Relembre polêmicas de Ernesto Araújo à frente do Ministério das Relações Exteriores

Por Redação em 30/03/2021 às 05:53:45

Chanceler pediu demissão nesta segunda-feira (29). Substituto será o embaixador Carlos Alberto Franco França. Ernesto Araújo pede demissão; veja polêmicas do ex-ministro

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (29) após pressão de parlamentares, inclusive dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O substituto será o diplomata Carlos Alberto Franco França.

Durante o período em que ocupou o cargo, Araújo deu uma série de declarações polêmicas e foi alvo de críticas pela condução da política externa brasileira, marcada pelo estreitamento das relações com o Estados Unidos durante a presidência de Donald Trump e embates com parceiros comerciais como a China. Confira abaixo:

Entre as principais polêmicas de Ernesto Araújo, estão:

Críticas ao "globalismo"

"Fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda"

Covid-19 e a China

Chefe de estado dos EUA em Roraima

Atraso na entrega de vacinas e insumos

Sem máscara em Israel

Brasil está 'suportando bem' crise da Covid

"Fake News" em redes sociais

Ernesto Araújo, em foto de março de 2021

Adriano Machado/Reuters/Arquivo

Relembre os casos:

Críticas ao "globalismo"

'Não estamos aqui para trabalhar pela ordem global, estamos aqui pelo Brasil', diz Araújo

Em seu discurso de posse, em janeiro de 2019, Araújo fez críticas ao "globalismo" que, para ele, é a "configuração atual do marxismo", da qual o Brasil e o mundo precisariam se libertar.

“Não deixem o 'globalismo' matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o 'globalismo' diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o 'globalismo' quando ele diz que paz significa não lutar”, afirmou.

“Não mergulhemos nesta piscina sem água que é a ordem global. O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para a ordem global”, disse Araújo em seu discurso de posse.

Na ocasião, Araújo ainda citou versos de Renato Russo e Raul Seixas e disse também que o Brasil não pediria permissão à ordem global.

"Fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda"

Em março de 2019, o então ministro disse em uma entrevista em uma rede social que o "fascismo e o nazismo são fenômenos de esquerda". A declaração gerou críticas de historiadores no Brasil e no exterior.

"É uma coisa que eu falo muito e é muito uma tendência da esquerda. Ela pega uma coisa boa, sequestra e perverte, transforma em uma coisa ruim. Acho que é mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Por isso que eu digo também que... quer dizer, isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda, não é?", disse Araújo.

Covid-19 e a China

Em março de 2020, Araújo pediu que o embaixador chinês se retratasse por resposta direcionada ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) após o parlamentar afirmar que a "culpa" pela crise do coronavírus era da China.

"Inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores, como, infelizmente, ocorreu ontem à noite", disse o então ministro.

Araújo afirmou ainda que o governo tinha "a expectativa de uma retratação por sua postagem ofensiva ao chefe de Estado", afirmou.

O texto original da embaixada chinesa não citava Jair Bolsonaro. Era uma resposta a uma publicação do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.

"As críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas também em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro. Cabe lembrar, entretanto, que em nenhum momento ele ofendeu o chefe de Estado chinês", completou Araújo.

O texto de Eduardo era o seguinte: "Quem assistiu (à série) Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução".

Em resposta, também em uma rede social, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, repudiou a publicação do deputado e exigiu um pedido de desculpas.

"As suas palavras são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental que está infectando a amizade entre os nossos povos", escreveu a Embaixada chinesa.

"Lamentavelmente você é uma pessoa sem visão internacional, nem senso comum, sem conhecer a China, nem o mundo. Aconselhamos que não corra para ser o porta-voz dos EUA no Brasil, sob a pena de tropeçar feio", completou.

Chefe de estado dos EUA em Roraima

Em setembro de 2020, Araújo recebeu o então secretário de estado norte-americano, Mike Pompeu, em Roraima. A embaixada americana no Brasil informou que a vinda do secretário teve por objetivo discutir com o chanceler brasileiro a imigração venezuelana na região.

A visita se deu em meio à campanha presidencial nos Estados Unidos e foi objeto de críticas de parlamentares, entre eles, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Para Maia, a conduta do governo brasileiro no episódio não “condiz com a boa prática diplomática internacional” e afronta as políticas brasileiras externa e de defesa.

Após as críticas, Araújo participou de uma sessão da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado e disse que a visita de secretário dos EUA não serviu de plataforma eleitoral para o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

"Foi dito — e talvez seja uma das críticas principais à visita do secretário Mike Pompeo — que ela foi uma plataforma eleitoral para as eleições de novembro nos EUA. Bem, não é assim. Um dos elementos que mostra que não é assim é que existe nos Estados Unidos uma grande convergência entre republicanos e democratas sobre a situação na Venezuela", disse Araújo.

Atraso na entrega de vacinas e insumos

No início de 2021, o Brasil enfrentou problemas para importar insumos para produção de vacinas e doses prontas de imunizantes contra a Covid-19. Na ocasião, Ernesto Araújo disse que o atraso nas negociações do Brasil com Índia e China não foi motivado por problemas políticos e diplomáticos.

"Nós não identificamos nenhum problema de natureza política em relação ao fornecimento desses insumos provenientes da China. [...] Nem nós do Itamaraty, aqui de Brasília nem a nossa embaixada em Pequim nem outras áreas do governo identificaram problemas de natureza política, diplomática", afirmou Araújo.

Na ocasião, fontes diplomáticas chegaram a afirmar à TV Globo que a postura do governo Jair Bolsonaro no cenário internacional foi um dos fatores do atraso nos trâmites comerciais.

Sem máscara em Israel

Ernesto Araújo é repreendido por não usar máscara em evento em Israel

Em março de 2021, Ernesto Araújo foi repreendido por não usar máscara em um evento oficial em Israel para conhecer testes preliminares de uma droga contra a Covid-19.

Ao fim da entrevista, o mestre de cerimônias chama as duas autoridades para bater a foto oficial. Ernesto vai ao encontro do ministro israelense, Gabi Ashkenazi, este já de máscara, momento em que foi repreendido pelo apresentador: "Nós precisamos que coloque a máscara".

Brasil está 'suportando bem' crise da Covid

Apesar da lotação nas utis em todo o país, Ernesto Araújo disse que o sistema está aguentando bem

Durante uma audiência de membros do Conselho das Américas, o então ministro das Relações Exteriores disse que, apesar da falta de UTIs em "alguns estados", o Brasil estava 'suportando bem' a crise da Covid-19.

"O sistema de saúde está, claro, sob estresse, mas está conseguindo suportar bem. Tem falta de UTI em alguns estados, mas, no geral, o sistema está suportando bem", disse o ministro.

Na ocasião, segundo balanço do consórcio de veículos de imprensa, o Brasil contabilizava 10.796.506 casos e 261.188 óbitos por Covid-19, destes, 1.786 nas últimas 24 horas.

"Fake News" em redes sociais

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), apontou 'fake news' em uma mensagem publicada por Ernesto Araújo em redes sociais sobre atribuição de governos na pandemia.

O comentário de Araújo foi feito em inglês junto a um trecho da reportagem do canal de TV norte-americano CNN em que dois comentaristas apontam razões para o avanço da Covid-19 no país.

"A CNN entendeu tudo errado sobre Brasil e Covid", disse o ministro na rede social. Em seguida, ele começa a listar pontos, entre eles que:

"Depois de decisão da Suprema Corte de abril de 2020, governadores - não o presidente - têm, na prática, toda a autoridade para estabelecer e administrar todas as medidas de distanciamento social."

Pela mesma rede social e também em inglês, o ministro Gilmar Mendes respondeu a Araújo e disse que a afirmação feita pelo ministro das Relações Exteriores sobre a decisão do STF era uma “fake news”, ou seja, informação falsa.

"FAKE NEWS! Aqui está o fato real: a Suprema Corte brasileira decidiu que as administrações federal, estaduais e municipais têm a autoridade para adotar medidas de distanciamento social. Todos os níveis de governo são responsáveis pelo desastre que estamos enfrentando", afirmou Mendes.

VÍDEOS: Notícias sobre política

Fonte: G1

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