Blockchain e NFT chegam com força ao mercado imobiliário

Por Redação em 18/03/2022 às 00:07:53

Tokenização de imóveis cria novas opções de investimento nos mundos real e virtual. Tecnologia ajuda a descentralizar os negócios do setor e facilita o acesso aos bens A digitalização de imóveis reais para a tecnologia NFT com registro dentro da blo­ckchain começa a virar rea­lidade no mercado de imó­veis do Brasil. Iniciativas bem-­sucedidas e já consoli­dadas em São Paulo e no Rio Grande do Sul demonstram que a tokenização do setor abrirá um vasto campo a ser explorado por investidores e incorporadoras.

Tokenizar um imóvel signi­fica transformar sua escritura em um código criptografado único e não fungível (o NFT, na sigla em inglês), emitido e gravado em arquivo digital praticamente inviolável: o blockchain. Esse movimento gera mais agilidade nos pro­cessos de compra e venda de ativos, traz mais segurança aos envolvidos e descentra­liza o acesso aos bens, uma vez que eles podem ser vendidos ou adquiridos com criptomoedas.

Esse novo modelo de transação já acontece com outros tipos de produtos, como obras de arte, itens colecionáveis e games. Segundo a plataforma DappRadar, as negocia­ções com NFTs no mun­do somaram cerca de US$ 25 bilhões em 2021. Para o setor de real estate, no entanto, é uma novidade.

“O primeiro grande benefício da tokenização é dar mais liquidez. A popu­lação de ofertantes passa a ser muito maior, intera­gindo mais com o imóvel virtualmente”, avalia Hugo Pierre, CEO da Growth Tech, startup focada em soluções para o mercado imobiliário. Outra vanta­gem é a facilidade para fra­cionar ativos. “Do ponto de vista burocrático, é bem mais complexo você vender um imóvel para diversos proprietários no ambiente real do que no digital. Com alguns cliques, isso é resol­vido”, comenta.

O token que representa um imóvel pode ser fra­cionado em subtokens comercializados na blockchain, facilitando o acesso, viabilizando a capitaliza­ção do bem e permitin­do uma diversificação de investimentos sem prece­dentes. Efetivado o negó­cio, a gestão do contrato torna­-se também mais ágil, uma vez que o “smart contract” é autoexecutá­vel: o sistema administra taxas, cobranças e paga­mentos, reduzindo o risco de inadimplência e de erro humano no processo.

No Sul, a startup Netspaces já digitalizou 30 imóveis em Porto Alegre, com valor total de R$ 9 milhões. Em 15 de março, a empresa lançou uma campanha comercial em par­ceria com o portal Imovelweb, colocando à venda 18 empre­endimentos fracionados em cem NFTs, avaliados em R$ 40 milhões. Para este ano, a meta é alcançar 500 proprie­dades tokenizadas, com VGV de R$ 300 milhões.

“O setor imobiliário pre­cisa acelerar seus proces­sos. Queremos equiparar as transações de propriedades digitais ao padrão de Pix, para que possam ser rea­lizadas em segundos em qualquer lugar do mundo”, afirmou o CEO Andreas Blazoudakis no evento.

A venda de residências com NFTs pelo mundo também está só começan­do. Nos Estados Unidos, a primeira transação oficial ocorreu em fevereiro: uma modesta casa em Gulfport, na Flórida, foi arrema­tada em leilão por 210 Ethereum, uma criptomo­eda. O valor é equivalente a cerca de US$ 654 mil.

CASHBACK TOKEN

Para Ariel Frankel, CEO da Vitacon, a tokenização dos imóveis vai permitir mais acesso, agilidade e transparência ao processo imobiliário. “É o futuro do setor, e vemos isso como um caminho que ainda vai florescer bastante”, apos­ta. Sua empresa também está aderindo à inovação com o edifício ON Jardins by Housi, em fase de lança­mento na região central da capital paulista.

No modelo da incorpora­dora, uma parcela dos apar­tamentos receberá tokens. Na quitação do imóvel, o compra­dor terá direito a usar o NFT para abrir uma carteira digital — desenvolvida pela startup Insignia —, em que receberá um cashback proveniente do aluguel da loja localizada no térreo do prédio. O recurso será usado para abater parte do valor do condomínio — uma redução que pode supe­rar 50% da taxa. Quanto mais unidades compradas, maior será o benefício.

“Foi uma forma de atrair os investidores para algo ainda novo”, explica Frankel. “Mais do que surfar na onda de tokenização, queremos contribuir para educar o mercado sobre esse tipo de negócio”, conclui.

Imóveis no metaverso ainda é realidade distante

No Brasil, propriedades exclusivamente digitais ainda geram desconfiança no setor imobiliário

Mars House, da artista Krista Kim, foi a primeira residência vendida no metaverso

KRISTA KIM/REPRODUÇÃO

Outra forma de toke­nizar imóveis é designando NFTs para propriedades locali­zadas apenas em ambiente digital — as “lands” que, em geral, ficam dentro de games. Em janeiro, a One Sotheby"s International Realty levou a leilão em Miami a primeira resi­dência MetaReal. Quem arrematar o lote terá direito a uma propriedade dentro do jogo Sandbox e outra idêntica no mun­do físico, em um terre­no de quatro mil metros quadrados.

Oficialmente, a primei­ra casa vendida no forma­to 100% digital foi a Mars House, idealizada pela artista contemporânea Krista Kim. O arquivo 3D teve o seu NFT comprado por US$ 500 mil em março do ano passado.

Players do mercado imo­biliário no Brasil veem esse tipo de movimento com ceticismo. “No final do dia, é preciso usufruir minimamente do imóvel adquirido e não vejo como fazer isso no modelo atual. Mas esse é um segmento muito recente e dinâmico, tudo pode mudar”, afirma Ariel Frankel, da Vitacon.

Para Guilherme Sawaya, diretor de Transformação Digital da Cyrela, a van­tagem mais tangível do metaverso é o empode­ramento do cliente na jornada de compra. “O interessado poderá visitar áreas comuns, ver a vista de cada cômodo e conhecer o entorno do bairro, o que vai ajudá­-lo a tomar decisão sem precisar sair de casa.”

Indústrias como a da moda e a do showbiz já têm usufruído intensamente da vida no metaverso. Os estú­dios Warner adquiriram um lote dentro do Sandbox onde pretendem criar um parque temático para gran­des shows. E estrelas inter­nacionais, como Ariana Grande e Justin Bieber, já se apresentaram no mundo virtual com milhões de fãs na “plateia”.

Em outra estratégia, marcas de luxo como Balenciaga, Ralph Lauren e Prada têm usado o metaverso para lançar produ­tos como skins e itens para vestir personagens de jogos online. E a Gucci passou por um episódio inusitado quando lançou recentemente a submarca Vault dentro do metaver­so: a edição digital da sua bolsa Dionysus foi vendi­da no Roblox por um valor maior do que o pedido nas lojas físicas.

Fonte: Valor Econômico

Tags:   Valor
Comunicar erro
Agro Noticia 728x90