2,5 milhões de eleitores apertaram 13 ou 22 ao votar para governador em estados sem candidato do PT ou do PL; votos foram anulados

Por Redação em 26/10/2022 às 09:53:49

Isso corresponde a 1 em cada 3 votos nulos nos 20 estados em que não havia candidatos com esses nĂșmeros nos pleitos estaduais. Especialista cita falta de conhecimento e confusão na hora de votar. Na eleição para cargos executivos, digitar qualquer nĂșmero que não seja de um candidato em disputa é considerado voto nulo -- os votos são registrados, mas não são considerados vĂĄlidos, assim como votar em branco.

Nos 20 estados brasileiros em que não havia candidato a governador do PT, do PL ou dos dois partidos, 2,5 milhões de eleitores apertaram 13 ou 22 mesmo assim e anularam os votos no 1Âș turno das eleições deste ano, aponta levantamento exclusivo do g1 feito com base em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O nĂșmero corresponde a um em cada trĂȘs votos nulos nesses estados.

Esses votos, ao invés de irem para candidatos que tinham o apoio dos partidos nos estados, como TarcĂ­sio de Freitas (Republicanos), apoiado pelo PL em São Paulo, ou para Carlos Brandão (PSB), apoiado pelo PT no Maranhão, foram computados como nulos, seguindo as regras da Justiça Eleitoral.

Na eleição para cargos executivos, digitar qualquer nĂșmero que não seja de um candidato em disputa é considerado voto nulo -- os votos são registrados, mas não são considerados vĂĄlidos, assim como votar em branco. Por isso, se um eleitor do estado de São Paulo apertou o 22 na votação do 1Âș turno, por exemplo, o seu voto foi anulado — jĂĄ que não tinha nenhum candidato do PL concorrendo.

Qual é a diferença entre o voto em branco e o voto nulo?

Votos por estados

O nĂșmero de votos que os dois partidos analisados pelo g1 receberam nos estados varia. Em regiões em que o candidato a presidente da sigla teve melhor desempenho, o nĂșmero cresce. JĂĄ onde ele teve um resultado pior, o nĂșmero cai.

O PL, por exemplo, teve pior desempenho no Nordeste, região que Bolsonaro enfrenta maior resistĂȘncia. No Rio Grande do Norte, foram 30.540 votos anulados com o código 22, o equivalente a 18,8% do total de nulos.

No Acre, por outro lado, os votos anulados com o nĂșmero do partido (22) representam 54% dos nulos do estado. Bolsonaro teve 62,5% dos votos vĂĄlidos no estado, contra 29,3% de Lula.

O nĂșmero 13, do Partido dos Trabalhadores, recebeu menos votos percentualmente em Roraima — 32% do total de nulos —, estado em que Lula teve somente 23% dos votos. No ParĂĄ, no entanto, o código da sigla foi responsĂĄvel por 52% dos votos nulos no estado.

No Maranhão, onde o 13 conquistou 199.145 votos, o nĂșmero foi o 4Âș mais usado nas urnas no estado para o cargo de governador. O código do PT perdeu apenas para o governador eleito, Carlos Brandão (PSB), e para Lahesio Bonfim (PSC) e Weverton (PDT).

Veja os nĂșmeros completos dos estados analisados:


Nulos por estado — Foto: Kayan Albertin/g1 Arte
Nulos por estado



Falta de conhecimento e confusão

O cientista polĂ­tico, professor e pesquisador da FGV Jairo Nicolau alerta que os nĂșmeros de votos nulos para o 13 e para o 22 são "altĂ­ssimos". Ele levanta algumas hipóteses que podem estar por trĂĄs dos indicadores:

Falta de conhecimento do eleitor

Confusão na hora de votar

Nicolau afirma que a primeira hipótese, sobre a ignorância do eleitor no momento de votar, é a mais plausĂ­vel, pois tem relação direta com o processo de votação brasileiro e com o funcionamento da urna.

"VocĂȘ só sai de uma pĂĄgina [da urna] quando vocĂȘ faz alguma coisa diante daquela tela. Se aparece um candidato a governador e vocĂȘ não estĂĄ com o nome do candidato e não levou a cola, o atalho que vocĂȘ tem é clicar o nĂșmero mais próximo do seu campo polĂ­tico. No caso, 13 ou 22", diz Nicolau.

A outra hipótese seria atrelar estes nulos a um momento de confusão do eleitor no momento do voto -- o que também teria relação com o funcionamento da urna.

"A pessoa acha que estĂĄ votando para presidente e estĂĄ votando no governador. Aparece ali [a tela de voto] e ela coloca 13 achando que votou no governador. Se bobear, ela votou no 13 achando que era governador e se enrolou no Ășltimo voto quando chegou pra presidente", diz. "Esse é um caminho mais difĂ­cil de apurar."

Voto branco x voto nulo: entenda a diferença

1 em cada 3 votos nulos

Nos 20 estados analisados, um terço dos votos anulados tinham o código do PT ou do PL.

Na maioria dos casos, a eventual ida desses votos para o candidato apoiado pelo partido no estado não é suficiente para mudar o resultado da eleição no primeiro turno, mas poderia dar um impulso às candidaturas.

Em São Paulo, por exemplo, se TarcĂ­sio recebesse os 521 mil votos que foram anulados com o código 22, ele teria 43,58% dos votos — o ex-ministro da Infraestrutura teve 42,32% dos votos.

Em Pernambuco, no entanto, se os 123.563 votos nulos com o nĂșmero do PT fossem para o candidato apoiado pela sigla, Danilo Cabral (PSB), ele teria ido para o segundo turno contra MarĂ­lia Arraes (Solidariedade). Cabral, no entanto, ficou em 4Âș lugar na disputa.

O candidato do PSB, todavia, dividia o apoio de petistas no estado com MarĂ­lia, que era filiada ao partido até março deste ano.

Jairo Nicolau levanta a possibilidade de, em casos em que hĂĄ coligação, os votos de partidos coligados serem direcionados para o candidato que estĂĄ, de fato, concorrendo.

"Por exemplo, se o Republicanos estĂĄ formalmente ligado ao PL, o programa do computador [utilizado pela Justiça Eleitoral para computar e totalizar os votos] deveria considerar o voto do PL também para o Republicanos. É algo que talvez possa ser feito para eleições futuras", diz.

"Dessa forma, vocĂȘ pode votar em qualquer nĂșmero, não exclusivamente o do cabeça de chapa, mas o nĂșmero da coligação, e esse nĂșmero vai para o candidato a governador. O TSE tem como mudar isso no programa e diminuir uma parte do voto nulo."

Metodologia

Orientada pelo Tribunal Superior Eleitoral, a equipe de reportagem analisou os registros digitais dos votos (RDVs), contidos nos arquivos "Resultados 2022 - Arquivos transmitidos para totalização", disponibilizados na pĂĄgina do Portal de Dados Abertos do TSE. Os arquivos foram baixados entre 17 e 21 de outubro.

Após o download dos arquivos dos 20 estados sem candidatos dos partidos analisados, a reportagem desenvolveu um script em Python que converteu os dados contidos nos RDVs, de modo a analisar o nĂșmero de votos classificados como "nulo" ou "nuloApósSuspensão".

Em 9 dos 20 estados, o nĂșmero de votos anulados obtidos foi igual ao indicado pelo TSE no dia da eleição. Nos demais estados, hĂĄ diferenças residuais que não chegam a 0,07% do total de nulos.

No Rio de Janeiro, a diferença entre os dados contidos nos RDVs e o do TSE foi de 4.892 votos. Esta diferença é explicada pelo fato de que 4.892 votos em Wilson Witzel (PMB) aparecem nos RDVs como votos nominais. No dado enviado pela Justiça Eleitoral no dia da eleição, todavia, a votação de Witzel foi considerada como nula, jĂĄ que sua candidatura foi indeferida.

É possĂ­vel obter os dados dos votos nulos no sistema Divulga (versão detalhada), do TSE, selecionando o tipo de consulta "Registro Digital do Voto". Neste caso, no entanto, a visualização é somente por seção.

Fonte: G1

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