Nasa volta à lua nesta segunda-feira, com foguete do programa Artemis

Por Redação em 27/08/2022 às 11:09:29

O objetivo é estabelecer uma presença permanente da humanidade A agência espacial dos Estados Unidos (Nasa, na sigla em inglês) realiza nesta segunda-feira o lançamento da primeira missão do programa Artemis, que visa estabelecer uma presença permanente da humanidade na lua. Além do valor simbólico, a missão é o resultado de uma renovação do interesse dos governos mundiais e de empresas privadas pelo o que pode vir a ser um lucrativo setor da economia.

A janela de lançamento está prevista para abrir em torno das 9h30 da manhã, com o foguete do sistema de lançamento espacial (SLS) e a cápsula Orion já posicionados na famosa plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, na Flórida. O foguete, que tem altura total de 98 metros, é a maior espaçonave já lançada pelos EUA, superando em tamanho o Saturn V, utilizado no antigo programa Apolo.

“Ainda não será um lançamento tripulado, a Nasa vai testar todos os sistemas e impactos que se pode ter nos astronautas em uma missão arrojada de 42 dias, nunca uma cápsula ficou tanto tempo no espaço”, comenta Annibal Hetem Júnior, professor de engenharia aeroespacial da Universidade Federal do ABC (UFABC). Ele destaca que será a missão mais avançada que a Nasa já realizou em termos de complexidade.

“A Artemis I vai demonstrar e avaliar sistemas e procedimentos, desde a contagem regressiva e o lançamento, passando pela circunavegação da Lua, na reentrada em alta velocidade da cápsula Orion na Terra, até sua recuperação no mar”, diz Rachel Kraft, porta-voz da Nasa, em entrevista por e-mail ao Valor. “Após o fim da jornada, vamos avaliar os dados, para aí então discutir cronograma de missões tripuladas.”

Cristian Vendittozzi, professor de engenharia aeroespacial da Universidade de Brasília (UnB), aponta que o lançamento da Artemis também tem um caráter geopolítico de retomar o posicionamento dos EUA na exploração espacial. “A China deu um salto enorme nos últimos 20 anos, tanto em interesse quanto em tecnologia, na corrida espacial, o que acirrou os ânimos do Ocidente”, afirma.

Ao contrário do programa Apolo ou dos ônibus espaciais, que eram de iniciativa puramente da Nasa e outras agências espaciais, o programa Artemis vai contar com amplo apoio de empresas privadas. Tanto o SLS quanto a cápsula Orion foram montadas por parceiros comerciais e todos os equipamentos que serão utilizados nas missões futuras serão entregues e operados por companhias contratadas pela Nasa.

“A Artemis está inserida na revolução que vem acontecendo no setor aeroespacial mundial, que é focada no setor privado, com empresas como a SpaceX e a Blue Origin”, pondera Oswaldo Loureda, fundador da Acrux, uma startup brasileira que atua com propulsão de foguetes. A procura por novos nichos econômicos a serem explorados no espaço, como mineração, telecomunicações e logística espacial, impulsiona o interesse dessas empresas.

Em relatório recente, o banco americano Citi diz que a economia espacial, chamada de “New Space”, pode gerar receitas de US$ 1 trilhão em 2040, ante US$ 370 bilhões em 2020, com estimativa de custos de lançamento caindo de US$ 1,5 mil por quilo atualmente, já 30 vezes menos do que em 1981, na estreia do ônibus espacial, para uma faixa entre US$ 33 a US$ 300 por quilo em 2040.

O engenheiro Lucas Fonseca, fundador da startup Airvantis, de logística espacial, afirma que a tendência do programa Artemis é passar para a iniciativa privada. “A SpaceX está tentando viabilizar a Starship, que é mais poderosa que a SLS e com um custo de lançamento muito menor”, comenta. A procura da iniciativa privada por eficiência de custos e aplicação prática de novas tecnologias favorecem o desenvolvimento da economia espacial, afirma Fonseca.

“Acho que o principal ponto do programa Airvantis é "banalizar" a Lua, mostrar que o acesso ao espaço está cada vez mais democratizado e há oportunidades econômicas enormes para empresas dos mais diversos setores e atuações desenvolverem seu negócios no New Space”, comenta o fundador da Airvantis. Ele diz que há diversos recursos de aplicação comercial na Lua, como hélio-3 e água, que são oportunidades a serem exploradas.

Rachel Kraft, da Nasa, afirma que parcerias com companhias inovadoras beneficia tanto a Nasa quanto as empresas, e é chave para o sucesso do programa Artemis. “Por esse caminho, a Nasa consegue alavancar o setor privado dos EUA, Europa e ao redor do mundo, dando oportunidades para eles conseguirem seu lugar à mesa na economia lunar em ascensão”, diz.

Se nos EUA, o setor aeroespacial avança a passos largos na iniciativa privada, aqui no Brasil ele ainda engatinha. A falta de incentivo por parte do governo federal, que sofre com limitações orçamentárias, faz com que o ambiente inovador para empresas que queiram participar do setor encontrem dificuldades para inviabilizar os negócios.

“As empresas procuram mais flexibilidade, agilidade e precisamos ter uma estrutura compatível com isso”, diz Carlos Moura, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB). O orçamento da agência neste ano foi de R$ 127,6 milhões, uma queda de mais de 80% na comparação com dez anos atrás, quando a AEB teve destacado R$ 714,4 milhões. Moura aponta que isso limita a atuação que a agência pode ter no fomento ao setor.

Oswaldo Loureda, da Acrux, aponta que as startups que atuam no setor se juntam na Aliança das Startups Espaciais Brasileiras (ASB), para tentar criar caminhos para levantar recursos privados e com universidades, mas que só isso não é suficiente. “Mesmo a SpaceX teve uma grande ajuda do governo americano para alavancar suas operações, sem incentivo estatal não tem como impulsionar o setor.”

É necessário criar uma sinergia maior entre o governo, as universidades e as empresas para alavancar o setor no país, afirma Vendittozzi, da UnB. Hoje o ecossistema aeroespacial no Brasil se dá no desenvolvimento de pequenos satélites, com atuação importante da Visiona, empresa conjunta da Embraer com a Telebras. O desafio é trazer outros setores para dentro da economia de New Space.

“Demanda não falta no país, temos um ecossistema emergente e um setor que dá sinais de franco crescimento”, aponta Moura. O presidente da AEB lembra que o Brasil é signatário dos Acordos de Artemis, uma união de países que visa a exploração conjunta do espaço e dos recursos lunares de forma responsável. “É um conjunto de boas regras e ainda estamos identificando formas de contribuir efetivamente”, comenta.

O governo prevê iniciar o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, ainda neste ano, para lançamento de foguetes e satélites. Para Annibal Hetem Júnior, da UFABC, esse mercado de lançamentos é um que o Brasil pode explorar muito bem, tentando evoluir dos lançamentos de foguetes com combustível sólido para os de combustível líquido.

Ao contrário do programa Apolo ou dos ônibus espaciais, que eram de iniciativa puramente da Nasa e outras agências espaciais, o programa Artemis vai contar com amplo apoio de empresas privadas

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Fonte: Valor Econômico

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