O novo casamento de luxo: orçamento dobra e festas passam de R$ 1 milhão com aumento de alimentos e flores

Por Redação em 13/08/2022 às 18:53:32

Preço para uma festa bacana em São Paulo saiu de R$1,5 mil por convidado em 2019 para R$ 3,5 mil por cabeça no pós-pandemia. Buffet nobre, champanhe de qualidade e muitas (muitas!) flores ajudam a compor o orçamento. Influenciadora Juliana Motta conta que casamento quadruplicou de valor

Casamento de luxo é um negócio caro. Mas ficou muito mais depois da pandemia. O preço do pacote básico de um casamentão com tudo do bom e do melhor saiu de R$ 1,5 mil por convidado para pelo menos R$ 3,5 mil.

A estimativa é da planejadora de casamentos de luxo Ana Julia Figueiredo, que atua no ramo há 16 anos. Nesses valores, não estão inclusos os gastos pessoais, como vestido da noiva, cabeleireiro e noite de núpcias.

Detalhes dos casamentos de alto luxo

Divulgação/Duo Borgatto

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"Falo: dá pra fazer uma festa legal com R$ 4 mil por convidado. Numa primeira entrevista com os noivos, eu já espanto", ela brinca. Mas o aumento tem explicação.

Primeiro, tudo parou. Depois, tudo subiu. Agora, tudo abriu e continua subindo. Essa junção de uma demanda forte (muita gente querendo casar e fazer festa) com preços elevados fez os valores dos serviços e produtos do setor de festas explodirem, diz.

A influenciadora Juliana Motta está noiva e foi pega de surpresa pelos novos preços. Pedida em casamento em 2019, ela teve o planejamento interrompido em 2020. De lá pra cá, para fazer o mesmo casamento que tinha planejado, em torno de R$ 60 mil, ela vai precisar desembolsar 4 vezes mais que o programado. E isso porque a planilha nem fechou ainda.

Comer e beber tá caro, né?

Os preços do buffet aumentaram 50%. Se antes era possível servir um menu bom e básico a partir de R$ 280 por pessoa, agora é preciso desembolsar pelo menos R$ 420. O básico tem uma carne branca, uma vermelha, uma massa, uma guarnição (risotto ou vegetais), salada, ilha de antepastos, sobremesas e coquetel de bebidas não alcoólicas. Já no mais elaborado, pode ter foie gras, polvo e trufas.

As bebidas alcóolicas também têm sua parte no aumento da conta. "Hoje a gente paga num champanhe a partir de R$ 400. Antes, conseguia por R$ 300. E vai muita, uma média de consumo de uma garrafa a cada dois convidados. E ao mesmo tempo que tem que ter o bar de caipirinhas, com muitos drinks, o que custa mais R$ 100 ou R$ 120 por convidado. A partir de", elenca. E ainda tem vinho e uísque.

Além disso, há os detalhes: convite, calígrafo, sandálias para os convidados dançarem na festa, lembrancinhas, louças e decoração de mesa e valet para os carros elevam muito os custos.

Quando se coloca todos os gatos numa planilha, os casamentos de luxo conseguem ultrapassar o valor de R$ 1 milhão. "Eu falo morrendo de vergonha, porque é muito dinheiro. Mas o caro é relativo. A gente tem que tomar cuidado quando fala com alguém para não soar esnobe", se preocupa Figueiredo.

Flor, um espetáculo à parte

Arranjos florais feitos por André Pedrotti

Divulgação / Helson Gomes

Dá pra casar sem flores?

Bom, dá, mas elas são o charme da decoração do evento. Quando se trata do mercado de luxo, “o céu é o limite para decoração e flor”, diz Figueiredo.

Juliana é uma dessas noivas que fica nas nuvens quando o assunto é decoração. Depois de sofrer para achar um lugar à beira-mar que acomodasse seus convidados, ela levou outro susto.

"Sem dúvida, o que mais subiu foi a decoração. Ela ia sair em torno de R$ 30 mil, o que já é bastante. Mas tudo subiu, tá todo mundo casando em 2022 e 2023. E todo mundo quer decorar com flor, que está escasso aqui no Rio de Janeiro. Então realmente triplicou de valor. Minha cerimonialista cansa de falar que eu quero um casamento cheio de flor, por isso está caro", conta.

O aumento expressivo desse mercado pesou no orçamento das festas. Antes da pandemia, a planejadora diz que para organizar um casamento para 400 pessoas, gastava, em média, R$ 200 mil com flores e decoração. Hoje, o valor chega a R$ 380 mil.

"Ah, mas será que não dá pra achar mais barato?". Aí que tá: esses são os preços do mercado, não de um fornecedor específico, garante Figueiredo.

Um dos fornecedores dela é André Pedrotti, um dos floristas mais procurados para festas de luxo no Brasil. E ele conta detalhadamente como tudo que a gente vê todos os dias (dólar alto, problema nas cadeias de distribuição, combustíveis disparando) convergiram para que o preço das flores aumentasse 300% em média:

Royalties: Primeiro, você sabia que é preciso pagar royalties sobre as flores? Ele conta que há três laboratórios de rosa no mundo que desenvolvem os botões e cobram uma graninha de quem planta. E o preço desse royalty acompanha o dólar. Como o valor da moeda subiu muito neste ano, encareceu também a produção.

Fertilizante: Os insumos para garantir a produção das flores, como adubo e fertilizantes, são importados (ou seja, comprados em dólar) e também subiram.

Combustíveis: E, para coroar, as estufas para manter a refrigeração das flores são mantidas com diesel ou carvão. Combustíveis tiveram um boom de preços após a guerra da Ucrânia.

Leilão: Tem muita gente querendo comprar. E todos os compradores disputam as flores no leilão de Holambra, interior de São Paulo, que acontece apenas três vezes por semana. Se você não der o lance rápido e alto, corre o risco de ficar sem as flores no final do "pregão" virtual.

O preço da condução das flores também é alto. Elas andam em caminhões refrigerados de Holambra a São Paulo. E, da capital, se espalham para o local das festas. Para decorar um casamento em Manaus no mês passado, Pedrotti ocupou 70% de um avião com flores.

E os preços?

As rosas são as flores usadas em maior volume nas festas. O botão dela passou de R$ 0,30 para R$ 3.

As tulipas também ajudam a fazer volume. E um maço foi de R$ 22 para R$ 35.

As orquídeas são as queridinhas. O galho dela aumentou de R$ 12 para R$ 30.

E as peônias são as mais disputadas, porque dão pouco e são charmosas. E mais caras: um botão custa de R$ 25 a R$ 30.

Rico também chora por desconto

Mesmo quem tem muito dinheiro para bancar um festão também chora por descontos e sente o impacto dos aumentos, ou porque compara orçamento com festas anteriores ou com as de amigos.

Mas mesmo com os preços altos, Ana Julia diz que nunca fez tanta festa quanto agora. "Ainda tem clientes de casamentos de 2020 e 2021. E a ânsia de clientes novos querendo celebrar a todo custo. As pessoas voltaram a casar às sextas, começaram a casar aos domingos, parou de ser só no sábado. Eu tenho um casamento na quinta que vem."

Ruim para alguns, bom para outros. Ela diz que um casamento para 400 convidados gera 200 empregos, entre produção, montagem e a festa em si.

Fonte: G1

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