António Oliveira aponta mágoas na saída do Athletico: "Tem situações que não me compram"

Por Redação em 17/09/2021 às 13:06:07

Em entrevista ao ge, treinador se emociona ao falar dos motivos da saída do Athletico e faz balanço da passagem. Ele já teve sondagens de alguns clubes, como o Vasco Há nove dias, o pedido de demissão do técnico português António Oliveira movimentou os bastidores do Athletico. Mas, o que fez com que o treinador deixasse o comando de um time que está brigando por títulos na Copa do Brasil e na Sul-Americana?

Sensação no início da temporada com o "Antónismo", ele saiu do Furacão após a eliminação na semifinal do Campeonato Paranaense.

Em entrevista ao ge, António Oliveira falou sobre os motivos que pesaram na sua decisão, o relacionamento com os jogadores, a sondagem de outros clubes (como o Vasco) e fez um balanço da sua passagem pelo clube.

Tem situações que não me compram, muito menos a minha dignidade, a minha forma de ser e estar na vida e no futebol. E nessa perspectiva há mágoas que deixo

Antonio Oliveira foi contratado pelo Athletico no ano passado, após convite do gerente executivo William Thomas, que tinha trabalho com o profissional no Santos. O português trabalhou na comissão técnica de Paulo Autuori e fazia parte do plano do clube de ter uma escola de treinadores. Na época, Autuori dividia as funções de treinador e diretor de futebol.

Antes de anunciar que António Oliveira seria o treinador do Athletico para 2021, o clube chegou a negociar com Roger Machado, que depois acertou com o Fluminense. Só depois disso, o clube resolveu investir em uma solução caseira: uma comissão técnica integrada com António Oliveira, Bruno Lazaroni, Bernardo Franco, todos sob a tutela de Paulo Autuori.

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Foram 40 jogos, 21 vitórias, sete empates e 12 derrotas, 58% de aproveitamento. António Oliveira foi o responsável por conduzir o Furacão em seu melhor início na Série A e deixou o time vivo na busca dos bicampeonatos da Copa do Brasil e da Sul-Americana.

- Essa mágoa de não poder estar em Montevidéu (palco da final da Sul-Americana), que sei que vai acontecer. Vai acontecer porque trabalhamos para que isso aconteça. Falei que viria para ganhar títulos e estamos em competições para isso, e existe uma com possibilidade grande, que é a Sul-Americana - destacou.

António Oliveira fala sobre a saída do Athletico

Weliton Martins

Leia a entrevista completa:

Por que você decidiu deixar o Athletico?

É evidente que muita gente ficou pasmada, ficou pensando que esse homem é maluco, só pode ser. Mas como digo sempre: pra mim é um conjunto de valores que jamais poderei abdicar, independentemente de dinheiro, de títulos. Tem situações que não me compram, muito menos a minha dignidade, a minha forma de ser e estar na vida e no futebol.

E nessa perspectiva há mágoas que deixo. Essa mágoa de não poder estar em Montevidéu, que sei que vai acontecer. Vai acontecer porque trabalhamos para que isso aconteça. Sempre disse para os jogadores e também para aqueles que disseram "quem é esse louco”. Falei que viria para ganhar títulos e estamos em competições para isso, e existe uma com possibilidade grande, que é a Sul-Americana.

Tenho a mágoa de nunca ter conhecido a torcida do Athletico, que me tratou sempre muito bem, evidente que não agradamos a todos, mas isso faz parte. Tenho mágoa também porque na primeira das três vezes que tentei sair, pelo mesmo motivo que sai na terceira, dessa vez não foi ao Paulo Autuori, que é um pai pra mim. E eu tinha prometido aos jogadores que não iria desistir deles, e que iria ficar até o fim, mas têm coisas que não controlamos.

É essa minha postura em termos pessoais e transporto pra vida pessoal. Foram situações que foram ganhando corpo, me desgastando, e culminou naquele jogo contra o FC Cascavel. Com todo respeito, não era minha prioridade ganhar o Paranaense, o adversário tem todo respeito. Mas, principalmente, foi por questões de índole pessoal, da personalidade, caráter, dignidade, que não tem preço e pra mim é o motivo mais justificável. Tinha que ser motivo muito forte para eu sair de uma situação vantajosa, em um trabalho que vem de um ano.

Você falou em dignidade, motivos fortes para sair, quais seriam?

São esses que citei, que feriram meus valores, mas levo para mim como aprendizado pra vida. Tenho 38 anos, era o treinador mais jovem da Série A, sei como cheguei aqui e é dessa mesma forma que saio também. Minha vida pessoal e profissional vai seguir desejando muito por esse 20 de novembro, que foi um dia que eu sonhei.

O que que você sonhou?

Peço desculpas porque não consigo esconder as emoções, tem um sentimento grande de injustiça que levo grande comigo, mas não me agarro ao passado. Me agarro ao futuro. Mas relativamente ao sonho, sonhei muitas vezes em levantar a taça (da Sul-Americana) no dia 20 de novembro.

António Oliveira ficou no Athletico por quase um ano

Athletico

Sobre contratações, perda de jogadores, como você se sentiu?

Senti quando perdi o Matheus Babi, depois a venda do Vitinho, que era um jogador mais decisivo, com mais assistência e mais gols. Isso faz parte do futebol. Não cabe a mim. O clube fez tudo ao seu alcance para poder repor, tentar que o elenco fosse o melhor para atacar todas as competições. Mas nós não tínhamos roupa para todos os casamentos, em alguns tínhamos que estar de bermuda e havaianas, para estar bem, de smoking, nas competições que poderíamos brigar. O Athletico, disputando as quatro competições, não seria campeão brasileiro.

Seu pai, Toni, deu uma declaração dizendo que você acabou saindo por conta "de um cancro, um câncer." Você conversou com ele? E seu relacionamento com Jadson?

Pai é pai. Quando meu pai estava no alto rendimento, eu era um defensor nato dele. Mas ele é responsável por suas afirmações. Se quisermos abordar a situação do Jadson, é simples. É um jogador talentoso, tem história fantástica dentro do futebol mundial, tem uma passagem inesquecível por aquele Shakhtar, junto com o Fernandinho, e sempre disse que sou fã do futebol dele – e ele sabe. Mas também fui sempre muito honesto com ele sobre a importância que um jogador pode ter dentro de um grupo de trabalho. O jogador não se mede pela importância dentro de campo, mas pelo que também pode agregar ao grupo com sua história, liderança. E foi sempre essa abordagem que tive com ele.

Foi quase um ano no clube. Que legado você acredita que deixou?

Eu conversei com alguns jogadores. Uma das preocupações que tinha é que gostaria que lembrassem de mim por alguma razão. Eu entendo que o treinador cria uma identidade de jogo através do treino, mas um treinador é muito mais do que isso, é um treinador de recursos humanos, de emoções. Felizmente, da parte deles, tive essa aceitação, e foi um ano que convivemos porque o elenco é praticamente o mesmo de uma temporada para outra.

É uma trajetória, um caminho, que me deixa orgulhoso, liderado pelo Paulo Autuori, por quem tenho um carinho enorme, uma pessoa fantástica, profissional inacreditável. Alcançamos diversos objetivos, mas o mérito principal é dos jogadores. E tenho certeza que esse trabalho será coroado no dia 20 de novembro. Estou eternamente grato ao clube pela oportunidade, mas acho também que o clube está grato pelo trabalho que foi desenvolvido com profissionalismo, ambição e sempre com o objetivo de vitória.

Como você deixa o Athletico?

Felizmente, o Athletico me deu essa projeção. O António que chegou aqui em outubro hoje é um António diferente pela visibilidade, pelos resultados que falam por si. Ao final de 40 jogos, ter 60% de aproveitamento é impressionante. Por que, com todo respeito, o Athletico é grande, mas não tem os mesmos investimentos que têm Palmeiras, São Paulo, Atlético Mineiro, Flamengo, que chegam mais consistentes para alcançar títulos. Mas tenho certeza que mais 20 de novembros vão chegar. Eu não paro de falar desse dia 20 de novembro porque acho que vou pegar um avião e vou até lá com eles.

Como era seu relacionamento com os jogadores?

Foram meus jogadores que me colocaram nessa posição e sou muito grato a eles. Tenho grandes líderes dentro do grupo e eles sabem. Têm pessoas que não posso deixar de falar: Thiago Heleno é um, assim como o Santos, o Nikão, jogadores que são lendas dentro do clube, que devem ser eternizados porque o que alcançaram é espetacular. Não quero ser injusto, todos eles são importantes, mas dentro do vestiário esses são muito importantes e sempre estiveram comigo. E eu sou assim.

O que você está pensando para o futuro? Já tem recebido sondagens?

O trabalho que foi desenvolvido por muita gente deu capacidade de, no outro dia, já poder estar trabalhando de novo. A cultura aqui é de sai de um, vai para o outro. Não estou criticando, mas pra mim tem momento para parar, refletir e ponderar, porque o meu próximo passo é muito importante. Quero entrar mais uma vez em um projeto que tem condição de ser vencedor. (Nota: António foi procurado pelo Vasco e por um time paulista).

Como era, ou melhor, como é seu relacionamento com o diretor técnico Paulo Autuori?

Paulo Autuori é como um pai para mim e faz parte da minha família. Estarei sempre grato a ele. Nós já tínhamos na cabeça que queríamos acabar esse ciclo, para até combater esse ciclo de mudar muito de treinador, esse modismo tem que mudar até para crescer e evoluir o futebol brasileiro.

Que recado você gostaria de deixar para o torcedor atleticano?

Não é pedir desculpa, o sentimento é que tenho essa mágoa de não os ter conhecido, nem fosse para me xingarem, mas acima de tudo dizer que não os abandonei, mas havia algo que era contra a minha forma de ser. Meu maior título é a dignidade, e é dessa forma que quero ser lembrado, um treinador português que passou por aqui com imagem de profissionalismo.

Fonte: Globo Esporte/G1

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