Granadas de luz e som arremessadas por Roberto Jefferson contra agentes da PF foram compradas pela PM do Rio em 2010

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Por Redação em 14/09/2023 às 05:02:05

Informação foi repassada à Polícia Federal pela fabricante dos artefatos; perícia atesta que granadas com pregos presos com fita adesiva podem matar. As três granadas de luz e som arremessadas pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson contra os quatro policiais federais que foram prendê-lo em casa em 2022 tinham sido compradas pela Polícia Militar do Rio em 2010.

É o que diz o laudo da perícia que a Polícia Federal (PF) fez nos artefatos deflagrados a que o blog teve acesso.

Segundo o documento, os acionadores EOT (Espoleta de Ogiva de Tempo) de granada de luz e som, da marca Condor, possuem um chip que possibilita seu rastreamento, inclusive após a deflagração da granada. O fabricante informou à PF que os chips contêm um código que pode ser lido com o auxílio de um leitor de radiofrequência comum.

"A leitura dos chips constantes nos materiais 4380/2022 – SETEC/SR/PF/RJ e 4388/2022 – SETEC/SR/PF/RJ resultou nos códigos 201007000021178 e 201007000027543. De acordo com informado pela empresa CONDOR S/A INDÚSTRIA QUÍMICA (CNPJ n° 30.092.431/0001-96), as granadas foram adquiridas pela Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro em 2010 através da nota fiscal n° 000000885", escreveram os peritos da PF.

Na quarta-feira (13), a Justiça Federal decidiu mandar Roberto Jefferson a júri popular, acusado de tentativa de homicídio contra quatro policiais federais que foram prendê-lo em 23 de outubro de 2022, em Comendador Levy Gasparian (RJ), por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Na ocasião, dois agentes da PF tiveram ferimentos leves.

Roberto Jefferson em presídio no Rio

Montagem/g1

Além de tentativa de homicídio com dolo eventual (ou seja, assumir o risco de matar), Jefferson vai ser julgado pelos crimes de resistência qualificada; e posse ilegal de arma e de três granadas adulteradas.

Em seu interrogatório em maio, Jefferson admitiu que atirou cerca de 50 vezes e que arremessou três granadas de luz e som contra os policiais federais, mas que não teve a intenção de matá-los.

Granadas adulteradas podem matar, dizem peritos

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O laudo da perícia da PF concluiu que as três granadas tinham pregos com fita adesiva.

Nos testes, os peritos explodiram uma granada sem adulteração, e outra com pregos presos com fita adesiva. A granada sem pregos não apresentou ranhuras em sua superfície. A outra apresentou marcas semelhantes com os artefatos deflagrados apreendidos em Levy Gasparian.

"A análise por microscopia da superfície do corpo de borracha granadas (4376/2022 – SETEC/SR/PF/RJ, 4399/2022 – SETEC/SR/PF/RJ, 4422/2022 – SETEC/SR/PF/RJ) indicou a presença de marcas longitudinais, similares às marcas que surgiram após a deflagração da granada com pregos afixados ao seu redor no Ensaio 1. Cabe destacar também que o corpo emborrachado da granada deflagrada no Ensaio 2, sem pregos afixados, não apresenta tais marcas, corroborando a hipótese de que os materiais 4376/2022, 4399/2022 e 4422/2022 – SETEC/SR/PF/RJ foram deflagrados com pregos afixados ao redor", explicaram os peritos no laudo.

Para os especialistas, as granadas de luz e som com pregos podem, sim, matar uma pessoa.

"O potencial lesivo de granadas de luz e som do tipo indoor com segmentos de pregos afixados no seu exterior com fita adesiva do tipo silver tape foi avaliado por meio do cálculo da energia cinética relativa destes segmentos, com o auxílio de uma câmera de alta velocidade a 40.000 fps. Com isso, foi observado que este tipo de modificação aumenta o potencial lesivo deste dispositivo significativamente, podendo inclusive ocasionar a morte, conforme discutido na subseção IV.5 – Exame com Câmera de Alta Velocidade", concluíram os peritos da Polícia Federal.

Em seu interrogatório, ao ser questionado pelo Ministério Público Federal por que tinha granadas de luz e som com pregos presos com fita adesiva, Jefferson disse que apenas uma das três tinha sido alterada, e que o correto era chamar os explosivos de bombas de luz e som (por causa do seu efeito moral) em vez de granadas.

"Depois que eu tive o mandato de deputado federal cassado no escândalo do mensalão, passei a ser muito hostilizado nas ruas, nos aeroportos. Decidi comprar as granadas de luz e som para usar em caso de necessidade. E coloquei pregos numa delas porque recentemente carros com vidros escuros passaram a circular perto da minha casa, e estranhos começaram a perguntar na cidade [Levy Gasparian] sobre a minha rotina. Fiz isso para me defender".

Jefferson disse ainda que mostrou a granada para os policiais antes de arremessá-la.

"Eu estava no meu quarto no celular quando vi os policiais chegarem pela câmera de monitoramento. Peguei a carabina que fica do lado da minha cama e a bolsa com os três artefatos. Fui pra varanda. Eles disseram que foram me prender e fazer busca na minha casa. Eu disse que não ia, que estava sendo perseguido pelo Alexandre de Moraes, e falei pra eles [policiais] saírem de lá. Um policial pulou o portão".

Questionado pelo Ministério Público Federal por que tinha granadas de luz e som com pregos presos com fita adesiva, Jefferson disse que apenas uma das três tinha sido alterada, e que o correto era chamar os explosivos de bombas de luz e som (por causa do seu efeito moral) em vez de granadas.

"Depois que eu tive o mandato de deputado federal cassado no escândalo do mensalão, passei a ser muito hostilizado nas ruas, nos aeroportos. Decidi comprar as granadas de luz e som para usar em caso de necessidade. E coloquei pregos numa delas porque recentemente carros com vidros escuros passaram a circular perto da minha casa, e estranhos começaram a perguntar na cidade [Levy Gasparian] sobre a minha rotina. Fiz isso para me defender".

Outro lado

O blog questionou a Polícia Militar do Rio e a defesa de Roberto Jefferson como granadas adquiridas pela corporação foram parar nas mãos do ex-deputado, mas ainda não teve resposta.

Fonte: G1

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