Os pontos altos e baixos do trabalho de Rogério Ceni no São Paulo

Por Redação em 22/03/2023 às 06:42:48

Prestes a completar um ano e meio no clube em que é ídolo, Ceni enfrenta turbulências e problemas para fazer sua visão de futebol valer A eliminação do Campeonato Paulista para o Água Santa, nos pênaltis, foi como um balde de água fria no torcedor do São Paulo. Mas não deve ser o único fator de avaliação do trabalho de Rogério Ceni no clube, que completará 18 meses no próximo dia 10 de abril.

Se por um lado é um tempo considerável para a formação de um time vencedor que ainda não aconteceu e um elenco que parece não aguentar mais seu treinador, por outro o clube sofre com problemas estruturais, como a falta de dinheiro, as muitas lesões e a crise política, com briga entre a parte social do clube e o futebol.

Rogério Ceni em treino do São Paulo

São Paulo FC

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Não é um trabalho ruim. Na cortante memória curta do torcedor brasileiro, a queda nos pênais faz esquecer que o Tricolor foi uma equipe competitiva para além de seu elenco no ano de 2022: chegou na final do Paulista e da Sul-Americana, eliminou a melhor equipe do país, o Palmeiras, na Copa do Brasil, e fez bons clássicos.

O time poderia mais se não fossem as muitas lesões, com o azar de serem pilares do time como Diego Costa e mais recentemente Galoppo.

Mas também não é um trabalho ótimo. O São Paulo ainda não jogou exatamente bem em 2023, e a postura da equipe contra o Palmeiras e o Del Valle nas finais foi um enorme sinal de alerta. Alguns jogadores da base, como Igor Gomes e Rodrigo Nestor, tiveram sequência, mas não conseguiram se desenvolver sob o comando do técnico.

Com reforços pedidos pelo treinador como David e Rato, a equipe parece ter caído de desempenho em 2023, como derrotas para o São Bernardo e o Corinthians mostraram. Além disso, os recentes problemas com o atacante Marcos Paulo mostraram que Ceni não goza da predileção de todos os jogadores, algo que foi recorrente no Fortaleza, Flamengo e Cruzeiro.

Ceni e Muricy em treino do São Paulo

Divulgação

No meio desse incômodo meio-termo, Rogério Ceni tenta impor sua visão de futebol ao time do São Paulo e há pontos positivos e negativos nessa jornada.

1) O São Paulo tem uma ideia de jogo bem definida e assimilada

Dizer que o São Paulo "não tem padrão tático" é apenas uma mentira: o padrão tático está lá, você consegue ver? Desde o ano passado Rogério quer uma equipe que se defende com duas linhas de quatro e não pressiona alto na saída. Prefere esperar para construir um contra-ataque. Com a bola, um dos volantes vem jogar com os zagueiros e forma a chamada saída de três, com laterais avançados e o centroavante e os quatro meias mais próximos, por dentro do campo.

São Paulo: saída de três e movimentação dos laterais é marca registrada do trabalho de Ceni

Reprodução

2) Falta inteligência na construção, especialmente pelo meio

Com esse padrão bem definido, mora o principal ponto negativo do trabalho de Ceni: a ausência de um meia que pensa o jogo. Luciano não é esse jogador. Rogério tentou com Igor Gomes e aposta em Nestor para fazer o papel de conectar a saída de trás com a movimentação na frente. Não dá certo: Nestor não conseguiu fazer esse papel, e é um dos que mais oscila.

Com isso, o time tenta compensar com um dos jogadores que deveria sair lá de trás vindo buscar a bola, como Galoppo faz na imagem acima. Isso faz a equipe perder a ocupação no ataque e se tornar mais lenta para levar a bola perto do gol. Em termos táticos, a falta de apoio por dentro torna o São Paulo um time com muita posse de bola, mas pouca profundidade.

3) Os laterais vão bem com Ceni e encaixam em sua visão

Como os laterais jogam espetados, no vaivém entre o campo de ataque e defesa, Rogério conseguiu revelar alguns jovens promissores e aprimorou eles na posição. É o caso de Welington, indiscutivelmente um dos melhores jogadores do time em 2022 e que mantém o nível de boas atuações, e de Nathan. Eles desbancaram Orejuela, Igor Vinícius e o experiente Rafinha como criadores de jogadas pelos lados.

Jogadas pelos lados, com os laterais, são o ponto forte do São Paulo

Reprodução

4) O time depende de Calleri para finalizar e fazer gols

Na imagem abaixo, há o avanço de Natan pelo lado direito. É um ponto forte do time. Agora conte quantos jogadores estão posicionados perto da área, com reais condições de transformar o cruzamento do jogador em uma chance de gol? Mora aí um problema da equipe de Ceni desde 2021: poder de fogo. O São Paulo depende de Calleri e agora de Galoppo, os dois fora por algum tempo, para fazer gols.

Primeiro, é natural depender de bons jogadores para cumprir as funções do jogo. Mas é dever do treinador criar soluções em termos táticos (na forma como a equipe ocupa espaço em campo) para suprir carências. Rogério confia muito em Rato, David e Luciano, que querido pela torcida pelos ótimos clássicos, deve futebol há muito tempo. Não seria hora de testar uma nova formatação de time?

Galoppo foi substituído no primeiro tempo de São Paulo x Água Santa

Marcos Ribolli

Com tantos pontos a colocar na balança, fica a ideia de que o São Paulo é uma equipe que busca se reconstruir e só foi competitiva nos últimos anos justamente com Rogério Ceni.

Fora o trabalho de Hernán Crespo, todos os outros times e treinadores passaram longe de formar uma equipe minimamente confiável e que buscasse e lutasse por títulos. Apesar de semifinalista da Libertadores, o São Paulo de Patón Bauza em 2016 jogava mal na maioria dos jogos. O São Paulo não chegava em duas finais desde o mítico ano de 2005.

Mas também perdeu o Paulista de virada, com o Palmeiras impondo uma das maiores derrotas que o clube já sofreu em sua história. Jogou mal demais a final contra o Del Valle, passando nos pênaltis contra o Ceará. Já havia uma queda de desempenho lá, que ficou acentuada no Paulistão desse ano.

Não é o suficiente para a saída de Rogério, ídolo máximo e que já provou ser um bom treinador. Também não é sua permanência cega que fará o Tricolor voltar aos bons dias. O clube precisa se ajustar e Ceni precisa rever algumas convicções. Um diálogo necessário na busca de temporada melhor que a de 2022.

Fonte: Globo Esporte/G1

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