Gostaria de tirar um ano sabático. Isso pode atrapalhar minha carreira?

Por Redação em 04/01/2023 às 06:56:45

O colunista Gilberto Guimarães responde leitora que gostaria de viver novas experiências e viajar, mas tem receio de que passar um longo período fora do mercado de trabalho possa prejudicá-la profissionalmente >> Envie sua pergunta, acompanhada de seu cargo e sua idade, para: [email protected]

"Gostaria de pedir demissão e passar um ano viajando, pois desde que comecei a trabalhar nunca mais parei. Tenho muita vontade de tirar um ano sabático para refletir sobre quais rumos tomar e viver novas experiências. No entanto, tenho medo de que isso possa atrapalhar minha carreira. Será que é melhor desistir, nesse caso?", Engenheira, 33 anos

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Tirar um ano sabático, estudar e morar fora de seu país, pode ser uma experiência fantástica, mas usá-lo para refletir sobre quais rumos tomar na vida não é lá muito adequado. O período sabático deve fazer parte de um projeto de vida e de carreira bem definido. Assim, antes de pedir demissão e partir para passar um ano viajando seria importante definir seus planos, suas razões, motivações e objetivos de vida.

O importante é manter o controle sobre sua vida. Você mesma deve definir seu futuro, escrever seu próprio horóscopo. Jamais deixe que o acaso, nem que outros, determinem o que vai acontecer com você. O planejamento é fator fundamental para o sucesso. Aliás, essa falta de planejamento é um erro muito mais comum do que se imagina. As pessoas, no afã de conseguirem novas oportunidades e experiências, acabam agindo impensadamente ou se deixando iludir com promessas e desejos.

Segundo colunista, existem dois momentos ideias para tirar um ano sabático e morar fora: na juventude - antes de ter filhos e uma carreira estabelecida -, e na meia-idade.

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Na verdade, a maioria das carreiras de sucesso foi planejada e idealizada cuidadosamente. Cada fase, cada momento e detalhe da vida, é resultado de muita análise, avaliação, e repetição até a perfeição. Como, por exemplo, a carreira dos grandes atletas. Cada um que está subindo, agora, ao lugar mais alto do pódio, levou anos e anos de planos, treinos e sacrifícios.

Com um projeto de vida e de carreira em mãos fica mais fácil e concreto definir o período sabático. Para aonde ir, o que fazer, o que aprender. A parada em um projeto sabático, desde que seja aproveitado para se desenvolver e adquirir novos conhecimentos e competências, não atrapalha o desenvolvimento de nenhuma carreira. As empresas até valorizam os profissionais que tem essa experiência de vida no exterior, desde que vivida de forma produtiva.

É importante, no entanto, escolher o bom momento de parada. Com base nas histórias que vivi e conheci pode-se dizer que o momento mais adequado é aquele em que não se tem muitas “âncoras” familiares ou empresariais, ou seja, quando não se tem muitas preocupações, problemas e custos com filhos, escolas, planos de saúde, financiamentos, etc., e nem se tem que interromper uma carreira ascendente, brilhante, abrindo mão de tudo que se conquistou.

Além do mais, viajar só, ou com apenas o cônjuge, é sempre mais fácil do ponto de vista logístico e financeiro, do que “levar” junto toda uma grande família. Esse “timing” ideal normalmente ocorre em dois momentos da vida. O primeiro é quando se é jovem e se está no início da carreira e não se tem posições e conquistas para serem abandonadas e ainda não se constituiu uma grande família. O outro momento é na meia-idade, quando já se está mais desembaraçado de constrangimentos financeiros e familiares, pois os filhos já ficaram adultos, saíram de casa, e se está encerrando o primeiro ato da carreira e se preparando para a segunda e nova carreira.

Qualquer outra alternativa, no meio desses dois momentos, é sempre mais complicada. Normalmente, ela só deve ser escolhida por imposição de um fator externo. Por exemplo, um momento que poderia justificar uma saída do país para um projeto sabático seria quando se está muito insatisfeito com o emprego e se decide pedir demissão para buscar novas oportunidades, ou então quando se perde o emprego, se é demitido.

Em ambos os casos, com a carreira interrompida, o objetivo é conseguir um tempo para se preparar, se desenvolver e poder recomeçar, mesmo que com muita insegurança, angústia e dificuldades financeiras. Uma outra possibilidade não é propriamente um sabático. É quando, por uma demanda, proposta ou convite de uma empresa, você precisa se mudar para ocupar um cargo em uma filial em outro país, ou fazer um longo treinamento no exterior. Nesse caso, mesmo que você leve toda a estrutura familiar, não existem os problemas financeiros e nem a angustia de carreira.

Em conclusão, qualquer que seja o momento e a motivação, é importante, para a vida e para a carreira, viver um tempo fora. Viver fora dos limites de proteção do seu ambiente familiar, conhecido e controlado, promove uma grande aceleração no processo natural de amadurecimento.

Nunca se volta o mesmo. Portanto, planeje e aproveite cada momento destes tempos que você pode viver no exterior. Descubra sua capacidade de sobreviver sem ajuda de amigos e familiares, desenvolva sua autoestima, aprenda a conviver e a respeitar o diferente. Viver essa experiência lhe será útil em qualquer trabalho que venha a fazer depois. A experiência desta temporada vivida fora do país será fundamental.

Na verdade, todo o processo será uma preparação para o exercício de tarefas cada vez mais complexas. Aproveite e procure se desenvolver. Questione permanentemente. Busque em profundidade, pesquise as tendências sociais, culturais, administrativas e econômicas do novo país. Mantenha-se atualizado. Aprenda a se controlar, a se relacionar, comunicar e influenciar pessoas. Transforme-se em um “especialista em gente” vivendo situações novas e observando as pessoas e suas intenções e reações. Assim, você estará investindo em seu futuro e em sua carreira.

Gilberto Guimarães é diretor da GG Consulting e professor

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Esta coluna se propõe a responder questões relativas à carreira e a situações vividas no mundo corporativo. Ela reflete a opinião dos consultores e não a do Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.

Fonte: Valor Econômico

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