'Depois que ela faleceu, perdeu o sentido bater fotos das coisas', diz jornalista de SC que perdeu mãe para a Covid-19

Por Redação em 22/01/2021 às 06:03:39

Estado ultrapassou 6 mil mortes por coronavírus. 'Acho que as pessoas não entenderam. Nunca morreu tanta gente por uma única causa no mundo', diz médico de hospital em Chapecó. Famílias e médicos falam sobre o luto e o avanço da Covid em SC

Santa Catarina ultrapassou na quinta-feira (21) a triste marca de 6 mil mortos por Covid-19. Médicos, familiares de vítimas e sobreviventes ficam comovidos pelas dificuldades que precisam enfrentar por causa da doença. São muitas histórias diferentes, mas todas têm o enredo marcado pelo medo da morte e a dor do luto.

Uma das pessoas que perdeu um parente para a Covid-19 foi a jornalista Luana Fachini Lemke. A mãe dela, Dagma Fachini, do 60 anos, morreu por causa da doença.

Luana Lemke segura um celular que mostra uma foto dela com a mãe

Reprodução/NSC TV

A jornalista contou que as duas se falavam todos os dias por aplicativo de mensagens.

"Tudo o que eu fazia aqui eu mandava fotos pra ela. Tanto que depois que ela faleceu, pra mim perdeu o sentido de bater as fotos das coisas. Tanto que me falaram esses dias 'mas tu não tás mais correndo, tu não tás mais fazendo nada"'.

"Perdeu o sentido, assim. Muito do que eu fazia de tirar foto, porque tudo... Eu fazia unha, mandava o cachorro pra lavar, tudo eu mandava pra ela, todas as minhas atividades. Eu fazia uma receita, eu mandava pra ela. E acabou que perdeu bastante o sentido", completou Luana Lemke.

Dia a dia no hospital

Médica Carol Ponzi em frente ao hospital onde trabalha, em Chapecó

Reprodução/NSC TV

A médica Carol Ponzi trabalha em um hospital de Chapecó, no Oeste catarinense, e relatou os desafios da profissão durante a pandemia. "Quem faz às vezes de familiar é quem tá do lado. Então, é o técnico de enfermagem, é o enfermeiro, é o médico, é a fisio[terapeuta]. Quando vai colocar uma ventilação não invasiva, tem que fazer todo um trabalho psicológico com o paciente, o medo da intubação, é tu que tens que tá do lado pra segurar a mão, pra acalmar".

"Acho que as pessoas não entenderam. Nunca morreu tanta gente por uma única causa no mundo. Trinta e cinco pacientes internados numa UTI [Unidade de Terapia Intensiva] por uma mesma causa. Nós não temos 35 infartos internados numa UTI por uma mesma causa, numa UTI ao mesmo tempo, em Chapecó", disse a médica.

O professor Juliano Antônio de Souza sobreviveu à doença. Ele ficou 11 dias na UTI. "Foi bem complicado, assim, por eu ter diabetes. A diabete tava completamente desregulada, ela subia, ela descia, febre muito alta. Num determinado momento, ela estava em 42ºC. Daqui a pouco ela descia bruscamente, eu tremia de frio, meus rins pararam, eu tive que fazer hemodiálise".

Professor Juliano de Souza relata os dias em que esteve internado com Covid-19

Reprodução/NSC TV

Outra sobrevivente é a professora de educação física Alzira Isabel da Rosa, moradora de São José, na Grande Florianópolis. Ela precisou ficar 15 dias em coma induzido e teve sequelas.

"Lá no hospital, a gente via pessoas indo embora. Então eu via muito a equipe triste. Durante o período que eu estava lá, eu soube de algumas mortes, assim, porque tu ouvias muito. Chegou um momento que eu fiquei muito agitada, assim, e quando eles tapavam, cobriam, fechavam minha cortina, era porque eu sabia que uma coisa muito grave que tava acontecendo", relatou a professora.

Professora Alzira da Rosa

Reprodução/NSC TV

Sem tempo

A mãe da jornalista Luana morreu menos de uma semana após apresentar os sintomas.

Luana Lemke, sentada em sofá, relata os últimos dias da mãe

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"Na terça-feira ela teve alguns sintomas, a gente perguntou como ela tava, e ela disse 'tô bem, filha, tô bem'. Mas na sexta-feira de manhã, ela acordou já... Minha cunhada notou que ela tava com falta de ar. Daí na hora que minha cunhada constatou que ela tava com falta de ar, já levou pro hospital. Isso foi 9h. E lá no hospital, ela já chegou bem ruim com essa falta de ar", contou

"A falta de ar foi na sexta-feira, foi de uma hora pra outra, e ela já foi internada e transferida de Ibirama pra Timbó [Vale do Itajaí] na hora ali, eles já encontraram um leito lá em Timbó e ela já ficou internada. Isso foi na sexta e já no domingo de madrugada ela já foi entubada, foi pra UTI e faleceu".

Outra médica, a intensivista Tarsila Maia, que trabalha em um hospital particular de Florianópolis, contou como são difíceis os momentos de dizer aos familiares sobre a morte de um paciente.

Médica Tarsila Maia

Reprodução/NSC TV

"Já teve semanas, somando todos os hospitais, de cinco notícias, seis notícias de óbitos numa semana, por plantão. É sempre muito emocionante, é sempre muito difícil, é sempre muito pesado conversar com essas famílias porque a gente percebe a saudade, o distanciamento".

"As pessoas reclamam de ter uma máscara. É muito pior ter um tubo na boca. É muito pior um cateter de oxigênio, uma máscara de ventilação não invasiva", resumiu a médica Carol Ponzi.

Professora Alzira da Rosa e o companheiro

Reprodução/NSC TV

A sobrevivente Alzira prefere focar nos ensinamentos que teve durante a recuperação. "Eu não quero pensar nada de ruim, porque ele me ensinou muita coisa: a valorizar a vida, a valorizar mais as pessoas, a valorizar mais a família, principalmente quem estava do nosso lado o tempo todo nesse momento que a gente mais precisou".

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Fonte: G1

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