Putin organiza nova ofensiva na Ucrânia enquanto se prepara para uma guerra prolongada

Por Redação em 27/01/2023 às 10:56:12

As recentes derrotas levaram muitos em Moscou a serem mais realistas sobre as ambições do país Quase um ano depois do início de uma invasão que deveria durar semanas, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, está preparando uma nova ofensiva na Ucrânia, ao mesmo tempo em que prepara seu país para um conflito com os EUA e seus aliados, que Moscou espera durar anos.

O Kremlin pretende mostrar que suas forças armadas podem recuperar o protagonismo no campo de batalha após meses perdendo terreno, pressionando Kiev e seus aliados a concordarem com algum tipo de trégua que deixe a Rússia no controle do território que agora ocupa, segundo autoridades, assessores e outras pessoas familiarizadas com a situação.

Mesmo Putin não pode negar as fraquezas das forças armadas que ele passou décadas construindo depois que suas tropas perderam mais da metade de seus ganhos territoriais na Ucrânia, segundo pessoas ligadas ao Kremlin.

As recentes derrotas levaram muitos em Moscou a serem mais realistas sobre as ambições do país, reconhecendo que manter os atuais territórios controlados na Ucrânia seria uma conquista.

Mas Putin continua convencido de que as forças da Rússia e a disposição de aceitar baixas – que já chegam a dezenas de milhares, mais do que em qualquer conflito desde a Segunda Guerra Mundial, de acordo com estimativas dos EUA e da Europa – permitirão que Moscou prevaleça, apesar das falhas até agora. A nova ofensiva pode começar em fevereiro ou março, disseram pessoas próximas ao Kremlin.

Os comentários de Putin confirmam as advertências da Ucrânia e de seus aliados de que uma nova ofensiva russa está sendo preparada e sugerem que ela pode começar antes que Kiev receba os novos tanques de guerra americanos e europeus. A determinação de Putin indica outra escalada mortal na guerra, enquanto Kiev prepara um novo ataque para expulsar as forças russas do território ucraniano, descartando qualquer cessar-fogo.

O líder russo acredita que não tem alternativa a não ser intensificar o conflito que vê como existencial, disseram fontes próximas ao presidente. Uma nova rodada de mobilização é possível já nesta primavera do hemisfério norte, já que a economia e a sociedade estão cada vez mais subordinadas às necessidades da guerra.

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"Putin está desapontado com o andamento das coisas, mas não está pronto para abandonar seus objetivos", disse Tatiana Stanovaya, fundadora da R.Politik, uma consultoria política. "Significa apenas que a rota será mais longa, mais sangrenta e pior para todos".

Oficiais de inteligência dos EUA e da Europa questionam se a Rússia tem recursos para uma nova ofensiva, mesmo depois de mobilizar 300 mil reservistas no 2º semestre do ano passado.

A longo prazo, Putin aprovou planos para expandir o total de militares em quase 50% nos próximos anos, destacando novas forças perto da Finlândia – que está em processo de adesão à Otan – e nas regiões ocupadas da Ucrânia. Escolas e universidades estão restabelecendo os cursos de treinamento militar, enquanto os preparativos para a guerra permeiam a sociedade.

Ainda assim, alguns elementos de realismo sobre o desempenho desastroso dos militares até o momento começaram a escapar para a mídia estatal, controlada pelo Estado.

Diplomaticamente, a Rússia tem procurado conquistar apoiadores entre os países não ocidentais, com apelos para negociações sobre um cessar-fogo. Pessoas próximas ao Kremlin admitem que não há esperança para isso no momento, dada a exigência da Ucrânia de que a Rússia retire suas tropas de todo o país como condição para qualquer acordo.

O mínimo que o Kremlin aceitaria seria uma trégua temporária que deixasse a Rússia no controle do território que suas forças atualmente ocupam, a fim de ganhar tempo para preparar uma nova ofensiva, segundo fontes. Embora aquém dos limites das regiões que Putin anexou ilegalmente em setembro, isso ainda deixaria a Rússia com uma grande faixa de terra, ligando as áreas que ocupava antes da guerra. A ideia é considerada como admissão de derrota para Kiev e seus aliados.

"A menos que algo mude, estamos diante de uma guerra de desgaste como a Primeira Guerra Mundial, que pode durar muito tempo porque ambos os lados acreditam que o tempo está a seu favor", disse Andrey Kortunov, chefe do Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia, fundado pelo Kremlin. "Putin tem certeza de que o Ocidente ou a Ucrânia vão se cansar".

Vladimir Putin durante cúpula da Organização de Cooperação de Xangai

Alexandr Demyanchuk/Sputnik e Kremlin Pool Photo via AP

Embora uma nova onda de pressão por sanções – em particular, o teto de preço imposto às exportações russas de petróleo – tenha afetado as receitas do Kremlin, até agora não reduziu a capacidade de Putin de financiar a guerra. A Rússia ainda tem acesso a bilhões em reservas em yuan, que não são afetadas por sanções e podem ajudar a reduzir os déficits orçamentários por até 2 a 3 anos, segundo economistas.

Entre os aliados da Ucrânia também crescem os temores de que o conflito dure anos.

"Este ano seria muito, muito difícil expulsar militarmente as forças russas de toda – cada centímetro da Ucrânia e ocupada – ou da Ucrânia ocupada pela Rússia", disse uma fonte ligada a Kiev.

O presidente do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, disse no dia 20 de janeiro, após uma reunião dos ministros da Defesa dos EUA e aliados. "Eu acho que no final do dia esta guerra, como muitas guerras no passado, terminará em algum tipo de mesa de negociação".

Fonte: Valor Econômico

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