Novos parâmetros para diferenciar a prática da teoria

Por Redação em 20/04/2022 às 06:48:22

Até o ano passado, a classificação de fundos sustentáveis da Anbima abrangia apenas a classe de ações. Percebendo que nos últimos anos houve um crescente no número de fundos que se autodenominavam "verdes", "sustentáveis", ou "ESG/ASG", mas que acabavam não entrando em seu radar, a entidade resolver lançar uma nova parametrização para esses produtos, esta que começou a valer agora em 2022. O objetivo é acompanhar mais de perto esse novo mercado e ajudar os investidores a separar o joio do trigo (quem é de quem só fala que é sustentável).

“Começamos a identificar um crescente número de novos produtos que pareciam ESG e percebemos que era importante entender como diferenciar quem é mesmo sustentável de quem não é. Olhando o que outros países estão fazendo, como Reino Unido e mercados europeus, decidimos trabalhar com a identificação de fundos e não com classificação”, comenta Carlos Takahashi, da gestora BlackRock no Brasil e coordenador do grupo consultivo de Sustentabilidade da Anbima.

Para ser considerado fundo de investimento sustentável e ganhar o sufixo “IS” (Investimento Sustentável), é preciso ter sua estratégia amarrada com a temática. O processo de escolha dos ativos, metodologia e os dados que dão suporte à gestão da carteira devem ser divulgados, entre outras obrigações. As orientações constam no código de Autorregulação da Anbima.

Na prática, serão orientações mais de princípios e menos prescrições para identificar o fundo IS. “Constatamos um aumento no número de emissões e fundos, mas temos que olhar qual a qualidade desse crescimento”, pontua.

Os fundos de ações classificados na categoria sustentabilidade/governança têm 12 meses para adaptação, contados a partir da edição da norma, que foi em janeiro. Os demais fundos de ações e renda fixa tem 180 dias para adaptação. Ou seja, até o início de julho.

Não temos o número exato de adesões, mas sabemos que, por enquanto, é baixo. As regras definidas são bastante rigorosas e se aplicam tanto para o fundo quanto para a gestora, sendo, portanto, natural que as gestoras de recursos levem alguns meses para adequar suas políticas, procedimentos e estruturas de governança para o cumprimento dos novos requisitos.

“Embora o número de fundos de fato cadastrados ainda seja pequeno, temos percebido um grande interesse das gestoras e esse número deve crescer. Recebemos dúvidas praticamente todos os dias sobre as regras e procedimentos a serem adotados”, explicou a Anbima ao Prática ESG.

A entidade comentou que, em uma reunião aberta com o mercado realizada no início de fevereiro para responder dúvidas do mercado, participaram 410 pessoas de 109 diferentes instituições, “o que confirma o grande interesse pelo assunto”.

Parametrização

Até por ser uma área recente e que carece, em alguns casos, de metodologias e indicadores unificados para analisar todos os seus pormenores, é natural que haja tropeços – o que iniciativas como a da Anbima querem evitar. Uma reportagem do Financial Times de meados de fevereiro conta a história de uma diretora de negócios que descobriu que a maior parte do portfólio de investimentos verde era composta de ações de bancos e não, como esperava, de empresas que desenvolvem energia limpa. A reportagem lembra ainda uma pesquisa feita no ano passado que avaliou 600 fundos de ações “sustentáveis” e constatou que 400 deles não estavam alinhados com as metas do Acordo de Paris.

Pesquisa recente feita pela XP com 123 gestoras (107 locais e 16 internacionais), mostrou que apenas 19% delas oferecem produtos específicos com abordagem ESG proprietária. Além disso, só 32% das gestoras realizam seu próprio inventário de emissões de gases de efeito estufa anualmente. Pouco menos de metade (46%) são aderentes ao PRI (Princípios para Investimentos Responsáveis), 1% tem certificado como Empresa B, 9% adere ao Net Zero Asset Managers Iniciative e 11% ao Código AMEC de Princípios e Deveres dos Investidores Institucionais.

Duas em cinco (40%) gestoras abordaram inicialmente a pauta ESG há pelo menos três anos e 57% de todas as respondentes utilizam a integração ESG no processo de investimento, isto é, incorporar os fatores ESG aos modelos de análise/valuation, ainda que nem todas (só 46%), excluem das carteiras aplicações baseadas em determinados segmentos de mercado, empresas ou países que não seguem critérios de ESG, a chamada estratégia de filtro negativo. Estamos avançando, mas ainda falta estrada.

Fonte: Valor Econômico

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