nunes Marques. Os dois tomam posse no comando do TSE também no dia 3 de junho.
Pela tradição, a atual vice-presidente deve assumir o comando da Corte por ordem de antiguidade dos ministros do STF que ocupam cadeiras no Tribunal.
Pela Constituição, a participação dos magistrados na Justiça Eleitoral é temporĂĄria: eles ocupam cargos por, no mĂnimo, dois anos, renovĂĄveis por mais dois.
No caso dos ministros do TSE, é possĂvel que cada um fique por dois biĂȘnios (quatro anos) como ministro substituto e outros dois biĂȘnios como ministro efetivo. Moraes continua como ministro do Supremo Tribunal Federal.
O que disseram os ministros do TSE
Durante discurso, CĂĄrmen LĂșcia afirmou que Moraes possui "compromisso com o interesse pĂșblico democrĂĄtico".
"Principalmente nesses momentos mais recentes que vivemos, em que corria-se risco mesmo a democracia brasileira, o Estado de Direito e a atuação do Tribunal Superior Eleitoral", afirmou.
A ministra também destacou as decisões importantes tomadas pelo TSE sob a presidĂȘncia do ministro. Citou, por exemplo, os esforços no combate à fraude à cota de gĂȘnero.
CĂĄrmen LĂșcia agradeceu a atuação do ministro. Lembrou também que ele volta à Corte Eleitoral posteriormente.
Na sessão, também foi apresentado um vĂdeo com os principais momentos da gestão de Moraes.
Atuação
Moraes iniciou a atuação no TSE em abril de 2017, como ministro substituto. Em 2019, iniciou o segundo biĂȘnio no tribunal na mesma condição.
A posse como ministro efetivo na Corte Eleitoral foi em junho de 2020. Em 2022, ele foi reconduzido na mesma condição.
Em agosto de 2022, Moraes foi eleito presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Coube ao ministro o comando das eleições presidenciais daquele ano, que teve como destaque a disputa entre o então candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, e Luiz InĂĄcio Lula da Silva, atual presidente.
Gestão no comando do TSE
Durante o perĂodo da presidĂȘncia de Moraes, o TSE tomou decisões sobre temas de direito eleitoral. Entre eles:
Desinformação
Em outubro de 2022, a Corte Eleitoral aprovou uma resolução para conferir agilidade para a retirada do ar de fake news sobre o processo eleitoral. A resolução foi validada pelo Supremo Tribunal Federal.
Em fevereiro deste ano, o TSE também consolidou, em resolução, a proibição de propaganda com informação falsa ou descontextualizada, com o objetivo de afetar a integridade do processo eleitoral.
Ainda no esforço do combate ao conteĂșdo falso durante as campanhas, o tribunal inaugurou, no mĂȘs seguinte, um centro integrado para o monitoramento de desinformação.
InteligĂȘncia artificial
No pacote de 12 resoluções, aprovadas em fevereiro deste ano, a Corte Eleitoral fixou regras sobre o uso da inteligĂȘncia artificial na propaganda eleitoral.
Ficou estabelecido, por exemplo, que são proibidos os deepfakes; o eleitor deve ser informado sobre o uso da IA na propaganda eleitoral; restrições no uso de robôs para interação com os eleitores.
Fraude à cota de gĂȘnero
No Ășltimo dia 16, em sessão sob o comando de Moraes, foi aprovada uma sĂșmula que regulamenta a anĂĄlise, pela Justiça Eleitoral, de casos de fraudes à cota de gĂȘnero – obrigação de lançar um percentual mĂnimo de 30% de candidaturas femininas nas eleições.
A sĂșmula funcionarĂĄ como um guia, um entendimento a ser aplicado em casos semelhantes nas instâncias inferiores.
Proibição de armas
Antes das eleições de 2022, o TSE aprovou a proibição do porte de armas em seções eleitorais.
A exceção para a regra são os membros das forças de segurança que estejam a trabalho e sejam requisitados pela autoridade eleitoral a entrar em uma determinada seção.
Por unanimidade, os ministros acompanharam o entendimento do então relator do tema, ministro Ricardo Lewandowski.
Celular nos locais de votação
Também antes da eleição de 2022, o TSE esclareceu que o eleitor deve entregar o celular ou qualquer outro aparelho eletrônico antes de entrar na cabine de votação no dia da eleição. O objetivo da medida é garantir o sigilo do voto.
Além disso, detectores de metais podem ser utilizados em situações excepcionais, avaliadas caso a caso pelo juiz eleitoral.
Os ministros também definiram que o celular não poderĂĄ ser guardado no bolso ou desligado e deverĂĄ ser entregue pelo eleitor antes de acessar à cabine de votação. Depois do voto, o equipamento é devolvido.
Julgamentos
O perĂodo também foi marcado por julgamentos de processos envolvendo polĂticos que disputaram as eleições de 2022.
Em junho do ano passado, o tribunal condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro por abuso de poder polĂtico e uso indevido dos meios de comunicação. O caso envolveu uma reunião de embaixadores em julho de 2022, quando o ex-presidente fez ataques ao sistema eleitoral.
Posteriormente, a Corte Eleitoral aplicou nova inelegibilidade ao polĂtico do PL. Também condenou o candidato a vice, Braga Netto.
Outras trĂȘs ações contra a chapa que concorreu à reeleição foram arquivadas.
O TSE também analisou casos referentes à chapa vencedora na eleição presidencial de 2022. Decidiu rejeitar ações contra o presidente Lula e seu vice, Geraldo Alckmin.
A Corte Eleitoral julgou ainda recursos envolvendo candidatos a cargos do Poder Legislativo.
Em maio de 2023, decidiu invalidar o registro de candidatura do então deputado federal Deltan Dallagnol. Com isso, Dallagnol teve de deixar a Câmara dos Deputados.
Em maio deste ano, manteve a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do ParanĂĄ, que absolveu o senador Sérgio Moro.
Perfil
Alexandre de Moraes nasceu em São Paulo (SP). O ministro se formou em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) em 1990. Ainda na USP, concluiu o doutorado em Direito do Estado em 2000 e obteve a livre-docĂȘncia em Direito Constitucional, em 2001.
Em abril deste ano, foi aprovado como professor titular de Direito Eleitoral da instituição.
Ainda no campo acadĂȘmico, é autor de diversos livros, largamente utilizados por estudantes de direito, com ĂȘnfase nas ĂĄreas do direito constitucional, administrativo e penal. Dentre as obras, destacam-se os tĂtulos "Direito Constitucional", "Constituição do Brasil Interpretada" e "Direitos Humanos Fundamentais".
Antes de ser indicado ao STF, Moraes foi: promotor de Justiça em São Paulo (1991-2002); secretĂĄrio de Justiça de São Paulo (2002-2005); integrante do Conselho Nacional de Justiça (2005-2007); secretĂĄrio municipal de Transportes de São Paulo (2007-2010); secretĂĄrio de Segurança PĂșblica do estado de São Paulo (2015-2016) e ministro da Justiça do governo Michel Temer (2016-2017), além de ter atuado como advogado.