"Temos muito orgulho da história que escrevemos", diz Backer

Por Redação em 21/10/2020 às 01:10:26

Cervejaria nega ter feito festa e também fala em "dor pelo que ocorreu". Vista aérea da fábrica da Backer, em BH

Globocop

Após a reabertura do Templo Cervejeiro, no sábado (17), a Backer liberou um comunicado em um perfil próprio, nas redes sociais. O posicionamento foi publicado nesta terça-feira (20), após grande repercussão sobre o relançamento do rótulo Capitão Senra, uma das marcas contaminadas com dietilenoglicol.

No texto (veja a íntegra abaixo), a empresa nega ter feito a festa. Ressaltou o próprio histórico, com 20 anos de mercado.

"Temos muito orgulho da história que escrevemos nos últimos 20 anos e ela continuará a ser escrita, sem jamais nos omitirmos sobre os fatos em apuração".

Informou, ainda, que o restaurante voltou a funcionar e contou com suposto prestígio do público em geral.

"O ambiente de descontração de um bar e restaurante não pode ser confundido jamais como uma festa", afirmou a publicação.

Em pouco mais de 6 horas após ter sido publicado, o texto já contava com mais de 300 comentários e quase 3 mil reações. A opinião do público ficou bastante dividida, entre perfis que defendiam a empresa e perfis que reprovavam a atitude da reabertura.

"Continuem com as atividades e paguem o que devem às vítimas. É o mínimo. Torço pela volta da cervejaria, mas que tenham pagado o que devem às vítimas. Falo assim, pois sempre tomei bastante as cervejas de vocês, e me coloco no lugar das vítimas, pois poderia ter sido eu. Boa sorte", escreveu um seguidor.

Seguidor se posiciona sobre reabertura do Templo Cervejeiro, da Backer

Reprodução / Redes Sociais

Outra seguidora escreveu:

"Quem apoia a reabertura é porque não conhece ninguém que foi intoxicado. Tem que sentir na pele para ter compaixão mesmo. Só pode".

Seguidora se posiciona sobre a reabertura do Templo Cervejeiro, da Backer

Reprodução / Redes Sociais

Relembre o caso

Após a reabertura do Templo Cervejeiro, vítimas e parentes ficaram indignados com a realização de uma festa para marcar o relançamento da cerveja Capitão Senra. Um banner foi pendurado no local e divulgava a marca em dois tipos de cerveja: Amber e Pilsen.

Banner mostra o relançamento da marca Capitão Senra sob o rótulo "Amber"

Reprodução / Redes Sociais

A fabricação da bebida é resultado de uma parceria da Backer com a Cervejaria Germânia, que fica em Vinhedo, no interior de São Paulo. É lá que a receita é preparada.

"Esclarecemos que, assim como produzimos cervejas para diversas outras marcas, justamente em razão da excelência de nossa produção, fomos contratados para a produção deste rótulo, não havendo, além da prestação de serviços contratada, nenhuma sociedade, associação, joint venture, etc. entre a Cervejaria Germânia e a contratante da industrialização", informou a fábrica.

Mas o motivo da indignação é que, segundo as vítimas, o evento de sábado teria sido gratuito, para convidados, com comida e bebida liberadas, custeada pela Backer. Ao mesmo tempo, ainda de acordo com as vítimas, a cervejaria não teria repassado valor algum para pagar os tratamentos.

"Não há qualquer suporte financeiro prestado para as vítimas, que deixam claro não terem nada contra a marca e a reabertura, desde que as autoridades deem essa aprovação. O que as vítimas clamam e esperam é o suporte que não veio", ponderou André Couto, advogado das vítimas.

Vinte e seis pessoas foram vítimas de intoxicação por dietilenoglicol após terem ingerido cervejas produzidas pela Backer, em Belo Horizonte. Dez pessoas morreram e outras 16 sobreviveram, com graves sequelas. Entre elas, está Luciano Guilherme de Barros, de 57 anos.

"Eles gastam dinheiro com a reabertura, uma comemoração não sei de quê. Comemorando a morte de tantas pessoas que se foram por causa da cervejaria. É uma afronta com a gente. Perdi 35kg, fiquei com dificuldade de caminhar, de ouvir, de enxergar e, até hoje, tenho dificuldade para falar. Tudo isso sem ajuda de custo nenhuma da Backer", desabafou.

Luciano Barros ficou indignado com a reabertura do Templo Cervejeiro em evento gratuito no sábado (17)

Arquivo Pessoal

Denúncia acolhida

Na sexta-feira (16), a Justiça informou ter recebido a denúncia contra sócios e funcionários da cervejaria Backer. Com isso, 11 pessoas (veja lista abaixo) passam a ser consideradas rés no processo.

Dez foram denunciadas pelo envolvimento na adulteração de bebidas alcoólicas e uma por falso testemunho. Entre elas, estão três sócios.

Além do recebimento da denúncia que ocorreu no último dia 8, o juiz Haroldo André Toscano de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, suspendeu a decisão que decretou o sigilo do processo.

De acordo com a Justiça, a próxima etapa é receber a defesa dos acusados por escrito. O prazo é de dez dias após cada um deles receber a citação.

Lista de denunciados

Ana Paula Silva Lebbos - sócia da Backer: denunciada pelo crime do artigo 272, parágrafo 1º-A, do Código Penal, por fabricar, vender, expor à venda, importar, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado.

Hayan Franco Khalil Lebbos - sócio da Backer: denunciada pelo crime do artigo 272, parágrafo 1º-A, do Código Penal, por fabricar, vender, expor à venda, importar, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado.

Munir Franco Khalil Lebbos - sócio da Backer: denunciada pelo crime do artigo 272, parágrafo 1º-A, do Código Penal, por fabricar, vender, expor à venda, importar, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribuir ou entregar a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado.

Paulo Luiz Lopes - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Ramon Ramos de Almeida Silva - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Sandro Luiz Pinto Duarte - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Christian Freire Brandt - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Adenilson Rezende de Freitas - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Álvaro Soares Roberti - responsável técnico da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Gilberto Lucas de Oliveira - chefe de manutenção da Backer: denunciado por homicídio culposo e lesão corporal culposa, além do artigo 272 do Código Penal, parágrafo 1º-A.

Charles Guilherme da Silva - pelo crime de falso testemunho.

Veja a nota da Backer, na íntegra

A reabertura do Templo Cervejeiro advém do respeito da Backer a todos os requisitos e condições legais de funcionamento. A empresa é a principal interessada no esclarecimento de toda e qualquer irregularidade relacionada com suas atividades e, nesse sentido, tem colaborado com o trabalho de autoridades e dos órgãos de fiscalização e controle, ao mesmo tempo que reafirmou a certificação da excelência de seus processos produtivos.

Diante dos fatos que tanto repercutiram na mídia, ainda que pendentes de apuração, fechar as portas definitivamente teria sido o caminho mais fácil. Mas não para nós. Temos muito orgulho da história que escrevemos nos últimos 20 anos e ela continuará a ser escrita, sem jamais nos omitirmos sobre os fatos em apuração.

Estamos acatando rigorosamente todas as orientações emanadas pelas autoridades competentes, sejam elas administrativas ou da magistratura mineira.

Enquanto não definidas as responsabilidades, adotamos providências, como por exemplo, de disponibilizar assistência médica em prol das vítimas e seus familiares, através de conceituada sociedade da área da saúde. Todos tiveram a opção de aceitá-la ou não.

Recursos depositados à disposição da Justiça já estão sendo liberados há alguns meses para as vítimas, através dos seus advogados, pelo MM. Juiz responsável pelo processo, desde que preenchidos determinados requisitos estabelecidos pela própria justiça. Para que tal situação possa prosseguir, nós precisamos retornar com os nossos serviços e produtos. Não há outra opção.

Contratamos também a Satisfactio Câmara de Conciliação e Mediação, que vem desenvolvendo o seu trabalho junto às vítimas, seus familiares e advogados com absoluta imparcialidade. Temos grande esperança em solucionar o quanto antes todos os conflitos pendentes, sem a necessidade de pronunciamentos da Justiça.

Permanecemos absolutamente transparentes em todas as nossas ações.

A reabertura do Templo Cervejeiro, bar e restaurante que possui todas as licenças para funcionar, gera empregos, impostos e receitas, trouxe nova repercussão de matérias pela imprensa, nas quais foi afirmado que teria ocorrido uma "festa" de reinauguração e relançamento de produtos. Jamais ocorreu a mencionada festa. A notícia é absolutamente inverídica. Reabrimos sim, e o público que sempre nos prestigiou compareceu em bom número, graças a Deus. O ambiente de descontração de um bar e restaurante não pode ser confundido jamais como uma festa. Não deixamos de sentir muita dor pelo o que ocorreu, mas entendemos que a única forma de poder ajudar é continuarmos com as nossas atividades, e assim faremos.

Agradecemos a cada uma das manifestações de apoio que recebemos. Como são importantes para nós. Prosseguiremos.

Fonte: G1

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