Teste com 14 combinações diferentes de vacina viu benefício em todas, mas desempenho variou

Por Redação em 02/12/2021 às 21:36:54

A conclusão é do projeto CoV-Boost, uma parceria entre universidades britânicas e o NHS, o sistema de saúde nacional do Reino Unido O estudo mais abrangente feito até agora com pessoas que tomaram dose de reforço de vacina contra covid-19, com diferentes combinações, indica que todas elas levaram a uma melhora da resposta imune. O desempenho das diferentes marcas de imunizante, porém, variou bastante. A conclusão é do projeto CoV-Boost, uma parceria entre universidades britânicas e o NHS, o sistema de saúde nacional do Reino Unido.

Os pesquisadores, liderados por Alsdair Munro, da Universidade de Southampton, publicaram nesta quinta-feira (2) na revista médica “Lancet” um artigo descrevendo o resultado de cada esquema de vacinação.

Para o trabalho, os pesquisadores avaliaram diversos sinais clínicos medidos a partir de amostras de sangue de 2.878 voluntários, todos maiores de 30 anos. Foram observados a contagem de anticorpos contra o coronavírus e o grau de atividade de imunidade celular, uma outra frente de ataque do sistema imune.

Todos os voluntários tinham recebido duas doses do ciclo normal de vacinação, ou com a vacina da AstraZeneca ou com a da Pfizer. Para as doses de reforço (3ª dose, no caso), foram usadas as mesmas vacinas, além de outras cinco: Janssen, Moderna, Valneva, CureVac e Novavax.

Algumas pessoas receberam doses "homólogas" (mesma vacina nas três doses), outras heterólogas (uma vacina nas doses 1 e 2, outra diferente na dose 3). Todas as 14 combinações que utilizaram doses inteiras foram capazes de ampliar as contagens de anticorpos das pessoas, bem como sua imunidade celular.

Desempenho

O desempenho variou bastante, porém. Enquanto a Valneva ampliou a contagem de anticorpos dos vacinados com Pfizer em 31%, por exemplo, o reforço com dose de Moderna para os vacinados com AstraZeneca foi cem vezes mais potente, ampliando os anticorpos em 3.130%. (As variações foram calculadas em relação a pessoas que não tomaram a dose de reforço da vacina)

Como o estudo clínico não avaliou ainda a eficácia das vacinas diretamente (ou seja, não contabilizou quem se infectou ou adoeceu por covid-19), os pesquisadores dizem que é cedo para afirmar se essas diferenças seriam tão acentuadas num contexto clínico.

Os cientistas repetiram os testes de tubo de ensaio também com sangue de pessoas que tinham recebido meia dose de vacina como reforço. Neste subgrupo, também houve alguma melhora da resposta imune, ainda que menor do que naqueles que haviam tomado uma dose inteira. A única exceção foi a meia dose de Valneva, que não se mostrou capaz de reforçar a imunidade de quem tinha recebido a Pfizer.

Tecnologia mRNA, RNA mensageiro

Repordução/Universidade Johns Hopkins

A força do RNA mensageiro

As combinações mais imunogênicas foram aquelas que envolveram vacinas de RNA mensageiro (Pfizer ou Moderna) em ao menos alguma etapa.

"As descobertas deste teste demonstram que a imunogenicidade de terceira dose de reforço homóloga ou heteróloga com todas as vacinas testadas foi superior ao grupo de controle [para comparação], independentemente de qual vacina tenha sido dada na etapa inicial", escrevem os pesquisadores.

Para o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), por ser uma vacina semelhante à Coronavac, feita de vírus inativados, era esperado que a Valneva demonstrasse uma capacidade menor de atuar como reforço (booster).

“Mas é importante ressaltar que esse estudo avaliou a imunogenicidade, e não a eficácia. Quando se avalia um desfecho como prevenção contra doença moderada, contra doença grave ou contra mortes, a diferença de desfecho entre as vacinas tende a ser menor”, diz o médico.

Kfouri afirma porém, que as decisões de saúde pública provavelmente terão de se ancorar em estudos de imunogenicidade mesmo, porque estudos de fase 3 e eficácia para doses de reforço são muito difíceis de planejar e conduzir em meio a uma pandemia, pois requerem acompanhamento de um número muito grande de pacientes.

Variantes

Outro recorte que os cientistas britânicos fizeram na pesquisa foi o de resposta a diferentes variantes do coronavírus. Além do vírus original das amostras chinesas de Wuhan, o soro dos pacientes com dose de reforço foi testado contra as variantes beta (descoberta na África do Sul) e delta (descoberta na Índia). A linhagem específica de vírus, porém, não afetou muito o resultado das doses de reforço.

Intervalo entre as doses

O estudo também avaliou o intervalo entre aplicação das doses. No caso britânico, o intervalo entre primeira e segunda dose foi maior do que o intervalo entre segunda e terceira dose. Os voluntários receberam a segunda dose com intervalos de 10 a 12 semanas da segunda.

Os cientistas afirmam que é possível que o booster tivesse um efeito melhor com intervalos maiores na última etapa. “Esse é um princípio que vale para qualquer vacina. A imunidade tem um tempo de maturação. Quando mais longos os intervalos, as respostas imunes ficam mais duradouras e melhores também”, diz Kfouri. “Mas você precisa equilibrar isso com o fator da urgência de dar alguma proteção extra para as pessoas. Não dá para colocar um intervalo de seis meses entre doses no meio de uma pandemia.”

Segundo Munro e seus coautores, a ideia do estudo é municiar autoridades de saúde com informações úteis, e não prescrever uma política de dose de reforço que valha para todos.

"Os formuladores de políticas e os comitês nacionais de imunização devem estabelecer critérios para escolher quais vacinas de reforço vão usar em suas populações", escrevem. "Essa decisão deve ser baseada em considerações imunológicas, nos perfis de efeitos colaterais conhecidos, na disponibilidade em cada país e outros fatores."

Fonte: Valor Econômico

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