Após a escalada nas medidas e no tom da crise diplomĂĄtica aberta entre Brasil e Israel, o governo brasileiro decidiu ajustar os rumos das manifestações pĂșblicas.
Segundo diplomatas, a hora é de adotar prudĂȘncia e usar o tom certo nas falas, para não ser "pautado pela antidiplomacia de posts" adotada por Israel – e que atende somente aos interesses polĂticos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Lula errou ao comparar a ofensiva das forças israelenses na Faixa de Gaza após o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023 com o Holocausto nazista capitaneado por Adolf Hitler.
Mas Israel, por meio de seu chanceler, Israel Katz, teve reação desmedida ao expor o embaixador brasileiro, Frederico Meyer, como fez. E diplomatas entendem que o jogo polĂtico iniciado ali precisa ser interrompido.
Segundo essas fontes, a escalada da agressividade no tom de Katz mudou o patamar da crise. O chanceler israelense chegou a dizer que a comparação de Lula foi um "cuspe na cara dos judeus brasileiros".
Na visão desses diplomatas, o governo israelense rebaixou a discussão a um patamar inferior, deslocado da diplomacia, uma arena polĂtica de agressividade e oportunismo. "É isso que eles buscam", disseram interlocutores ouvidos pelo blog.
Um dos diplomatas resumiu a postura que serĂĄ adotada a partir de agora: "Não vamos ser pautados pela antidiplomacia do governo Netanyahu. Uma Casa que tem o Barão do Rio Branco como patrono não vai ficar 'tretando' por redes sociais".
A "antidiplomacia de post" de Netanyahu foi duramente criticada internamente no governo. Agora, com a consciĂȘncia de que escalar o conflito é alimentar uma realidade que só joga a favor de Netanyahu.
Os diplomatas afirma que o foco agora deve se voltar para o G20 e a situação dos civis palestinos e dos reféns israelenses – e a comunicação pĂșblica deve refletir isso.
Reações
Nesta quarta-feira (21), mais uma vez, o ministro das Relações Exteriores de Israel se dirigiu ao presidente Lula em uma rede social.
Ele publicou um vĂdeo ao lado de uma brasileira que sobreviveu ao ataque terrorista do Hamas em outubro de 2023. No vĂdeo, Rafaela Triestman conta detalhes dos ataques e critica a atuação do governo brasileiro.
Em nota, o PalĂĄcio do Planalto rebateu. Disse que o Brasil prestou assistĂȘncia aos brasileiros na região, condenou os ataques do Hamas e ofereceu condolĂȘncias e os serviços consulares aos brasileiros.
Diplomatas entendem , internamente, que houve tentativa de explorar o sofrimento humano para fins polĂticos nesse episódio.
Também nesta quarta, o Brasil nomeou o diplomata FĂĄbio Moreira Farias para ser encarregado de negócios do Brasil em Tel Aviv, um cargo de nĂvel hierĂĄrquico menor do que o de embaixador. É mais um sinal de que os dois paĂses estão com o diĂĄlogo prejudicado.