Entenda a normalização da política de juros do Copom

Por Redação em 17/06/2021 às 07:13:05

Pela terceira vez consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central promoveu uma elevação na taxa básica de juros. A Selic, que começou o ano em 2%, agora já está em 4,25% e, como sinalizado pela autoridade monetária, novas elevações estão a caminho. No entanto, ao contrário das reuniões anteriores, o Copom retirou de sua comunicação a indicação de que faria uma “normalização parcial” da taxa de juros, o que abre caminho, portanto, para que a Selic suba ao nível neutro, aquele que não estimula e nem contrai a economia.

Juros em alta

As pressões inflacionárias que têm marcado presença desde a segunda metade do ano passado têm se intensificado e estão no radar do Copom. Para combater a inflação e evitar que as expectativas inflacionárias futuras continuem subindo, o colegiado vem endurecendo suas ações desde o início do ano. Em janeiro, o Copom retirou de sua comunicação a promessa de que manteria a taxa de juros em 2% e, em março, começou o processo de elevação da Selic já em um nível de 0,75 ponto porcentual — acima do projetado pelo mercado. Em maio, o colegiado repetiu a dose e entregou outra alta de 0,75 ponto, o que levou a Selic a 3,5%.

As razões para o aperto

As bases para a elevação da taxa de juros estão, principalmente, nas pressões inflacionárias e, mais recentemente, na recuperação da atividade econômica, que tem surpreendido analistas. O resultado do PIB do primeiro trimestre, com avanço de 1,2%, fez com que diversos agentes elevassem suas projeções para o crescimento no ano. Esse processo tem impacto direto em uma variável bastante acompanhada pelo Banco Central: o hiato do produto, ou seja, a diferença entre o PIB observado e a estimativa de PIB potencial. Como o crescimento foi mais forte e as projeções apontam para um PIB maior em 2021, o hiato do produto deve “fechar” com mais rapidez do que o estimado anteriormente. Assim, não existiria, portanto, a necessidade de uma taxa de juros tão estimulativa quanto a de 2%.

Inflação e expectativas em alta

Apesar das elevações agressivas dos juros, o Copom não está mirando a inflação deste ano, que deve encerrar o ano acima do teto da meta (5,25%), como mostrou o último Boletim Focus. Como a política monetária tem efeito defasado, o colegiado já está mirando a inflação de 2022, quando a meta é de 3,5%. O Copom tem demonstrado preocupação, em especial, com a desancoragem das expectativas. No Boletim Focus de segunda-feira, a mediana das expectativas do mercado para a inflação em 2022 estava em 3,78%, acima, portanto, dos 3,5% perseguidos pelo BC. Assim, para evitar que as expectativas de inflação do ano que vem fujam ainda mais da meta, o BC elevou os juros e já indicou um novo aumento na reunião de agosto, que pode ser de 0,75 ponto ou de mais, a depender da evolução das expectativas inflacionárias.

Ajuste parcial sai do radar

Na reunião de março, o Copom indicou que deu início ao ciclo de alta de juros de forma célere — com uma alta de 0,75 ponto —, e enfatizou que assim poderia ter que promover uma normalização parcial, ou seja, poderia deixar algum grau de estímulo na economia no fim do atual ciclo. Em outras palavras, o colegiado poderia deixar a taxa de juros abaixo de 6,5% no fim deste ano. Embora tenha voltado a indicar na reunião de maio que ainda antevia um ajuste parcial dos juros, o Copom enfraqueceu essa comunicação, ao dizer que ela não era um compromisso. Já nesta reunião, a autoridade monetária optou por retirar essa sinalização do comunicado e indicar, assim, que vê como adequado a Selic subindo até o patamar neutro. Como o BC trabalha com um juro real neutro de 3%, considerando a meta de inflação do ano que vem, a Selic em 6,5% estaria em seu patamar de equilíbrio.

Fonte: Valor Econômico

Tags:   Valor
Comunicar erro
Agro Noticia 728x90