Receio sobre ômicron e Focus deixam taxas em forte queda

Por Redação em 20/12/2021 às 17:17:24

A estrutura a termo da curva de juros se ajustou hoje com as taxas futuras em fortes quedas, de cerca de 30 pontos-base (0,30 ponto percentual) contra o ajuste anterior nas parcelas curta e intermediária, em meio à tensão entre os investidores sobre os impactos da variante ômicron do coronavírus no ritmo da retomada global. Como resultado, os preços do barril de petróleo tombaram com receios sobre a demanda por energia. Cabe pontuar, ainda, que o Boletim Focus do BC ofereceu sinais adicionais de reversão do movimento de desancoragem das expectativas de inflação no horizonte relevante, reduzindo a pressão na curva de juros que implicava trajetórias mais agressivas de altas da taxa Selic.

No fim do pregão regular, às 16h, a taxa do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 tombava de 11,80% no ajuste anterior para 11,54%; a do DI para janeiro de 2024 caía de 11,10% para 10,84%; a do DI para janeiro de 2025 despencava de 10,76% para 10,535%; e a do DI para janeiro de 2027 tinha queda firme, de 10,62% para 10,48%.

Os receios de que a variante ômicron do coronavírus deva suavizar o ritmo de recuperação da economia global voltaram a reduzir o apetite ao risco dos investidores nesta segunda-feira. A disseminação da nova cepa nos Estados Unidos e na Europa renovou tensão entre os investidores no fim de ano, que costuma ter volume de negociações reduzido.

O aumento dos casos em solo americano e europeu aumenta o receio sobre novas medidas restritivas, que podem limitar o ritmo da recuperação global. O resultado foi um tombo de ao menos 1% dos principais índices acionários da Europa, enquanto o petróleo Brent, referência global da cotação negociada em Londres, despencava 3%, cotado a US$ 71,30 por barril.

“A queda ao longo de toda a estrutura da curva de juros refletiu o receio do espalhamento da ômicron pelo mundo. E, mesmo que não tenhamos tido nenhum dado hoje, é bom lembrar que a atividade econômica doméstica também vem mostrando alguma fraqueza”, aponta Rogério Braga, sócio e gestor dos fundos multimercados da Quantitas.

Já sobre o movimento de queda das expectativas de inflação para horizonte relevante, captado pelo Focus, Braga avalia que “a desancoragem parou de se ampliar” e que há uma “leve inflexão”, embora esteja distante o cenário de expectativas reancoradas nas metas. De acordo com o Focus, a mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 caiu de 3,46% para 3,40%, enquanto o ponto-médio para 2024 recuou de 3,09% para 3%. Já para 2022 a mediana teve alta marginal, de 5,02% para 5,03%, enquanto o para 2021 recuou de 10,05% para 10,04%.

“Há uma leve queda nas expectativas, então, tem algo diferente acontecendo, mas não podemos dizer que as expectativas vão se reancorar, isso eu acho meio forte”, afirma ele. “O que acho é que cessou o processo de deterioração da desancoragem e, na margem, vemos uma redução do nível de expectativas, que tem um pouco a ver com a atividade fraca e com o discurso bem "hawkish" [inclinação pró-aperto monetário] do BC. Na margem, parou de desancorar e há uma leve inflexão, sim, mas estamos distantes de um cenário em que veremos as expectativas reancoradas nas metas.”

Segundo os profissionais do departamento de economia da Renascença DTVM, é possível supor que a nova queda das projeções para o IPCA em 2021 tenha a ver com a continuidade da incorporação do resultado do índice no mês de novembro, que veio bem abaixo do esperado.

Enquanto isso, “para 2023 e 2024, julgamos que o posicionamento mais "hawkish" do Copom finalmente está influenciando nas projeções de forma mais clara, estancando o recente processo de desancoragem das expectativas para prazos mais longos”, avaliam os profissionais, em relatório.

Segundo análise do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o processo de reancoragem foi iniciado. “De modo geral, isso gera alívio nas pressões superaltistas para Selic”, diz ele, em relatório. A Ativa mantém a projeção de que o BC elevará a taxa básica em 1,5 ponto percentual em fevereiro e em março, para 12,25%.

Pixabay

Fonte: Valor Econômico

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