O encaixe ofensivo de Fred e Nenê frente à boas marcações como a do Vasco

Por Redação em 31/03/2021 às 10:39:29

Fluminense teve a bola por mais tempo, mas enfrentou dificuldades de construir jogadas com a boa marcação executada pelo Vasco. Entenda como Nenê e Fred jogaram. O Fluminense teve mais posse de bola, passes e finalizações no clássico que abriu a rodada do Carioca, contra o Vasco. Mas não jogou bem. Contra um adversário organizado o tempo todo, a equipe de Roger Machado teve dificuldades para construir jogadas e mostra que Nenê e Fred precisarão de mais dinâmica do time todo.

Os dois times começaram o jogo no 4-2-3-1, o que pouco importa. A postura foi clara desde o início: o Fluminense postado no campo de ataque, o Vasco retraído com duas linhas de quatro, Cano e Pec lá na frente. Uma equipe em organização ofensiva. A outra, em organização defensiva. Durante boa parte do jogo foi assim, com o Flu buscando furar o bloqueio cruzmaltino.

Assista os gols do clássico entre Fluminense e Vasco, pelo Campeonato Carioca 2021

Como o Fluminense buscava furar esse bloqueio?

Com um jogo de intensa mobilidade de posições, começando pelo papel de Nenê. Meia criador nato no PSG e no próprio Vasco, ele experimenta novas funções desde que passou sem sucesso pelo São Paulo. Roger Machado o enxerga como o "dono da construção". Sua função é se aproximar de Yago e Martinelli quando o time inicia as jogadas. Os zagueiros ficam numa linha, os dois volantes e Nenê em outra e os laterais e atacantes num outro setor.

Nenê alinha com os volantes na saída de bola

Reprodução

Qual o objetivo desse posicionamento de Nenê? Deixá-lo com mais espaço e tempo para iniciar o jogo, escolher quem recebe e depois avançar e passar da linha da bola. Quando Nenê faz isso, o resto do quarteto ofensivo - composto no clássico por Lucca, Luiz Henrique e Fred - se aproxima de quem vai receber o passe. Abaixo, um exemplo: Nenê recua, toca e o time recua no setor da bola, incluindo Nenê.

Fred recua enquanto Nenê avança: trocas ofensivas

Reprodução

O jogo de mobilidade do Fluminense exige uma dinâmica muito afinada para dar certo. Lembra que boa parte do jogo foi um duelo de ataque contra defesa? Pois o que o ataque quer é quebrar a defesa, o que o Vasco de Marcelo Cabo simplesmente negou ao Flu. Duas linhas de quatro bem coordenadas, com a defesa sempre alinhada fora da área e o meio-campo pressionando a bola o tempo todo. Aqui, acontece o mesmo: Nenê recua, inicia a construção e passa da linha da bola. Sem sucesso: o Vasco pressiona a bola.

Marcação do Vasco tirou espaços do Fluminense e impediu Nenê de conectar Fred

Reprodução

+ Cabo diz que resultado foi muito injusto para o Vasco e elogia dupla da base: "Mudaram panorama"

+ Roger vê desequilíbrio do Fluminense em clássico e cita reforços em "situação avançada"

Não apenas marcou bem, o Vasco explorou falhas defensivas para fazer o gol e quase vencer o clássico na pressão final. O gol nasceu de uma falha num movimento chamado de "proteção da área": quando laterais e zagueiros precisam se mover, o primeiro volante (e o segundo) devem proteger a área, quase que como zagueiros. Egídio sai na cobertura de Léo Matos, mas Martinelli perde o tempo de interceptar o passe no que se torna a assistência para Cano.

Gol do Vasco vem de falha na proteção da área

Reprodução

MAIS DO BLOG

+ Aguero se despede do City com a inteligência que só um centroavante especial tem

+ Os primeiros indícios do Jogo de Posição no Internacional

+ O novo papel de De Jong no melhor Barcelona da Era Koeman

Roger Machado, técnico do Fluminense

André Durão

Sabemos que o Fluminense pensou sua organização ofensiva, para quebrar as duas linhas do Vasco, com mobilidade. Todo mundo se aproximando da bola, com trocas de posição. Enquanto uns se aproximam da bola, o chamado "apoio", outros passam da linha da bola e ocupam a cola dos zagueiros, a chamada "profundidade". Por que não deu certo?

1) A entrelinha era pouco ocupada. Quando ocupada, não era acionada

O Fluminense se dividia entre quem se aproximava da bola e quem se afastava dela. Apoio e profundidade. Quem se deslocava no espaço dava condições de quebrar a defesa do Vasco, pois se recebessem a bola, obrigariam o Vasco a tirar os zagueiros do lugar. Pouco aconteceu. Nenê teve dificuldades para fazer o movimento abaixo, de ocupar a entrelinha, e quando ocupava, não recebia o passe.

Nenê passa da linha e está na entrelinha, mas longe da bola

Reprodução

O Flu buscou muito o jogo pelas laterais, e Roger conectou essa busca ao sofrimento nos contra-ataques que o time apresentou:

A forma como a gente ataca determina a forma como a gente defende. Se já temos dois jogadores à frente, um meia-atacante, um volante que passa da linha da bola. Se eu tiver os dois laterais em amplitude completa ao mesmo tempo, automaticamente vou ter três ou quatro jogadores para as transições. É muito pouco. Não vou conseguir pressionar o adversário de frente, vou acabar correndo na direção do meu gol quando perder a bola.

2) Faltou diagonais em direção ao gol quando a bola estava com os meias

Outra forma de fazer o jogo de mobilidade quebrar uma defesa organizada é com desmarques. Sabe quando o atacante corre nas costas do zagueiro, se posiciona na frente do gol? Ele se desmarca da linha defensiva e gera a opção de passe mais próxima possível do gol. Fred, por característica, não é um centroavante de desmarque.

Por isso, faltou que Lucca e Luiz Henrique - ou o volante que troca de posição como na imagem - posicionassem o corpo e realizassem o desmarque. Ao virar de costas para o lateral, Yago indica que dará apoio. Se estivesse perfilado em diagonal e de frente para o gol, indicaria profundidade - e obrigaria o lateral do Vasco a sair de sua posição, a trocar o tempo mental e marcá-lo individualmente.

Fred, Lucca e Yago não dão desmarques para Nenê

Reprodução

3) Faltou aproveitar melhor o pivô de Fred

Não se discute a qualidade de Fred, que mesmo em final de carreira, acrescenta demais a qualquer equipe. A discussão é sobre como o time irá aproveitar esse talento. Como o Flu tinha dificuldades em ocupar a entrelinha, Fred muitas vezes recuava muito. Deixava a profundidade para dar apoio. Não está errado - o erro é apenas Lucca ocupar a profundidade e ser a única opção de passe na continuidade dessa construção da imagem abaixo.

Fred recua e apenas Lucca ocupa a linha dos zagueiros

Reprodução

Os três itens acima são uma espécie de manual para quebrar uma marcação organizada, num bloco bem baixo, atenta, num time que joga em mobilidade. Diferente do time que joga posicionado. Ou joga o Jogo de Posição. Ou pratica o jogo direto, associado aos ingleses.

No fim, não há um termo que defina o que Roger quer no Flu. Mas é certo: o técnico precisará de trabalho para encaixar Nenê e Fred, pergunta que já incluiu Ganso por aí, algo que o bom jogo do Vasco deixou ainda mais claro.

Me siga no Twitter

Me siga no Facebook

Me siga no Instagram

Fonte: Globo Esporte/G1

Comunicar erro
Agro Noticia 728x90