Todos os internos da clínica interditada após denúncia de maus-tratos, em Prudente de Morais, já estão com suas famílias

Por Redação em 22/10/2020 às 16:36:43

De acordo com o secretário de Assistência Social da cidade, as últimas vítimas viajaram na noite desta quarta-feira (21) Clínica Novo Caminho, em Prudente de Morais, foi interditada na manhã desta segunda-feira (19)

Reprodução/TV Globo

Todos os 45 internos da clínica Novo Caminho, de recuperação para dependentes químicos, em Prudente de Morais, na Região Central de Minas Gerais, já estão com suas famílias. O local foi interditado pela Polícia Civil nesta segunda-feira (19), após denúncias de maus-tratos e cárcere privado. Seis pessoas foram presas.

"Os últimos três internos foram embora ontem à noite para a Bahia. Dois de Vitória da Conquista e um de Ubaíra. Todo mundo está em casa", disse o secretário municipal de Assistência Social da cidade, José Natal, nesta quinta-feira (22).

De acordo com a delegada Priscila Pereira Saltos, são apurados os crimes de maus-tratos a pacientes e a animais, cárcere privado, lesão corporal, danos ambientais e abuso sexual. A polícia também investiga falsidade ideológica, pois funcionários, mesmo sem formação, são suspeitos de se passar por terapeutas.

Entre as seis pessoas presas está um dos donos da clínica. Os demais trabalhavam no local. Priscila disse ao G1, nesta quinta, que houve uma audiência de custódia e a prisão em flagrante de todos eles foi convertida em prisão preventiva.

"O suspeito de abuso sexual foi identificado, mas, como ele não reside em cidade próxima, estamos agendando diligências para ouvir a versão dele", relatou a delegada.

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Segundo a Polícia Civil, os internos tinham entre 18 e 80 anos e eram mantidos em quartos com grades, com várias pessoas por "cela". Um idoso de 75 anos, com a saúde debilitada, teve que ser internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Segundo Natal, ele foi buscado pela família na terça-feira (19).

Uma das vítimas contou à TV Globo que os próprios internos cuidavam uns dos outros. "Cuidei, tratei e troquei fralda", disse um rapaz de 27 anos.

Um homem, identificado como Germano dos Santos, atendeu o telefone celular divulgado pela clínica e disse ao G1 que é um dos proprietários do local. Ele afirmou que está no Mato Grosso e que não pode se manifestar por não saber o que houve em Prudente de Morais.

"Tem muita gente que está lá e que nunca recebeu maus-tratos. Vamos ver até onde vai essa denúncia e quem denunciou. Eu tenho plena certeza de que não tem maus-tratos lá, nem contra gente, nem contra animais", respondeu Germano.

Segundo a delegada, ele também será ouvido pela Polícia Civil nos próximos dias.

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Internação involuntária

A maior parte dos internos foi levada para lá involuntariamente, até mesmo com uso de força, segundo a investigadora de Polícia Civil Sheiva Duarte.

"Eles eram dopados. Há um 'caçador', uma pessoa que entra em contato com as famílias. Uma equipe ia até lá, pegava essas pessoas usando de violência e trazia para cá. Já foram vários relatos", afirmou.

As famílias pagavam até R$ 1.800 mensais pela internação dos parentes, em contratos de seis meses. O valor podia, inclusive, ser parcelado.

"A sensação é que você está numa cadeia, né? Sendo que você está aqui para se tratar, não para ficar preso. Lugar de bandido é na cadeia. A gente está aqui para se recuperar das drogas, não para ficar psicologicamente machucado", disse um dos internos.

A delegada reforçou que a condução de internos contra a vontade deles é uma prática ilegal. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sancionou, em junho do ano passado, uma lei que autoriza a internação involuntária de dependentes químicos sem a necessidade de autorização judicial. No entanto, isso só vale para internações em unidades de saúde e hospitais gerais.

Irregularidades

Quatro internos estavam em um mesmo quarto, trancados e sem máscara

Reprodução/TV Globo

A clínica não possuía alvará de funcionamento, nem licença para funcionar. O Corpo de Bombeiros esteve no local para tomar as providências em relação à segurança e constatou várias irregularidades que colocavam em risco a integridade e a saúde dos internos.

O espaço não possuía extintores, nem projeto de combate a incêndio, e a fiação elétrica ficava exposta, com risco de curto-circuito. Os responsáveis informaram à polícia que o local funcionava desde fevereiro de 2020, mas a suspeita da corporação é que antes disso já havia internos por lá.

A equipe da TV Globo registrou paredes mofadas, fiação exposta, quatro pessoas em um mesmo quarto fechado, todos sem máscara. Os banheiros estavam sujos e a água do chuveiro era gelada.

"O período da gente é muito curto do lado de fora", contou uma das vítimas.

Fiação exposta em clínica de recuperação de dependentes químicos, em Prudente de Morais

Reprodução/TV Globo

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Fonte: G1

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