Aumento no número de vegetarianos e veganos em Cuiabá anima jovens empresários a investirem no setor

Por Redação em 17/11/2021 às 15:05:59

Atualmente, já é mais fácil encontrar produtos sem origem animal em prateleiras de lojas e supermercados na cidade. Alimentação sem a presença de produtos de origem animal é cada dia mais adotada no Brasil

Divulgação

Por amor aos animais, por um estilo de vida mais saudável, pelo meio ambiente. São variados os motivos que levam as pessoas a se tornarem vegetarianas ou veganas, estilos de vida que cresceram no mundo todo nas últimas décadas. Em Cuiabá, não é diferente. Apesar de o consumo de carnes e outros produtos de origem animal ainda ser bastante comum na maioria dos lares, há uma parcela da população da cidade que já optou por abandonar esse hábito.

Pesquisa da Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) encomendada neste ano pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) diz que 46% dos brasileiros deixam de comer carne uma vez por semana por vontade própria. Outro levantamento em 2018, feito pelo (extinto) Ibope, revelava que 14% se consideravam vegetarianos. Não há dados sobre a quantidade de veganos no Brasil.

Para Wanessa Miloch, de 28 anos, é possível perceber um aumento na quantidade de pessoas que optam pelo vegetarianismo ou veganismo na capital mato-grossense. “Tem crescido sim, tem chegado mais informações às pessoas agora com tantos documentários e muito conteúdo na internet”, disse.

Ela é vegana desde os 10 anos de idade. “Bateu em minha consciência que os animais estão sofrendo para que eu me alimentasse, então cortei toda origem animal naquele momento, busquei me alimentar do básico, legumes, leguminosas, grãos, massas. Mas o difícil, na minha opinião, foram os cosméticos. Busquei saber os componentes um por um para não pegar algo de origem animal, na época havia poucas informações na internet”, contou.

Bruna Uliana, professora de ioga, é vegana há quatro anos

Arquivo pessoal

A professora de ioga Bruna Uliana, de 28 anos, também percebe um crescimento no público que abriu mão de produtos de origem animal. Há quatro anos ela adotou o veganismo, depois de oito anos sendo vegetariana.

"O vegetarianismo e o veganismo estão cada vez mais na moda, ainda bem! Se quando eu virei vegetariana eu não conhecia ninguém com esse estilo de vida, hoje eu conheço muitas pessoas que de lá pra cá mudaram a alimentação e excluíram as carnes e derivados de animais da dieta, que passaram a optar por produtos de limpeza e cosméticos que não sejam testados em animais etc", disse. "Esse aumento é em Cuiabá e no mundo todo", acrescenta.

Bruna conta que não teve influência de ninguém ao tomar a decisão e que isso ocorreu naturalmente, a partir do momento em que começou a se questionar sobre de onde vem a carne que consumimos.

“Descobri uma indústria extremamente cruel com os animais e que gera muitos danos ao meio ambiente, pautas às quais sou sensível. A partir daí eu decidi reeducar meu paladar, parei de comer carne numa virada de ano”, disse.

Nenhum vegetariano consome carne, mas há diferenças entre eles. Há os ovolactovegetarianos (que consomem leite e ovos), os lactovegetarianos (que não comem ovos) e os vegetarianos estritos (que não fazem consumo de leite e ovos).

Já os veganos vão além da alimentação: não consomem nada de origem animal ou que envolva sofrimento aos animais, em todos os setores da vida.

Negócios veganos

Essa percepção no aumento da demanda na cidade animou jovens empresários a investir nesse nicho de mercado, e não somente o da alimentação. Com consumidores mais preocupados com o meio ambiente e contra o sofrimento animal, cresce a quantidade de companhias "cruelty free", por exemplo.

Vegetarianos, Bruna Kraeski Uriarte, de 22 anos, e Eduardo Salomão, 20, fundaram uma empresa de cosméticos veganos em meio à pandemia. Ela é estudante de direito e ele, de comunicação social.

"Escolher utilizar ingredientes que não envolvessem ativos de origem animal ou seus derivados sempre foi algo muito claro para nós dois", disse Bruna, vegetariana há 8 anos.

"Somos contra qualquer tipo de exploração animal e isso se refletiu de forma muito clara na nossa empresa. Pra nós, não haveria outra opção, senão seguir a linha de produtos veganos", afirmou.

Bruna Kraeski Uriarte, de 22 anos, e Eduardo Salomão, 20, fundaram empresa de cosméticos veganos

Arquivo pessoal

A empresa foi aberta em agosto de 2020 a partir da necessidade que o casal sentiu de não dependerem tanto de produtos industrializados.

"Estávamos nos aprofundando, cada vez mais, em pautas relativas à preservação ambiental e sentimos o enorme desejo de produzir nossos próprios cosméticos naturais, sempre pensando naquilo que era melhor tanto pro nosso corpo, quanto pro meio ambiente", afirma.

Já Wanessa Miloch, que chegou a abrir um restaurante com refeições veganas e atualmente tem um café com a mesma proposta, em sociedade com o marido, que é gastrólogo.

“Vimos que Cuiabá precisava de um espaço vegano e abrimos o restaurante em 2016. Foi muito lindo, e só cresceu mais o veganismo em nossa cidade. Em 2020 fechamos para vivenciar a chegada da nossa filha Aurora e agora, em 2021, voltamos com espaço físico com a pegada de um café em takeaway e algumas mesas para comer no local”, conta.

A jovem já fazia eventos veganos e seus pratos eram elogiados pelos amigos, que desde a adolescência já pediam para ela começar a vendê-los. Ela chegou a estudar gastronomia, mas não especificamente a culinária vegana.

Prato vegano servido no empreendimento de Wanessa Miloch, em Cuiabá

Reprodução/Instagram

"Minha ideia na gastronomia era veganizar os pratos convencionais, meu estudo mesmo é na cozinha onde se torna um laboratório entre erros e acertos, depois de muitas experiências nos damos cursos", disse.

Baixa oferta de produtos

Para Bruna Uliana, Cuiabá, em comparação com outras capitais brasileiras, ainda é bastante atrasada em relação à oferta de produtos veganos.

"Talvez por estarmos no olho do agronegócio, acho que as pessoas aqui são mais fechadas pra isso. Ainda assim, as coisas já melhoraram muito na última década. Hoje é possível encontrar opções veganas em restaurantes, industrializados veganos estão aos montes nos mercados etc. Ainda não é tão fácil como em outras cidades, mas é notável a mudança nos últimos anos", diz.

A professora de ioga considera "urgente" repensar a forma como as pessoas vivem e como utilizam os recursos do planeta, e que a principal ferramenta a fim de que uma mudança efetiva ocorra a longo prazo é a mudança no consumo de cada um. Para isso, ela opina, é preciso repensar o que consumimos, de onde vêm os nossos alimentos, quais marcas financiamos e os impactos que elas deixam no mundo, por exemplo.

"Até porque a forma como vivemos é insustentável a longo prazo e não são apenas militantes que dizem isso, é a própria ciência”, explica.

Otimista, Wanessa Miloch considera que o veganismo pode ajudar a mudar o mundo para melhor porque "a partir dele temos a consciência de pertencimento ao meio, no qual coexistimos com demais seres".

"Da mesma forma podemos encontrar o equilíbrio, para uma relação cada vez mais desgastada, onde apenas o ser humano tem espaço de fala. Dessa forma passamos a lutar pelo fim do especismo, em defesa do meio ambiente e de um futuro melhor, sem a necessidade de sacrificar vidas”.

Fonte: G1

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