Tradicionalmente, presidente brasileiro é o primeiro a discursar entre os lĂderes de Estado no mais importante evento multilateral do ano. Bolsonaro, no entanto, afirma não estar vacinado, o que pode ser impeditivo Bolsonaro na gravação de seu discurso à Assembleia Geral da ONU em setembro de 2020; fato de presidente não ter se vacinado contra Covid-19 pode impedir sua participação presencial no evento deste ano
PresidĂȘncia da RepĂșblica
Os Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) devem deliberar nesta quinta-feira (16) se exigirão que todos os presentes à Assembleia-Geral do órgão, na próxima semana, apresentem comprovantes de vacinação contra a Covid-19 para serem admitidos ao prédio da ONU, em Nova York.
Caso decidam pela obrigatoriedade da imunização, isso poderia barrar a participação do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que oficialmente não estĂĄ vacinado. Tradicionalmente, o chefe de Estado brasileiro faz o primeiro discurso entre os lĂderes no evento, marcado para o próximo dia 21.
HĂĄ dois dias, em conversa com apoiadores em frente ao PalĂĄcio da Alvorada, Bolsonaro voltou a repetir que não havia tomado imunizantes contra a doença, que jĂĄ matou 580 mil brasileiros. Ele citou um suposto resultado do exame IGG, que mede a quantidade de anticorpos para uma dada doença no corpo, como justificativa para não ter se vacinado.
"Eu não tomei vacina, estou com 991 (nĂvel do IGG). Eu acho que eu peguei de novo (o vĂrus) e nem fiquei sabendo", afirmou Bolsonaro.
Inicialmente, a Assembleia-Geral da ONU cogitou aceitar que autoridades de alto nĂvel apenas declarassem na entrada não estar com sintomas nem ter estado em contato próximo com pessoas infectadas para que fossem admitidas no evento.
Porém, a cidade de Nova York, que abriga a sede da ONU, pediu que a organização seguisse as mesmas regras vigentes para os habitantes da cidade: todos os maiores de 12 anos precisam apresentar comprovação de vacina para frequentar locais pĂșblicos fechados, como centros de convenção, restaurantes ou hotéis.
Na terça-feira (14), os Estados-membros receberam uma carta assinada por Abdulla Shahid, polĂtico das Maldivas que assumiu a presidĂȘncia da Assembleia-Geral, na qual ele afirma apoiar que todos sejam obrigados a comprovar que tomaram imunizantes para participar do evento.
Nesta quarta, o porta-voz da Secretaria-Geral da ONU, Stéphane Dujarric, afirmou que "trabalharemos com o gabinete do Presidente (Abdulla Shahid) e os Estados-Membros sobre como implementar as decisões tomadas pelos Estados-Membros no que diz respeito (à vacinação) dos delegados".
"Da parte da Secretaria-Geral da ONU, todos os funcionĂĄrios que atendem ao pĂșblico devem ser vacinados. A questão é que se trata de uma organização dirigida por Estados-Membros. O SecretĂĄrio-Geral (António Guterres) não tem autoridade para forçar os delegados dos paĂses de uma forma ou de outra".
No Itamaraty existe ceticismo sobre a possibilidade de que os paĂses tornem obrigatório que os chefes de Estado apresentem certificados de vacina para participar da Assembleia-Geral.
Hospedagem em dĂșvida
Além da participação no evento em si, hĂĄ outras dĂșvidas. O hotel onde tanto Bolsonaro quanto parte da comitiva brasileira ficarão hospedados, por exemplo, informa em sua pĂĄgina na internet que segue a determinação da cidade de Nova York de exigir certificado vacinal para qualquer hóspede acima de 12 anos.
A pĂĄgina também informa onde o hóspede pode obter uma dose de graça e qual tipo de passaporte de vacina é aceito pelo estabelecimento.
A BBC News Brasil consultou a PresidĂȘncia da RepĂșblica sobre se o presidente segue sem ter sido vacinado contra Covid-19 e se houve alguma negociação de exceção para a regra do certificado no hotel em Nova York, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Durante o verão do hemisfério Norte, Nova York voltou a experimentar um aumento do nĂșmero de casos de Covid-19 na cidade, resultado da grande circulação da variante delta. Atualmente com 60% da população completamente vacinada e média móvel de cerca de 1600 novos casos por dia, a cidade luta para controlar a epidemia e impedir que um novo surto force o fechamento de escolas e comércio novamente.
Por isso mesmo, a cidade estĂĄ oferecendo vacinação gratuita a todo e qualquer estrangeiro que vĂĄ participar da Assembleia-Geral da ONU.
Em meados de agosto, o governo dos Estados Unidos, que vem tentando fortalecer os órgãos de relações multilaterais e demonstrar protagonismo nesses espaços, expressou preocupação com os impactos sanitĂĄrios da realização do evento em Nova York.
"Precisamos de sua ajuda para evitar que a Semana de Alto NĂvel da Assembleia Geral da ONU seja um evento super-disseminador (do novo coronavĂrus)", escreveu a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, em uma carta a seus 193 colegas. Ela prosseguiu:
"Os chefes de delegação devem considerar a entrega de suas declarações ao Debate Geral da Assembleia Geral da ONU por vĂdeo. Se as delegações optarem por viajar para Nova York, solicitamos que venham com o nĂșmero mĂnimo de viajantes necessĂĄrio", disse ela.
Os lĂderes da China, Xi Jinping, e da RĂșssia, Vladimir Putin, farão participação remota. JĂĄ o presidente Bolsonaro deve chegar a Nova York no próximo domingo, dia 19.