Análise: sereno e focado, Filipinho comemora bi mundial e melhor ano da carreira

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Por Redação em 11/09/2023 às 07:57:56

Brasileiro chega ao segundo título com três vitórias na temporada regular e mostra que em Trestles é praticamente imbatível Há quase dois anos, mais precisamente no dia 15 de setembro de 2021, eu estreava o Boas Ondas aqui no ge. A data não poderia ser melhor, justamente para analisar a vitória de Gabriel Medina no Finals, na primeira vez que o campeonato foi decidido nesse criticado modelo. Dois anos depois, já vou para a terceira análise de título brasileiro, com o segundo seguido de Filipe Toledo, o primeiro brasileiro a ter conquistas consecutivas e o sexto da história a ganhar na sequência. Pelo menos no masculino, a justiça prevaleceu no resultado, com a vitória do surfista que ficou em primeiro lugar na temporada regular. Para mim, o melhor do ano será sempre o que terminar no topo do ranking antes do Finals. Nem sempre o campeão será o melhor daquela temporada, Carissa Moore que o diga.

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Filipe Toledo festeja bicampeonato da WSL

Divulgação

Filipe Toledo e Caroline Marks são campeões do Circuito Mundial de surfe

O título coroa o melhor ano da carreira de Filipinho, que termina a temporada com três vitórias na temporada regular e no Finals, dois terceiros lugares, dois quintos, dois nonos e um décimo-sétimo devidamente descartado. E desta vez ninguém poderá falar que os sempre apontados como dois grandes favoritos não estavam competindo. Tanto o tricampeão Gabriel Medina quanto o bi John John Florence correram a temporada inteira, sem lesões ou problemas pessoais que interferissem, e nem chegaram ao Finals. A temporada consolidou novos nomes, como os australianos Ethan Ewing, vice-campeão, e Jack Robinson, quinto, que chegaram pela segunda vez ao Finals, viu surgir a promessa João Chianca e a chegada de Yago dora na briga. O ano de 2024 promete.

A temporada, como sempre, foi marcada por algumas grandes polêmicas, sempre que um brasileiro não ganhava a etapa, o que aconteceu em simplesmente em seis das dez da temporada regular. Além das três de Filipinho, em Sunset, El Salvador e Jeffrey's Bay, o Brasil venceu com João Chianca Chumbinho, em Portugal, Medina, em Margaret River, e Yago Dora, em Saquarema. Continuamos dominando o Tour, com novos nomes conquistando vitórias, numa temporada que Italo Ferreira não se encontrou. Como sempre escrevo, se existe conspiração para interromper o domínio brasileiro, ela não está sendo muito bem feita ou nossos surfistas são de outro planeta, pois há cinco temporadas somos campeões e ganhamos sete dos últimos nove mundiais. É tudo nosso, quase nada deles.

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Tempestade brasileira: Filipe Toledo é bicampeão mundial de surfe

NO FINALS, FILIPINHO MOSTRA QUEM MANDA EM TRESTLES

Filipinho era apontado por 11 em cada dez analistas como o grande favorito no Finals e a chave de sua vitória foi não se sentar no favoritismo e saber que teria de surfar muito para manter a coroa. Griffin Colapinto, considerado o segundo nome mais forte em Trestles, pareceu ter sentido o ambiente e perdido um pouco a concentração com a festa da torcida americana nos dias que antecederam e durante o evento. A praia estava toda vestida de vermelho para apoiar o surfista da casa, todos já de olho na final com o Filipinho.

Filipe Toledo em ação no Finals

Divulgação

A torcida americana, porém, enrolou as bandeiras e foi embora mais cedo. Tinha faltado combinar com Ethan Ewing, que chegara a Trestles em terceiro lugar, vindo de uma fratura em duas vértebras no Taiti e fora dúvida para o Finals. O australiano passeou nas direitas, mostrando toda a força de suas rasgadas e de seu surfe de borda, invertendo a direção da prancha, tirando as quilhas da água e encantando os juízes. Como escrevi no último texto, a WSL anunciou os critérios informando que os aéreos seriam bem valorizados, mas deixou a pista também que o surfe feito por Ewing poderia ser bem recompensado, se as manobras fossem feitas nas partes mais críticas, com velocidade e fluidez. O velho speed, flow e power continuou presente. E Ewing executou com maestria. Faltou variação, é verdade, mas surfou muito.

Sem arriscar aéreos, ele não deu chances ao João Chianca Chumbinho no segundo duelo do dia e estreia dele em Tretles, mostrando que estava totalmente recuperado da fratura, vencendo por 17,60 a 14,57. As ondas de Ewing pareciam até um videogame, de tão parecidas entre elas, sempre arrancando notas excelentes. Parece que Griffin e a galera da praia estavam mais preocupados com a festa e não perceberam o perigo. A imagem do californiano acenando para o público e apontando para amigos antes da bateria mostrou uma certa dispersão. Determinado, australiano repetiu a estratégia para vencer o local por 17,10 a 15,96. Griffin surfou bem, fez até uma boa atuação, mas nunca ameaçou a vitória de Ewing.

Filipe Toledo faz 9,0 contra Ethan Ewing no WSL Finals

Juro que cheguei a ficar com medinho. Seria a primeira final com um gringo contra um brasileiro e o gringo vinha surfando muito bem, encaixado nas ondinhas, sendo bem avaliado. Porém, do outro lado estava o atual campeão mundial, sereno, com a estratégia na cabeça e determinado a conquistar o bicampeonato. Filipinho sabia o que precisava fazer e tinha a confiança de quem conhece aquela onda como a palma da mão. A primeira bateria foi de tirar o fôlego. E ao finalizar a primeira onda com um aéreo, mesmo que na primeira troca Ewing tenha levado ligeira vantagem, o brasileiro mostrou que iria incluir uma arma ainda não usada no Finals por ninguém e que o adversário teria de arriscar caso quisesse fazer frente. A bateria foi espetacular e Filipinho venceu por 17,97 a 17,23.

A segunda batalha foi disputada na pior hora do mar, com um ventinho meio de lado e séries demoradas. Os surfistas ficaram mais de 15 minutos sem surfar, até que Filipinho, colocou em prática o plano para aquela situação, começar a pegar onda, mesmo se não fossem excelentes. Deu certo, apesar de um 7,67 maroto para Ewing na rotina dos julgamentos da WSL de deixar as notas muito próximas para ter emoção até o fim, o brasileiro garantiu a vitória por 14,27 a 12,37 e mostrou quem manda no pedaço.

Filipe Toledo faz 8,97 contra Ethan Ewing no WSL Finals

Chumbinho foi uma das vítimas de Ewing, depois de ter derrotado Jack Robinson na sua estreia. O brasileiro fez uma bateria muito boa, técnica e taticamente, dominando o perigoso australiano desde o começo. Chumbinho amassou uma direita e matou a bateria numa esquerda na qual Robinson foi para a direita e fez quase nada, vencendo por 15,33 a 11,87. Feliz da vida, Chumbinho termina a temporada em quarto lugar, muito acima até das expectativas dele. Com 23 anos, já botou seu nome entre os melhores do mundo.

João Chianca passa Jack Robinson no WSL Finals

No feminino, haaa no feminino. Doeu ver Carissa Moore ser a melhor surfista do ano e mais uma vez perder o título em Trestles, como no ano passado. Agora a algoz foi a californiana Caroline Marks, única goofy do Finals, que foi, de longe, a melhor surfista entre as mulheres em Trestles. Com um ataque muito mais vertical do que todas as adversárias, ela não deu chances para Caitlin Simmers, que passado bem por Molly Piklum no primeiro confronto.

Marks enfileirou notas excelentes para superar Tyler Wrigth na "semifinal" e no primeiro duelo contra Carissa, fazendo duas baterias com somatórios acima de 17 pontos. Carissa parecia assustada pelo fantasma do ano passado e arriscava pouco, faltava explosão no surfe dela. Exatamente o que não faltou para Marks, lembrando que falei que ela poderia se beneficiar de seu ataque de backside. Apontada como uma futura campeã desde cedo (entrou no Circuito com 16 anos), a americana conquista um título mundial para o país depois de 26 anos, desde Lisa Anderson, em 1997. Além disso, Marks furou a bolha formada por Stephanie Gilmore (8), Carissa (5) e Tyler (2), que ganharam todos os títulos mundiais desde 2007.

Caroline Marks surfa grande onda e tira 9,07 no WSL Finals

Agora é esperar as duas últimas etapas do Challenge Series, torcendo pela volta de Samuel Pupo, o brasileiro mais bem colocado no ranking de acesso, para ver quais terão a missão de manter nossa hegemonia no surfe mundial. Teremos também Miguel Pupo já confirmado como convidado da temporada e pelo menos três surfistas na briga por uma vaga via CS: os ex-CT Michael Rodrigues e Jadson André, que assim como Samuca ficaram no corte este ano, e Mateus Herdy, uma promessa que ainda não vingou, mas parece recuperado de uma série de lesões que o atrapalhou e chega forte para as duas últimas etapa.

Por enquanto, vamos aproveitar porque, mais uma vez: É TUDO NOSSO! Boas Ondas!!

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Fonte: Globo Esporte/G1

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