Cronologia: as datas citadas na investigação que levou à prisão de Mauro Cid e à apreensão do celular de Bolsonaro

De acordo com as apurações, teriam sido falsificados os certificados de vacinação de Bolsonaro e de sua filha caçula, hoje com 12 anos.

Por Redação em 03/05/2023 às 16:31:20

De acordo com as apurações, teriam sido falsificados os certificados de vacinação de Bolsonaro e de sua filha caçula, hoje com 12 anos. Mauro Cid também teria obtido o documento irregular para si, sua mulher e sua filha. Bolsonaro é alvo da Polícia Federal: entenda a suspeita de fraude em cartões de vacinação

A investigação da Polícia Federal sobre um grupo suspeito de fraudar cartões de vacinação contra a Covid-19 do Ministério da Saúde levou à prisão de seis pessoas e à apreensão do celular de Jair Bolsonaro (PL). Um dos presos nesta quarta-feira (3) é o tenente-coronel Mauro Cid Barbosa, ex-ajudante de ordens do ex-presidente.

De acordo com as apurações, teriam sido falsificados os certificados de vacinação de Bolsonaro e de sua filha caçula, hoje com 12 anos. Mauro Cid também teria obtido o documento irregular para si, sua mulher e sua filha.

A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes dentro do inquérito das "milícias digitais", que já tramita no Supremo Tribunal Federal.

Veja abaixo a cronologia do caso, segundo as investigações.

22 de novembro de 2021

De acordo com a PF, Mauro Cid pediu ajuda de um sargento para conseguir um certificado de vacinação falso para a sua esposa.

A apuração indica que esse sargento pediu ajuda a um sobrinho, que é médico, que conseguiu um documento forjado da Secretaria de Saúde do município de Cabeceiras, em Goiás. O certificado apontava que a mulher de Cid teria tomado duas dozes da vacina da Pfizer, em 17 de agosto e 9 de novembro de 2021.

O certificado foi emitido, de forma fraudada, e enviado pelo sargento para o celular de Cid em 22 de novembro de 2021, segundo a investigação. No entanto, os investigadores descobriram que não há qualquer registro de aplicação do imunizante na esposa do tenente-coronel nas Unidades Básicas de Saúde do município.

Também segundo a investigação, Cid e o sargento se questionaram sobre a fraude ser descoberta, já que o tenente-coronel e sua família nunca estiveram em Cabeceiras. Assim, para dissimular o erro, Cid conversou com Marcello Siciliano, ex-vereador do Rio. Por meio dele, Cid conseguiu o registro de vacinação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

Em troca, Siciliano teria pedido para Cid obter um visto de entrada nos EUA. O ex-vereador não conseguia tirar o documento devido ao envolvimento no caso da morte de Marielle Franco, em 2018. Durante o inquérito do assassinato da ex-vereadora do PSOL, no Centro do Rio, o policial militar Rodrigo Jorge Ferreira apontou Siciliano como uma das pessoas que tramaram o crime — ele negou o envolvimento e disse que foi injustiçado.

Em julho de 2019, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia do Ministério Público fluminense (MPRJ) contra Ferreira. Ele e uma advogada são suspeitos de integrarem uma organização criminosa que teria tentado atrapalhar as investigações sobre o assassinato de Marielle. Na época, o Tribunal de Justiça estadual informou que "o processo corre em segredo de justiça".

Ao g1, Siciliano disse que "foi surpreendido" com agentes da Polícia Federal na sua casa na manhã (3) e confirmou que teve o celular apreendido pelos investigadores. Ele afirmou que sua defesa não teve acesso aos autos do processo e que está à disposição para dar esclarecimentos.

O esquema foi descoberto na investigação após a quebra de sigilo telemático, que inclui registros de chamadas e mensagens trocadas por aplicativos, dos envolvidos.

No fim, o cartão de vacina da esposa de Cid foi emitido por Duque de Caxias. Segundo a PF, o "ajuste" mudando o certificado de Goiás para o Rio de Janeiro foi que deu o indício de fraude e que levou às investigações. A esposa de Cid viajou com a família para os Estados Unidos em 21 de dezembro de 2022.

A defesa de Mauro Cid disse que não teve acesso aos autos para se manifestar.

Quem é Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro preso em operação da PF

21 de dezembro de 2022

Segundo apurou a TV Globo, os sistemas do Ministério da Saúde indicam que duas doses de vacinas contra Covid teriam sido aplicadas em Bolsonaro. Nesta quarta, após a operação da PF, o ex-presidente disse não haver "adulteração por minha parte".

"Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum, não existe adulteração da minha parte. Eu não tomei a vacina, ponto final", declarou Bolsonaro.

No sistema da Rede Nacional de Dados em Saúde, no entanto, constavam duas doses da Pfizer:

a primeira, supostamente aplicada no dia 13 de agosto de 2022 no Centro Municipal de Saúde de Duque de Caxias (RJ);

a segunda, supostamente aplicada no dia 14 de outubro, no mesmo estabelecimento de saúde;

os dados foram inseridos no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações no dia 21 de dezembro pelo secretário municipal de Governo de Duque de Caxias, João Carlos de Sousa Brecha, preso na operação desta quarta-feira (3).

27 de dezembro de 2022

Uma semana depois de constar no sistema do Ministério da Saúde, as informações foram excluídas do sistema por Claudia Helena Acosta Rodrigues da Silva, sob alegação de "erro". Procurada pelo g1, ela disse que não vai se manifestar porque a investigação está sob sigilo.

No dia 30 de dezembro, penúltimo dia de seu mandato, Bolsonaro embarcou para os EUA com Michelle e sua filha, Laura. A ex-primeira-dama retornou ao Brasil em 26 de janeiro. Já o ex-presidente voltou em 30 de março.

Duque de Caxias

Duque de Caxias foi cenário de diversas denúncias envolvendo problemas com a vacinação contra a Covid-19. Em março de 2021, o Ministério Público do Estado (MPRJ) chegou a expedir uma recomendação à Prefeitura para que fosse observado o Plano Nacional de Vacinação.

É que enquanto em outras cidades a imunização estava na faixa etária de 80 anos, Caxias chegou a avançar a vacinação para a faixa etária de 60 anos. Na época, o município também registrou filas gigantescas e confusão na hora da imunização.

Declarações sobre vacina

Além de levantar dúvidas sobre a eficácia das vacinas e de disseminar informações falsas sobre os imunizantes, Bolsonaro declarou várias vezes que não se vacinaria contra a Covid-19. O ex-presidente nunca mostrou publicamente a sua carteira de vacinação.

Em 17 de dezembro de 2020, um mês antes de a primeira pessoa no Brasil ser vacinada, Bolsonaro chamou de "idiota" quem o via como mau exemplo por não se imunizar. "Alguns falam que eu tô dando um péssimo exemplo. Ou é imbecil ou o idiota que tá dizendo que eu dou péssimo exemplo, eu já tive o vírus. Eu já tenho anticorpos. Pra que tomar vacina de novo?", disse o ex-presidente na época.

No Brasil, a vacinação teve início em 17 de janeiro de 2021 e foi escalonada por idade e grupos de risco, além de ter seguido um calendário próprio em cada unidade federativa. Bolsonaro tinha 66 anos na época do início da vacinação no país.

Em 12 de outubro de 2021, em entrevista à Jovem Pan, Bolsonaro afirmou que decidiu não se vacinar contra a Covid, novamente argumentando que tinha anticorpos por ter contraído a doença. A vacina é recomendada para todos, inclusive para quem teve a doença, já que produz uma imunização mais duradoura do que a resultante de infecção natural.

"Para que eu vou tomar uma vacina? Seria a mesma coisa que você jogar na loteria R$ 10 para ganhar R$ 2. Não tem cabimento isso daí", disse o ex-presidente.

Fonte: G1

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