Devo trocar o serviço público pelo privado?

Por Redação em 24/03/2021 às 05:39:41

O colunista Marco Tulio Zanini diz que é preciso calcular riscos e ter cautela na pandemia >> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: [email protected]

"Tenho 40 anos e estou há 16 anos como técnico químico no serviço de tratamento de água aqui da minha cidade. Estou muito desanimado por conta de não poder atuar em melhoria, não ter perspectiva de crescimento profissional, não poder usar todas minhas habilidades adquiridas durante minha carreira. Na iniciativa privada tenho percebido existem mais ofertas de empregos, inclusive recebi uma. Devo trocar o serviço público pelo setor privado?"

Técnico químico, 40 anos

Prezado quarentão,

Essa pergunta depende de vários fatores. E muito do seu autoconhecimento e apetite para o risco. A melhora da oferta de empregos na iniciativa privada é ainda incerta e instável. E há, nesse momento, um grande contingente de pessoas desempregadas, favorecendo as trocas. Imagine se você aceita um emprego e o seu chefe novo não gosta de você e pede uma substituição. O que você faria nesse caso? Você tem poupança para se segurar até encontrar um outro emprego, mesmo que demore alguns meses? Qual seria a sua vulnerabilidade nessa situação? Antes de qualquer coisa eu tentaria responder a essas perguntas.

Por outro lado, como você se sentiria optando pela segurança do setor público e olhando para trás, em alguns anos? O que você pensaria? Como se sentiria? Eu concordo contigo que a ineficiência de várias empresas estatais é difícil de suportar. Mas há uma série de promessas de privatização no setor. Como está sendo isso na sua região? Essa é uma questão relevante para você levar em conta. De modo geral, acredito que a vida premie a coragem. Mas coragem não é ausência de medo. É a capacidade de enfrentar riscos calculados e de preferência depois de uma análise prudente.

Em termos da ética das virtudes, coragem e prudência não estão em polos opostos. Mas são complementares. Do meu ponto de vista, parece arriscado trocar de emprego nesse momento. Quando a pandemia passar talvez seja mais prudente. Não sabemos até onde a crise causada pela covid pode nos levar. Nem sabemos que segmentos da iniciativa privada irão suportar melhor. É claro que há setores que estão muito aquecidos, como é o caso da logística e do agronegócio. É difícil imaginar que esses setores percam espaço por um bom tempo. Ainda assim, é preciso ver qual é o compromisso que a empresa está disposta a fazer para que você largue a segurança de um emprego público no momento. Há algum dispositivo contratual que penalize uma demissão injustificada no curto e médio prazo? Corre o risco de ser uma oferta meio inconsequente de alguém que precisa preencher uma vaga somente?

É importante se proteger de promessas e ofertas mirabolantes. E avaliar bem os riscos. O momento pede uma outra virtude: a paciência. Eu acredito que passada a pandemia, concluída a vacinação, teremos um período de euforia na economia. Talvez essa seja a melhor hora para correr esse risco, pois o aumento da oferta de empregos pode reduzir o risco de uma demissão. De qualquer forma, é bom começar uma poupança que te dê lastro para voar. Boa sorte.

Marco Tulio Zanini é professor e coordenador do mestrado executivo em gestão empresarial da FGV e consultor da Symballein

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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

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Fonte: Valor Econômico

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