A economia da China caminhará em direção a uma recuperação em 2023 após o fim das restrições da política “zera covid”, mas exportações lentas, aumento da poupança e um possível ressurgimento de infecções pairam sobre as perspectivas do país.
O produto interno bruto (PIB) real da China cresceu 2,9% no quarto trimestre de 2022 ante o mesmo período de 2021, informou o Departamento Nacional de Estatísticas (NBS) na terça-feira, desacelerando em relação a um aumento de 3,9% no terceiro trimestre de 2022. O PIB real não cresceu nos dois trimestres quando comparados aos trimestres imediatamente anteriores.
O crescimento real para todo o ano de 2022 foi de 3% em relação ao ano anterior, bem abaixo da meta do governo de cerca de 5,5%.
Os bloqueios e outras restrições da “zera covid” pesaram fortemente na economia da China durante a maior parte de 2022. As restrições foram suspensas em 7 de dezembro, mas a disseminação subsequente do vírus foi um golpe nos gastos do consumidor e nas atividades comerciais.
Acredita-se que as infecções atingiram um pico nas principais cidades e a atividade está começando a aumentar. O número de passageiros de metrô em sete grandes cidades, incluindo Pequim e Xangai, aumentou 26% desde domingo, a partir de 7 de dezembro, depois de cair até 39%.
Os analistas chineses estão prevendo uma recuperação em forma de V, semelhante ao que ocorreu em 2021, quando o crescimento da China atingiu 8,4%, depois de desacelerar para 2,2% em 2020, no ápice da disseminação do coronavírus pelo mundo. O crescimento chegará a 8% em 2023, disse Wei Jianguo, ex-vice-ministro do Comércio.
Enquanto isso, as projeções de instituições financeiras estrangeiras estão mais próximas de 5%.
Apesar dos recentes sinais positivos para a economia, observadores da China dizem que três fatores principais podem diminuir o ritmo da recuperação.
O primeiro são as exportações. Elas sustentaram a economia da China durante a pandemia. A demanda externa deu um impulso de cerca de 20% ao crescimento nos últimos três anos.
Mas esse vento de cauda está diminuindo. As exportações cairão 3,7% em 2023, previu a Zhongtai Securities da China. Além de uma desaceleração econômica global, uma recuperação nas cadeias de suprimentos atingidas pela covid-19 no exterior reduzirá a demanda pela produção chinesa, disse a corretora.
Outro fator é o menor apetite por gastos dos consumidores chineses. Em uma pesquisa realizada no último trimestre pelo banco central da China (PBoC), mais de 60% dos entrevistados disseram que colocariam mais dinheiro na poupança. A diferença entre depósitos bancários e empréstimos era maior no fim de 2022 do que no fim de qualquer outro ano com dados comparáveis.
Outros sinais também desmentem as esperanças de retomada dos gastos após o fim da covid-19. A média de compras duty-free em Hainan, um popular destino de férias no sul da China, permaneceu estável no período de três dias até 2 de janeiro.
A última preocupação é um possível ressurgimento de infecções por coronavírus. As economias avançadas têm visto novas ondas a cada vários meses.
Muitos chineses viajarão para suas cidades natais durante os próximos feriados do Ano Novo Lunar, que o governo chinês teme que possa espalhar o vírus para aldeias rurais com recursos médicos limitados. As infecções também podem surgir novamente nas cidades onde se acredita que tenham atingido o pico, dificultando o crescimento econômico.
Para ajudar a estimular uma recuperação econômica, a China diminuiu sua repressão ao setor de tecnologia e está relaxando as restrições de empréstimos para incorporadoras imobiliárias. Espera-se que os títulos de infraestrutura e outros estímulos fiscais continuem a fluir. Mas a China ainda enfrenta desafios estruturais, incluindo um setor imobiliário altamente endividado, que representa um risco para o crescimento econômico sustentado.