Dos treinos na Recra às disputas no Rio Pardo: como Abílio Couto fez Ribeirão chegar ao mar

Por Redação em 27/12/2022 às 08:08:46

Nadador ribeirão-pretano despertou seu interesse em desbravar mares e teve a ideia de cruzar o temido Canal de Ilhabela Abílio Álvaro da Costa Couto nasceu em Ribeirão Preto no dia 24 de dezembro de 1924. O garoto de muita energia encontrou na piscina do clube Sociedade Recreativa, a "Recra", uma maneira de dar vazão.

Livro de Sam Rocket, dedicado a Abílio Couto

Reprodução

Ali, naquelas águas, foi onde Abílio nasceu pela segunda vez. Começou a desenvolver no esporte que formaria sua vida. Até que as disputas na piscina ficaram insossas, sem aventura para um espírito desbravador. Ouviu na saída de raia que havia uma prova no Rio Pardo, perto onde hoje existe a sede do Clube Regatas.

- Ele disputou pela primeira vez e conseguiu vencer uma prova de 10 km. Foi ali que ele começou a procurar outras provas e descobriu sobre o Canal da Mancha - disse Daniel Vizeu Costa Couto, neto de Abílio e guardião das fotos, documentos e memórias sobre os feitos do avô.

Ganhou a travessia Guaraujá São-Vicente em 1956 e 57, após o quarto lugar em 1955.

O caminho para conquistar o Canal da Mancha, os cerca de até 33km de Dover a Calais, na França, todo mundo já deve ter visto por aqui. Desde a luta dele para descobrir as dicas até o livro "I'ts Cold in The Channel", de Sam Rocket, que autografou o exemplar de Abílio em agosto de 1957.

Daniel Couto, neto de Abílio, mostra os troféus do Canal da Mancha

Carlos Alciati Neto/ge

Justamente neste ano que Abílio fez duas tentativas, que foram abortadas por causa de más condições do tempo. Ela acabou empenhando imóveis e até um carro para manter o sonho e, em 1958, se tornou o primeiro sul-americano a cruzar o temido Canal da Mancha.

- Havia expectativa de recorde, pois ele fez a metade da distância em um tempo muito abaixo, mas houve uma mudança de maré e ele acabou sofrendo muita resistência. Ele fez o percurso em 12h45 minutos – relembra o neto, com o certificado do avô em mãos.

Assista ao primeiro episódio:

Abílio Couto - o homem que transformou Ribeirão em braço de mar

À época, a saída foi do solo francês. Abílio ainda nadaria provas na Itália, França, ganhou até um título de “Barão de Sorano”, cidade italiana, mas concedido por um nobre francês.

- E ele ficou encantado pelo fato de meu avô não aceitar a premiação em dinheiro por algumas provas. Mas a natação era um esporte amador e, como ele representava o Brasil pela antiga CBD [Confederação Brasileira de Desportos], não podia aceitar valores – relembra Daniel Couto.

Recorte da Gazeta Esportiva enaltecendo o feito de Abílio Couto, em 1958

Reprodução

A volta ao Brasil trouxe uma sensação de ampliar os desafios e bater o recorde do Canal da Mancha. Foi então que Abílio se questionou porque o Brasil não tinha uma travessia em um canal que fosse temido. Foi então que lembrou das histórias de pescadores e caiçaras sobre os perigos do canal de Ilhabela.

Jornal da época reporta sobre a primeira travessia Caraguatatuba a Ilhabela

Reprodução

Nada de águas frias como as do Mar do Norte da Europa, mas havia, sim, fluxo intenso de navios, contra fluxos de marés e a lenda de que criatura marinhas terríveis habitavam na fenda de até 40 metros. O que existiam e existem até hoje, eram muitas águas-vivas, baleias jubartes e orcas que aparecem em alguns períodos do ano e toda a vida marinha comum no lado de baixo da linha do Equador. Nada que assustasse Abílio.

- Ele achava absurdo o Brasil, com essa faixa litorânea, não ter o próprio “Canal da Mancha”. Seria uma prova para testar os limites e preparar outros brasileiros para encarar as provas na Europa – conta Daniel.

Os adversários das provas à época eram as pessoas ideias para Abílio procurar e colocar o desafio em prática. Mário Bello, ultramaratonista e quem idealizou a 14 Bis, a prova mais tradicional da natação brasileira, 24km de Bertioga a Santos, aceitou. O chileno Mando Silva, entusiasta do assunto, também aceitou o desafio.

Antes disso, Mário teve de fazer uma travessia ao lado de Silva, com um barco de pesca acompanhando, para provar à Prefeitura de Caraguatatuba, aos órgãos responsáveis pela segurança do canal, que seria possível. Uma semana antes, ele foi lá e cruzou a distância, de 22km.

Os 11 atletas que encararam a 1ª Travessia do Canal de Ilhabela a Caraguatatuba

Arquivo Pessoal

No dia da prova, 11 atletas perfilaram nas areias da praia do Portinho, em Ilhabela (à época a saída era da ilha para o continente). Seis deles chegaram à praia, Abílio, que nadou gripado, foi o segundo colocado. Salvador Marcos Felizzetti o grande vencedor. Nascia, ali, a prova brasileira que desafiava todo nador de grandes distâncias. E essa prova iria perdurar por muitos e muitos anos.

Fonte: Globo Esporte/G1

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