Quase metade dos profissionais negros não cria vínculo com a empresa

Por Redação em 08/06/2021 às 15:48:02

Pesquisa mostra que não basta ter ações de recrutamento para aumentar a diversidade racial. É preciso investir no combate ao racismo e no desenvolvimento Profissionais negros consideram importante ações dentro das empresas como formação antirracista e criação de comitês de diversidade, mostra pesquisa

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A despeito da maior quantidade de ações de programas de diversidade e de inclusão racial lançado por empresas no país em 2020, uma nova pesquisa do Indeed com o Instituto Guetto indica diversos desafios para construir um ambiente inclusivo e de promoção à ascensão étnico-racial. Entre os 245 profissionais negros entrevistados, 84,5% declararam que as empresas onde atuam não possuem políticas ou planos de apoio específicos para seu desenvolvimento profissional. Melhores salários e oportunidades de desenvolvimento são as maiores demandas dos profissionais negros, indica a pesquisa obtida com exclusividade pelo Valor. Salário e benefícios (84%), crescimento profissional (74%) e preocupação com diversidade e inclusão (57%) são os principais pontos que motivam a atração de talentos negros.

Quase metade deles relatou não ter criado vínculo afetivo (senso de pertencimento) com as companhias onde atuam e 60% já sentiram discriminação racial no ambiente de trabalho. Diante de uma situação discriminatória, cerca de 25% não denunciaram ao RH por medo de perder o emprego e 17% já mudaram de trabalho devido ao racismo. “Houve de fato um movimento das organizações em criar novos programas [para contratar profissionais negros], mas os dados da pesquisa mostram que esse movimento de diversidade ainda é sem espírito”, avalia Vitor Del Rey, presidente do Instituto Guetto. Em sua visão, as empresas estão buscando “dar uma resposta à sociedade”, lançando ações estratégicas para se posicionar em torno da inclusão racial, mas não estão combatendo o racismo, tampouco criando ações que foquem no longo prazo e no desenvolvimento dos profissionais.

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Para criar uma empresa mais inclusiva, 71,8% dos entrevistados na pesquisa indicaram ter um profissional negro atuando diretamente no processo de recrutamento e seleção, quase 65% indicaram a participação de negros em processos de tomada de decisão e 24,1% dos entrevistados citaram ter um sistema de cotas para negros em cargos de liderança como uma das ações mais importantes a serem implementadas.

Em termos de treinamentos, quase 70% dos entrevistados apontaram ser importante ter um programa de formação antirracista contínuo dentro da organização, 40% indicaram letramento racial e 20% apontaram treinamento de sensibilidade.

Práticas para criar ambiente mais aberto à inclusão

Comitês de diversidade também são vistos com grande importância para evoluir essa agenda para mais de 55% dos entrevistados. “Comitês de diversidade são importantes para manter a discussão no alto nível da organização, mas não funcionam sem embasamento, representatividade ou se as decisões que saem dali não têm força”, avalia Del Rey. Na pesquisa, 53% dos profissionais apontaram a necessidade do envolvimento das lideranças nestes comitês.

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Quando perguntados em quais funções e cargos avistavam profissionais negros em suas organizações, mais de 60% dos entrevistados apontaram as funções de serviços gerais, como limpeza e guarda patrimonial. Apenas 15,5% dos respondentes afirmam haver profissionais negros que trabalham em cargos de dono/sócio, vice-presidente ou diretor. Entre os estagiários, esse percentual foi de quase 40% e nos trainees, 12,7%. “É preciso dar oportunidade para crescimento e desenvolvimento muito além da formação. Tem muitos negros hoje formados e que suas vidas não mudaram. Aliás, tem muito trainee que fala que a profissão dele é trainee, porque não o efetivam e ele acaba pulando de um para outro”, diz Del Rey.

Em quais funções havia/há profissionais negros na empresa em que você trabalhou/trabalha?

A pesquisa foi realizada em março pelo site de empregos Indeed com o Instituto Guetto, instituição sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas e indicadores e gerencia treinamentos e consultorias para combater as iniquidades raciais e de gênero no ambiente institucional. Cerca de 65% dos 245 profissionais negros entrevistados possuem de 18 a 34 anos e 25,6% têm de 35 a 44 anos. A maioria declarou ocupar posições de assistente (35,5%) e de analista (23,7%) e 38% trabalham em empresas com mais de 500 funcionários. Apenas um dos 245 entrevistados ocupa a posição de dono ou sócio da companhia e nenhum membro do grupo relatou ser vice-presidente ou diretor na empresa onde atua.

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Fonte: Valor Econômico

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