Athletico e Bragantino: como os candidatos a "gigantes" viraram exemplos de gestão e estrutura

Por Redação em 19/11/2021 às 07:40:27

Os finalistas da Copa Sul-Americana são rivais dentro e fora de campo, com perfis de contratação parecidos e projetos ambiciosos para figurar entre os maiores clubes do futebol brasileiro Finalistas, Athletico e Bragantino decidem a Sul-Americana neste sábado, às 17h (de Brasília), no estádio Centenário, em Montevidéu, no Uruguai, em jogo único. Entre o longo prazo do Furacão e a gastança do Massa Bruta, os clubes brasileiros colocam projetos de gestão à prova.

O ge acompanha todos os lances da finalíssima da Sula entre Furacão e Massa Bruta em Tempo Real.

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As diferenças e semelhanças das gestões de Athletico e Bragantino

infoesporte/ge

Vendedor x comprador

O Athletico passou a vender atletas no final da década de 1990 e, com isso, construiu o CT do Caju e a primeira Arena. As negociações foram de nomes como Oséas, Paulo Rink, Lucas, Kleberson, Jadson e Fernandinho.

Isso se intensificou na década passada. Virou tradição, ao menos, um jogador ser vendido na janela de transferências. Os volantes Hernani e Otávio, além dos atacantes Marcelo Cirino e Douglas Coutinho, todos crias da base, foram vendidos entre 2014 e 2017.

Depois, com conquistas inéditas, mais uma leva de saídas: Robson Bambu, Léo Pereira, Renan Lodi, Bruno Guimarães, Rony e Pablo, com mais de R$ 300 milhões arrecadados. Em 2021, o nome da vez foi o atacante Vitinho, vendido ao Dínamo de Kiev por 6 milhões de euros (R$ 36,8 milhões). Somente no ano passado, de acordo com o balanço financeiro, R$ 152 milhões em jogadores vendidos.

Com as vendas e premiações, o Furacão também passou a investir nos últimos anos. Dos oito reforços para essa temporada, por exemplo, quatro foram comprados. Lucas Fasson (R$ 10 milhões), La Serena, do Chile, Pablo Siles (R$ 3,5 milhões), do Vitória, David Terans (R$ 7,5 milhões), do Atlético-MG, e Matheus Babi (R$ 12 milhões), do Botafogo. (Veja todas as contratações)

Figura constante na Série B, o Bragantino passou a contar com aporte financeiro de uma empresa a partir de abril de 2019. De reforços rodados, o time do interior paulista passou a ser protagonista no mercado da bola.

Desde que assumiu o Braga, a Red Bull gastou quase R$ 150 milhões para contratar atletas de até 24 anos de grandes clubes do Brasil. A direção do clube diz que, com o passar do tempo, a tendência é não precisar ir mais tanto ao mercado. Mas, neste início de gestão, afirma ter sido necessário contratar atletas com o perfil que deseja.

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Rivais em campo e no mercado da bola

Athletico e Bragantino, inclusive, disputam perfis parecidos de reforços. O Furacão continua focado em formar jogadores e vender, mas também começou a buscar atletas novos com potencial de revenda. O Massa Bruta contrata, prioritariamente, jogadores em final ou pós período de formação, por acreditar que é possível implantar melhor neles esse estilo de jogo.

Exemplos recentes não faltam e todos a favor do time alvinegro. Jadsom, Eric Ramires, Artur, Thonny Anderson, Gabriel Novaes e Lucas Evangelista são jogadores do Braga, mas passaram pelo olhar do Athletico e chegaram a ter conversas e também propostas, na maioria dos casos.

Pedrinho, que atuou no Athletico entre 2019 e 2020, foi contratado pelo Bragantino nesta temporada. Dispensado pelo Furacão, o lateral-esquerdo João Victor também parou em Bragança Paulista.

Coincidência ou não, o coordenador da equipe de olheiros do Braga é Sandro Orlandelli, com passagem pelo clube paranaense entre 2012 e 2013.

Por vaga entre os gigantes

O Athletico é uma associação civil sem fins lucrativos e dono de um projeto de longo prazo, que já está mais consolidado, com títulos inéditos recentes da própria Sula (2018) e da Copa do Brasil (2019). A base de arrecadação é um tripé: direito de transmissão, futebol e transferência de atletas.

O clube, contudo, espera ter um salto com a aprovação do Conselho pelo modelo de clube-empresa. O exemplo prevê a criação da CAP SAF com uma ação de propriedade Classe A e 100% de ações Classe B.

A Classe A representa o chamado “Golden Share”, que dá direito à FUNCAP de veto nas futuras decisões do clube. A entidade poderia vetar mudanças radicais no clube, como mudança de cidade, das cores, símbolos, entre outros. Já as ações da Classe B seriam divididas 50% entre o Athletico e 50% entre os investidores.

O Bragantino, por outro lado, tinha esse mesmo modelo de associação civil e, há três anos, já é uma empresa. O plano ocorre com aporte financeiro de uma marca internacional, mas que já se estabiliza no cenário nacional e começa a sonhar com voos mais altos.

O planejamento do clube é feito não apenas para curto prazo, mas estipulam metas para médio e longo prazos. Por exemplo, um objetivo do Braga é estar em condições de brigar por títulos nacionais até o fim de 2022.

Para Rodrigo Capelo, jornalista do ge e especializado em negócios do esporte, os clubes possuem modelos diferentes de gestão. Por outro lado, ele vê uma semelhança principal que impede, ao menos a médio prazo, de ser forte em receitas e esportivamente como Flamengo, Palmeiras, Corinthians, São Paulo e Atlético-MG.

Ambos não têm bases grandes de torcedores para um crescimento orgânico. Para chegar ao patamar financeiro maior precisam disso e é a grande fragilidade. Mesmo com excelentes administrações estão fadados a não disputar constantemente por todos os títulos por algum tempo

Petraglia x Thiago Scuro

O Athletico "mudou a chave" a partir de 1995. Atual presidente, Mario Celso Petraglia é o rosto da revolução atleticana, que teve a estrutura como prioridade inicial: construção do ainda moderno CT do Caju e duas reformulações no estádio, que passou de Baixada para Arena da Baixada em 1999, e também em 2014, para a Copa do Mundo no Brasil.

Petraglia chegou a "abandonar o barco" durante 2008 e retornou eleito em 2012, um ano após a queda do clube para a Série B. O Furacão subiu, foi terceiro colocado na Série A e vice na Copa do Brasil em 2013 e voltou a ser figura constante em competições internacionais, como Libertadores (2014 e 2017) e Sul-Americana (2015).

Com perfil ditatorial, todos no clube sabem quem manda e possuem até certo medo do mandatário. O diretor-técnico Paulo Autuori é praticamente a única pessoa que discute em igualdade com o dirigente, mas quando se trata do departamento de futebol.

Na administração, Petraglia tem inúmeros motivos para mostrar que sabe o que faz em mais de 20 anos no comando. No mais recente, o Furacão atravessou a pandemia com poupança farta, de R$ 130 milhões em caixa, e "dívida zero" - o clube ainda discute judicialmente o pagamento tripartite da Arena da Baixada. O valor final da obra para a Copa, ficou em R$ 342,6 milhões, mas já passa de R$ 600 milhões com juros, multas e encargos.

Já o Bragantino está sob o comando da Red Bull desde abril de 2019. Ao assumir o time, a empresa austríaca passou a implantar a filosofia de gestão, de jogo e o perfil de contratações que lhe agradam.

Na gestão, o diretor executivo do clube é Thiago Scuro. Formado em Ciência do Esporte, na Universidade Estadual de Londrina, sempre teve o foco de atuar na gestão. Ele já era um dos homens fortes do projeto Red Bull no Brasil, com passagem pelo Audax, quando foi trabalhar no Cruzeiro, entre 2015 e 2016, como executivo de futebol.

Na época, ele criticava o modelo de gestão da Raposa, que agora vai para o terceiro ano seguido na Série B. Por outro lado, o período dele à frente da pasta não teve nenhuma taça - os períodos 2011 a 2014 e 2017 e 2019 tiveram.

No início da carreira, Scuro trabalhou na agência de marketing esportivo que tinha como um dos sócios José Carlos Brunoro, que foi diretor-executivo do Palmeiras. Foi Brunoro quem o levou para o PAEC, clube onde ficou por dez anos. Scuro ressalta que esse longo período no PAEC, que depois virou Audax, serviu como uma escola para a formação como gestor. Quando o Audax foi vendido, chegou ao Red Bull Brasil. Em entrevista ao ge.globo, ele destacou ter "uma carreira muito vinculada a clube-empresa".

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O Athletico foi o líder do grupo D, com 15 pontos e 83,3% de aproveitamento. A equipe ficou à frente de Melgar (10), Aucas (seis) e Metropolitanos (quatro). Depois eliminou o América de Cali nas oitavas de final (1 a 0 e 4 a 1), passou pela LDU nas quartas de final (0 a 1 e 4 a 2) e deixou o Peñarol para trás na semifinal (2 a 1 e 2 a 0). No geral, o Furacão tem 10 vitórias e duas derrotas, com 21 gols marcados e seis sofridos.

O Bragantino se classificou no grupo G, com 12 pontos e 66,7% de aproveitamento. O time paulista deixou para trás o Emelec (10), Talleres (oito) e Tolima (três). No mata-mata, passou por Independiente Del Valle (2 a 0 e 1 a 1) nas oitavas, Rosário Central (4 a 3 e 1 a 0) nas quartas e, por fim, o Libertad nas semis (2 a 0 e 3 a 1). No total, o Massa Bruta somou oito vitórias, dois empates e duas derrotas, com 20 gols marcados e 11 sofridos.

Tabela completa da Sul-Americana

Fonte: Globo Esporte/G1

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