IGP-DI sinaliza IGPs baixos no primeiro semestre, diz FGV Ibre

Por Redação em 07/02/2023 às 12:52:34

Favorecida por uma série de quedas de preços no atacado, a inflação apurada pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) foi de apenas 0,06% em janeiro de 2023, após avançar 0,31% em dezembro de 2022.

Isso fez com que o indicador acumulado em 12 meses até janeiro ficasse em 3,01%, o menor desde setembro de 2019 (3%), explica André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).

Responsável pelo indicador, Braz comentou que o resultado de janeiro do índice sinaliza taxas positivas, mas baixas, para os Índices Gerais de Preços (IGPs) nos primeiros seis meses de 2023.

Isso porque a taxa de janeiro está sendo beneficiada por fatores que devem perdurar até a primeira metade do ano, como boas safras no Brasil e no mundo a diminuir os preços de alimentos; e desaceleração da economia mundial, com consequente menor consumo global, a influenciar para baixo preços de commodities no atacado.

No caso do setor atacadista, 60% do total do IGP-DI, é visível a influência de itens nessa área para o resultado do indicador de janeiro. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-DI) caiu 0,19% no primeiro mês do ano, após subir 0,32% em dezembro.

“Tivemos quedas tanto nos produtos agropecuários [no atacado, de -0,56%] quanto de produtos industriais [-0,04%]”, afirmou ele.

O especialista comentou que, no caso de agropecuários, o atacado contou com continuidade de quedas de preço em itens importantes, como soja (-1,53%); e queda em bovinos (-1,08%). A boa oferta de grãos e carnes tem deixado os preços desses itens em baixa no atacado, notou.

Ao mesmo tempo, fora do setor agropecuário no atacado, no setor industrial atacadista houve forte desaceleração no preço de minério de ferro (de 16,75% para 7,05%) de dezembro para janeiro.

O economista lembrou os sinais de desaceleração da atividade econômica global a reduzir preços de commodities no mundo, e no Brasil não foi diferente. "E com taxas de juros reduzindo demanda no mundo [juros altos globais tornam compras mais caras e desestimulam consumo]; teremos mais espaço para termos preços bem-comportados por um tempo", disse.

No entanto, mesmo com queda de preços no atacado, um possível movimento de repasse, de parte desses recuos, para produtos finais ainda não ocorreu de forma intensa, notou o técnico da fundação.

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC-DI), 30% do IGP-DI, acelerou de 0,35% para 0,80% de dezembro para janeiro, principalmente por conta de aumentos de preços em cursos formais (7,45%), reajustados nessa época do ano; e em gasolina (1,12%) cujo preço foi recentemente aumentado nas refinarias da Petrobras.

Mas, no entendimento do especialista da fundação, após absorção de impacto de cursos e gasolina mais caros no IPC, esse repasse de preços mais baixos do atacado ao varejo ainda pode acontecer, ao longo do primeiro semestre. O especialista lembra que o ano de 2023 dá sinais de economia mais enfraquecida, ante 2022, com demanda interna menos intensa - um contexto que não favorece reajustes de preços.

E ao falar de atividade mais fraca, outro aspecto notado pelo especialista é o fato de que, com sinais de desaceleração da economia global, a cotação do petróleo no exterior também não sobe, e isso favorece preços menores em derivados de petróleo - como gasolina, que representa sozinha em torno de 5% do IPC.

Com isso, Braz não descarta que o acumulado do IPC, que até janeiro sobe 4,61% no IGP-DI, desacelere até a faixa dos 3%, até julho desse ano, com taxas mensais menores do indicador que representa o varejo.

Assim, como IPA e IPC representam juntos 90% dos IGPs, e têm potencial de desaceleração em suas respectivas taxas mensais, nos próximos meses, é possível que os indicadores permaneçam com taxas mensais reduzidas, embora positivas, no começo de 2023, comentou ele. "O universo parece conspirar a nosso favor para a inflação [mais baixa]", afirmou.

Julio Bittencourt/Valor

Fonte: Valor Econômico

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