MPF pede para irmãs que estão na Irlanda com o pai voltem ao Brasil; mãe o acusa de abuso

Por Redação em 05/07/2023 às 16:30:48

Em nota, a defesa de Trevor Maloney diz que as declarações dadas pela mãe das crianças são inverĂ­dicas.

MPF pede que irmãs levadas para a Irlanda voltem ao Brasil

Um caso mobiliza autoridades no Brasil e na Irlanda – a disputa pela guarda de duas irmãs, de 4 e 6 anos. A mãe, brasileira, acusa o pai, irlandĂȘs, de cometer abusos sexuais contra as filhas. Ele, que nega todas as acusações, conseguiu, depois de quatro anos de batalha judicial, levar as meninas para Irlanda. O Ministério PĂșblico Federal (MPF) entrou com pedido para que elas voltem imediatamente para o Brasil.

Raquel Cantareli é brasileira e mãe das duas meninas. Ela se mudou para Irlanda em 2014 para fazer um trabalho voluntĂĄrio e, lĂĄ, conheceu Trevor Maloney. Raquel relata que, logo no inĂ­cio, desconfiou do comportamento que o companheiro tinha com a filha de cinco anos -- fruto de outro relacionamento e chegou a encerrar a relação, mas logo descobriu que estava grĂĄvida. Eles reataram o relacionamento e Raquel se mudou para a casa de Trevor – e ela relata que foi nesse momento que as suspeitas se intensificaram.

"Em alguns momentos eu cheguei a vĂȘ-lo massageando as partes Ă­ntimas dela, de uma forma que a gente sabe que não é normal, não é a maneira correta de vocĂȘ higienizar uma criança. Ele sempre fechava a porta do banheiro nesses momentos. Eu sempre passava e tentava ficar de olho. Nesses momentos quando essas coisas aconteciam, é muito difĂ­cil. A gente falando hoje em dia a gente acha tão fĂĄcil de perceber o que estava acontecendo. Mas na hora é como se vocĂȘ não quisesse acreditar", conta Raquel.

Depois do nascimento da filha, as situações passaram a acontecer com a menina ainda bebĂȘ. "Ele sempre encostava a porta e quando eu abria a porta, com rapidez, eu conseguia ver a boca dele nessa parte aqui dela. Eu questionava ele, claro, dizia por que ela ainda tĂĄ sem fralda? Por que vocĂȘ tĂĄ demorando tanto? E ele dizia 'come on, we are just playing', a gente só tĂĄ brincando, e eu dizia "mas por que vocĂȘ tĂĄ brincando com ela no trocador sem a fralda?"

Segundo Raquel, depois de ser forçada a ter relações com Trevor, ela engravidou novamente. Após o nascimento da segunda filha, ela conta que um evento durante a madrugada foi a gota d'ĂĄgua. "Ele tava de frente pra ela, ela sentada no trocador, ele tava somente de cueca, ele tinha uma ereção, E ele tampando a boca da minha filha. Eu peguei a Julia e ela chorava de soluçar. Se eu tinha alguma dĂșvida, essa noite todas as coisas se encaixaram e eu tive certeza do que estava acontecendo", pontua.

Raquel tentou pedir ajuda a algumas instituições de emergĂȘncia na Irlanda, sem sucesso. Foi só em uma consulta de rotina da filha, semanas depois, que ela conseguiu relatar o que aconteceu naquela noite ao serviço médico irlandĂȘs.

Trevor chegou a ser questionado por autoridades locais. Por falta de provas, essa investigação foi arquivada. Raquel afirma que a partir desse momento, o marido se tornou cada vez mais agressivo

Raquel acionou a PolĂ­cia Federal no Brasil. O relatório de uma perita criminal federal atesta que mesmo "sem indĂ­cios fĂ­sicos de abuso sexual", o comportamento da filha mais velha "demonstra fortes indĂ­cios de abuso".

A Embaixada do Brasil em Dublin também tomou conhecimento do caso. Por telefone, Raquel relatou que Trevor a ameaçou e reteve o passaporte dela e das filhas, além de mantĂȘ-la em cĂĄrcere privado. Um representante consular viajou à cidade onde Raquel e as filhas estavam. Em seu relatório, o vice-cônsul Gabriel Neves descreveu que foi solicitada proteção policial e a embaixada também emitiu novos passaportes.

Desde setembro de 2019, Raquel morava no Rio de Janeiro com as filhas. Trevor procurou autoridades irlandesas e brasileiras para denunciar a ex-mulher por sequestro internacional de crianças.

Mesmo antes de Raquel deixar a Irlanda com as filhas, Trevor jĂĄ negava os abusos sexuais. Na audiĂȘncia em que a justiça concedeu a guarda das meninas a ele, Trevor afirmou que não fez nada do que a esposa relatou e que nunca foi agressivo com ela.

Trevor acionou a Convenção de Haia, um tratado internacional assinado pelo Brasil. O documento considera sequestro internacional quando uma criança ou um adolescente é retirado de seu paĂ­s de residĂȘncia habitual sem autorização de um dos genitores, seja o pai, seja a mãe.

O pai das meninas, então, pediu na Justiça que as crianças fossem levadas de volta para a Irlanda. A Defensoria PĂșblica da União – que defendia Raquel – confirmou no processo que a mãe havia deixado a Irlanda sem autorização do marido, mas com o objetivo de proteger a integridade fĂ­sica das meninas, vĂ­timas de abuso sexual.

A Defensoria pedia que a Justiça Federal levasse em consideração uma exceção do tratado internacional. O artigo 13B desobriga autoridades a devolver crianças quando hĂĄ risco de elas serem expostas a perigos de ordem fĂ­sica, psĂ­quica, ou de ficarem em situação intolerĂĄvel no paĂ­s de origem.

Em primeira instância, a Justiça Federal viu risco no retorno das meninas à Irlanda e autorizou que elas continuassem no Brasil. Na decisão, a juĂ­za federal afirma que foi configurada a hipótese de risco e que cabe usar a exceção descrita pelo Tratado de Haia. Segundo a decisão, a saĂ­da de Raquel da Irlanda foi uma operação de resgate. A juĂ­za também afirma que a privação do convĂ­vio com a mãe traria riscos para as meninas. A defesa de Trevor recorreu ao Tribunal Regional Federal (TRF).

O Ministério PĂșblico Federal foi a favor de manter as crianças no Brasil. Em dezembro de 2022, por 3 votos a 2, o TRF teve um entendimento diferente da juĂ­za em primeira instância e do MPF. No julgamento, os desembargadores não viram provas suficientes que confirmassem os abusos e o risco para as crianças. Eles decidiram que Raquel não poderia ter viajado para o Brasil sem autorização e determinaram o retorno imediato das meninas para a Irlanda.

Seis meses depois, com todos os recursos de Raquel e do MPF negados, foi expedida a busca e apreensão. Trevor viajou para o Brasil para buscar as filhas, que foram entregues a ele pelos policiais. Foi a Ășltima vez que Raquel teve contato com elas. Na semana passada, o MPF entrou com um novo recurso pedindo o retorno das meninas para o Brasil.

Outro lado

Os advogados de Trevor no Brasil não quiseram dar entrevista. Em nota, a defesa diz que as declarações dadas pela mãe das crianças são inverĂ­dicas. Afirma que "ela alega falsamente abuso e violĂȘncia, sendo que nenhuma de suas acusações infundadas, após ampla investigação, foram comprovadas perante a Justiça irlandesa e os órgãos de proteção à criança e à famĂ­lia".

O comunicado diz ainda que Trevor "foi inocentado de todas as acusações falsas". Para os advogados, a decisão do Tribunal Regional Federal "deixou claro que Raquel não conseguiu provar o que alegou à Justiça. A defesa afirma também que "uma das crianças, a que a mãe alega ter sido vĂ­tima de abuso, foi submetida a exame de corpo de delito, que nada apontou e não constatou nenhum abuso".

Em outra nota, os advogados alegam que Trevor não deve satisfações a ninguém e não precisa ser defendido de coisa alguma. Afirmam ainda que ele foi caluniado, injuriado e difamado, foi investigado, mas conseguiu fazer prevalecer a verdade. Por fim, a defesa explica que a Justiça brasileira reconheceu que a Justiça irlandesa é a competente para decidir e julgar as questões de guarda e convivĂȘncia. E que as questões sobre guarda e convivĂȘncia serão tratadas na Irlanda, pelo advogado irlandĂȘs do pai, que darĂĄ as orientações que entender pertinentes ao seu cliente

Fonte: G1

Comunicar erro
Agro Noticia 728x90