O pai, a repórter e a medalhista: a história da paratleta Zileide Cassiano, revelação no salto em distância

Da perseverança familiar ao nome inspirado em famosa jornalista, Zileide alcança medalha de prata no Mundial Paralímpico de atletismo em Paris Em apenas dois anos na classe T20 do paratletismo para salto em distância, Zileide Cassiano da Silva já ostenta uma medalha de prata conquistada no Mundial Paralímpico de Atletismo. O feito é recente, aconteceu em 16 de julho, em Paris, na França.

Apoio do pai e inspiração em jornalista: Zileide brilha no atletismo

– Foi meu primeiro mundial, uma menina que nunca competiu com meninas de outros países, leiga, não sabia falar nada de inglês, nada – comentou uma sorridente Zileide.

A felicidade vai além da medalha recém-adicionada ao seu acervo, já que na mesma prova em Paris, a marca de 5m97 que lhe rendeu a prata, também rendeu o recorde das Américas no salto em distância.

Zileide Cassiano, paratleta da seleção brasileira no salto em distância

Divulgação/Comitê Paralímpico Brasileiro

Aos 25 anos, Zileide é considerada uma revelação no esporte paralímpico, pois só em 2021, em meio à pandemia, ela foi diagnosticada com deficiência intelectual.

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Sem pular a história, o caminho até esse salto na condição de vida de Zileide teve uma grande prova de amor do pai, "Seo" Rubens, pela filha, e até uma importante inspiração de uma conhecida jornalista.

Zileide Cassiano com a medalha de prata do mundial de paratletismo de Paris

Fábio Júnior/EPTV

O pai

Até 2020, antes da pandemia, Zileide Cassiano corria e treinava em Ribeirão Preto (SP), sua cidade natal, para se especializar nos 100 metros rasos. Na época, ela competia com pessoas sem deficiência, mas Rubens, o pai, sabia que tinha algo diferente.

– Eu era pai e amigo dela, porque ela não conseguia fazer amizade, e não conseguia aprender na escola também. As diretoras diziam para mim isso – comentou "Seo" Rubens.

"Seo" Rubens, pai de Zileide Cassiano, foi o maior incentivador para filha no esporte

Fábio Júnior/EPTV

Pai e filha procuraram ajuda profissional e tiveram o diagnóstico de autismo. Sem desistir do esporte, eles descobriram uma categoria no atletismo voltada para atletas nesta condição. E inscreveram Zileide nos treinamentos.

Mas surgiu um novo obstáculo no caminho. A única pista de treinamento para salto em distância ficava muito distante de sua casa, no bairro Jardim Eldorado, na zona Leste da cidade.

Treino de Zileide Cassiano, paratleta, em Ribeirão Preto (SP)

Fábio Júnior/EPTV

Sem dinheiro para o ônibus, a solução foi encontrada por Rubens, que não deixou o esporte sair do trajeto da filha. Ele juntou as economias e construiu uma pista particular para Zileide, bem em frente de sua casa.

– Eu precisei de tijolo, cimento e borracha, só que essa borracha é um pouco cara, muito difícil de arrumar. Fomos comprando um pouco daqui, dali e fizemos essa pista – explicou o pai.

Zileide Cassiano e o pai na pista construída por ela para a filha treinar perto de casa

Fábio Júnior/EPTV

O esforço de "Seo" Rubens funcionou como combustível para a filha virar uma das promessas de mais medalhas para o Brasil em futuros Jogos Paralímpicos. A categoria T20 é para atletas de alto rendimento com certo grau de deficiência intelectual, no caso de Zileide, ela tem dificuldade em se concentrar em ambientes movimentados. Mas no cantinho projetado pelo pai, ela encontrou a disciplina, e na pista improvisada, se preparou para o mundial.

– Eu fiquei muito feliz, eu não olhei pelos remendos, do jeito que foi feita, porque eu sei que foi de coração, ele se doou muito nessa pista, então eu falei, vou fazer acontecer – apostou Zileide.

E a filha do "Seo" Rubens aconteceu. Mas se a inspiração no esforço do pai transformou Zileide, Rubens também teve sua fonte inspiradora.

A jornalista

Em 1997, um ano antes de Zileide Cassiano nascer, outra Zileide chamou a atenção e mudou a vida de Rubens. Ao ver a repórter Zileide Silva em uma matéria no Jornal Nacional, na Rede Globo, ele se emocionou e, naquele momento, já sabia qual o nome de sua futura filha.

– Quando minha esposa estava grávida, eu gostava muito de assistir o Jornal Nacional. Quando eu vi a Zileide Silva entrando no ar, eu perguntei: como? Ela deve ser muito inteligente, ter muita sorte, porque era muito difícil entrar na Globo naquela época. E eu falei pra minha esposa, se eu tiver uma filha, vai chamar Zileide, porque é muito difícil e ela conseguiu – contou Rubens.

Zileide Silva, repórter da Globo que inspirou "Seo" Rubens a colocar o nome da filha de Zileide

Reprodução/EPTV

A história de superação e luta do pai e sua filha paratleta chegou até Zileide Silva através da produção do Esporte Espetacular. E a repórter se emocionou com o depoimento de "Seo" Rubens.

– Obrigado a você [Rubens], a sua emoção é a minha, que lindo que está tudo dando certo. É uma responsabilidade, porque ele me viu, uma mulher negra, trabalhando na televisão, numa rede, e hoje a filha dele é essa coisa mais linda, é uma homenagem, estou emocionada, agradeço demais ao Rubens – disse Zileide Silva.

Zileide Cassiano na pista construída pelo pai para ela treinar salto em distância

Fábio Júnior/EPTV

Uma inspiração gerou outra inspiração, além do amor de um pai e sua perseverança. Esse ciclo transformou a vida da jovem Zileide Cassiano.

– Não sou só eu, envolve muita gente, meu pai, meu treinador, minha família, é o que me alavanca, eu consigo, dá para lutar – falou a paratleta.

– [Começou] lá atrás com a Zileide Silva, tudo que eu pensei aconteceu exatamente igual aconteceu com ela. Eu vi aquela menina na Globo, e estou vendo minha filha aqui hoje. Minha filha conseguiu vencer, igual ela venceu – concluiu "Seo" Rubens.

Zileide Cassiano da Silva, prata no salto em distância no Mundial de Paris

CPB

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