Na véspera do Natal, compras de última hora e "lembrancinhas" dão alívio ao comércio

Por Redação em 24/12/2022 às 18:34:16

Além da inflação, a renda mais curta e o alto endividamento — com muita gente usando o décimo terceiro para quitar débitos —, o varejo teve de dividir atenções em dezembro com a Copa do Mundo O sábado foi de corredores de shoppings e ruas de comércio popular movimentados na véspera do Natal pela busca de presentes pelos atrasados ou que não resistiram aos apelos do varejo. A última semana da temporada de compras natalinas trouxe algum alívio aos lojistas, após entidades ligadas ao comércio terem reduzido as previsões de alta das vendas neste ano.

Este dezembro foi atípico, apontam representantes do setor. Além da inflação, a renda mais curta e o alto endividamento — com muita gente usando o décimo terceiro para quitar débitos —, o varejo teve de dividir atenções com a Copa, que beneficia mais alimentos, bebidas e serviços como os de bares e restaurantes.

Asegunda parcela do décimo terceiro, paga pelas empresas na terça-feira, e o velho hábito de deixar tudo para a última hora ajudaram a impulsionar as vendas nos últimos dias, diz o diretor institucional da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop), Luis Augusto Ildefonso.

”Dezembro começou acanhado e estava morno, mas, nos dias que antecedem o Natal, o movimento foi bem intenso. Do dia 20 a 24, estimamos movimentação entre R$ 5 bilhões e R 6 bilhões, um aumento de 4,5% em relação ao mesmo período de 2021”, afirmou.

Em geral, o setor considera a performance de 2022 próxima ou superior à de 2019 (antes da pandemia). Gustavo Rodrigues, superintendente do Rio Sul, na Zona Sul da capital fluminense, diz que o segundo semestre preocupou, mas o movimento no fim do ano está 20% acima da de 2021.

“A eleição muito polarizada e a Copa entre duas datas importantes (Natal e Black Friday) causou apreensão. Dezembro começou devagar, mas depois que oi Brasil foi eliminado, as atenções se voltaram para o Natal”, disse Rodrigues.

Também na Zona Sul do Rio, o Shopping Leblon tinha corredores cheios na noite de sexta-feira e manhã de sábado. Segundo o superintendente Rodrigo Lovatti, este deve ser o melhor ano de vendas em termos nominais de todos os 15 anos do empreendimento, que abriu recentemente uma expansão com mais serviços para atrair consumidores.

Nos shoppings e no comércio popular, com o bolso do consumidor mais apertado, as protagonistas são as “lembrancinhas”, como chocolates, acessórios, perfumaria e cosméticos, cujos tíquetes-médios são mais baixos.

No Mercadão de Madureira, na Zona Norte do Rio, a média dos presentes girou entre R 50 e R 150, estima Fabio Barbosa, assistente de Marketing do centro de compras. Na Saara, tradicional região de comércio popular do Centro carioca, as lojas ficaram abertas até as 14h neste sábado, mas os lojistas se dividiram sobre o balanço das vendas de Natal. Na StarBrink, a dona Lisa Chen calcula que as vendas de brinquedos ficaram um pouco abaixo da marca de 2021, o que atribui aos preços mais altos:

“É a inflação. Mesmo diminuindo nossa margem de lucro, os preços subiram cerca de 15% para os clientes. Para o lojista, tem produto com 50% a 100% de aumento. E com o fornecedor não tem negociação: compra ou não compra”, disse.

Presidente da associação Polo Saara, Sergio Obeid calcula que, na média, o Natal ao menos equilibrou os números dos lojistas:

“Esta semana o fluxo na rua aumentou 20% em relação a semana passada. E com isso creio que vamos ter um fechamento igual ao do ano passado”, afirmou.

Maria Aparecida dos Santos, de 46 anos, foi à Saara em busca de looks pra família toda usar neste sábado. “Com toda a correria de trabalho, não consegui vir antes. A verba hoje é de R 100 pra roupas novas pra cada um. Pro meu filho e pro meu marido já comprei bermudas. Agora vamos ver pra minha filha”, contou ela, acompanhada da filha Beatriz, estudante, de 16 anos.

As finanças são controladas, mas a situação já melhorou do ano passado para este. A filha mais velha, que em 2021 estava desempregada, conseguiu uma ocupação: é caixa de um supermercado no Rio.

Na casa de Lauriene Cardoso, de 56 anos, a situação é parecida. Como alguns membros da família trabalham com produção de eventos, a volta às atividades aconteceu bem aos poucos. E é neste ano que eles respiram mais aliviados. Na manhã deste sábado, ela foi em busca de agrados pra três crianças, entre elas a neta Manuella, de 9 anos. “Já tinha comprado a comida pra ceia, enfeites pra mesa, mas hoje tive que sair pois faltavam alguns presentes. Tenho R$ 200 de verba ainda, vai dar pra garantir umas lembrancinhas”, conta Lauriene.

“No ano de 2022, aliás, é de volta sob outros aspectos. Para as irmãs Elizabeth Cardoso, de 35 anos, e Eliane Lopes, de 28, será um reencontro da família completa. — No ano passado, mesmo com a flexibilização das restrições, passamos apenas cinco pessoas da família juntas, por termos uma pessoa de idade avançada entre nós e queremos protegê-la mais. Este ano, com todo o cenário melhor, vão os 10 da família”, conta Elizabeth.

As duas estavam no Saara em busca de um presente de até R 50 para o filho de Elizabeth e sobrinho de Eliane: Christian, de 9 anos. “É o mais difícil de dar presente, pois é muito indeciso”, avalia a mãe.

Fonte: Valor Econômico

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