Basquete sobre rodas reforça poder de integração social do esporte

Por Redação em 06/04/2022 às 12:12:29

Modalidade surgiu com o objetivo de promover inclusão a pessoas com limitações de movimentos Grande desafio para todos os segmentos da sociedade, a inclusão social encontra no esporte um grande aliado. A prática esportiva possibilita integração entre pessoas de todas as classes, gêneros, etnias e credos. Além da inclusão, o esporte também é uma grande ferramenta de transformação e ascensão social.

São inúmeros os exemplos de personagens que encontraram no esporte a oportunidade de mudar de vida ou, até mesmo, aplicar a disciplina e os valores adquiridos na vivência esportiva para se desenvolver pessoal e profissionalmente. Neste cenário, uma modalidade esportiva se destaca: o basquete sobre rodas.

A modalidade surgiu a partir da prática de ex-soldados norte-americanos que foram feridos na Segunda Guerra Mundial e tiveram seus movimentos limitados. Conquistando o público, o esporte esteve presente em todas as edições dos Jogos Paraolímpicos Masculinos - as mulheres disputaram a primeira Paraolimpíada em Tel Aviv, Israel, no ano de 1968.

> Conheça a história de Aldo Mund, catarinense que teve a vida transformada pelo basquete

Aqui no Brasil, foi o primeiro esporte paraolímpico a ser praticado, em 1958. Desde então, segue sendo uma das atividades do segmento mais presentes em todo território brasileiro. São mais de 100 clubes que oferecem a modalidade voltada para pessoas com deficiências físico-motoras.

O Brasil é uma das potências do basquete sobre rodas na América Latina. Atletas brasileiros já disputaram diversas vezes o pódio olímpico da modalidade. No Parapan do Rio de Janeiro, em 2007, o Brasil conquistou o 4º lugar no feminino e o 3º no masculino.

Entre as melhores colocações brasileiras na modalidade, se destacam o quinto lugar, no masculino, e o sétimo, no feminino, no Rio 2016. A seleção feminina também já conquistou três medalhas de bronze nos Jogos Parapan-Americanos (Lima 2019, Toronto 2015 e Guadalajara 2011).

Brasil é uma das potências da modalidade; seleção feminina já conquistou medalhas nos jogos Pan Americanos.

Divulgação | CBBC

Regras da modalidade

O basquete em cadeira de rodas possui especificidades e uma série de regras - definidas pela Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF), e administradas no Brasil pela Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas (CBBC).

Na formação dos times, existe uma classificação funcional, onde os atletas são avaliados conforme o seu comprometimento físico-motor. A escala varia de 1 a 4,5 pontos, de acordo com a limitação - e a soma da avaliação dos cinco atletas da equipe não pode ultrapassar 14. Dessa forma quanto maior o comprometimento decorrente da deficiência, menor a classe.

A dimensão das quadras, a altura das cestas, a quantidade de jogadores e o tempo de partida seguem os mesmos parâmetros do basquete tradicional 5x5. As principais especificidades se referem à mobilidade dos atletas: a mecânica de locomoção com as cadeiras de rodas e a necessidade de se jogar sentado. Por isso, as regras sobre posse de bola e movimentação em quadra sofrem algumas modificações.

Ao invés de dar dois passos com a bola, como ocorre no basquete andante, o jogador só pode impulsionar sua cadeira de rodas duas vezes quando está com a bola em mãos. Após as duas impulsões, ele deve arremessar, quicar ou passar a bola.

Por se tratar de um esporte de contato, as próprias cadeiras de rodas destinadas a essa modalidade possuem algumas características, fundamentais para garantir principalmente a segurança, e também a igualdade entre os atletas da competição.

Seguindo os padrões da IWBF, a cadeira pode ter 3 ou 4 rodas - sendo duas rodas grandes na parte traseira e uma ou duas na parte frontal. Os pneus traseiros devem ter o diâmetro máximo de 69 cm, seguindo a padronização. É necessário um suporte para as mãos em cada roda traseira.

A altura do ponto mais alto em relação ao solo pode ter no máximo 58 centímetros. Em todas as cadeiras, quando as rodas dianteiras estiverem direcionadas para frente, o apoio para os pés não pode ter mais que 11 centímetros a partir do chão.

> Além das quadras: conheça a história do treinador que ajuda a transformar vidas no basquete

Buscando evitar danos à superfície da quadra, a parte de baixo dos apoios devem ser apropriados. No assento da cadeira, o material pode ser flexível, garantindo mais conforto ao jogador. Porém, a almofada não poderá ter mais de 10 cm de espessura (nas classes 1, 1.5, 2, 2.5 e 3) ou 5 cm de espessura nas classes 3.5, 4.0 e 4.5.

Também é comum que alguns jogadores utilizem faixas e suportes que o fixem na cadeira, ou faixas para prender as pernas juntas. Aparelhos ortopédicos e próteses podem ser utilizadas, desde que informadas no cartão de classificação do atleta. Todas as normas são conferidas pelos árbitros no início da partida.

Atleta Aldo Mund, durante o Desafio 3x3, realizado em Florianópolis.

Victor Guião | Virtus

O basquete sobre rodas em Santa Catarina

Apesar de possuir longa história no país, o basquete em cadeira de rodas possui uma trajetória marcada por desafios - os preços elevados dos itens necessários para a prática do esporte, os custos para transporte até as competições e a falta de apoio do poder público faz com que o esporte deixe de ser praticado em muitas cidades.

Em Santa Catarina, a modalidade está presente em Chapecó, Concórdia, Florianópolis, Palhoça, Joinville e Brusque. Na região da Grande Florianópolis, a prática se mantém ativa através de uma parceria entre duas instituições: a Organização para o Movimento e o Desporto Amador (OMDA), de Palhoça, e a Associação Florianopolitana de Deficientes Físicos (AFLODEF), com sede na capital.

> Jovens mantêm o basquete vivo na cidade de Braço do Norte

A primeira delas, OMDA, surgiu do desejo de dois colegas de proporcionar a vivência no esporte para pessoas com deficiência. Tiago Baptista e Pedro Duarte saíram juntos pelas ruas de Palhoça, convidando os jovens que encontravam para jogar basquete.

O que começou, 18 anos atrás, como uma caça nas ruas, hoje é um projeto inspirador em toda a região, que atende 12 pessoas com deficiência que se encontram em 3 treinos semanais.

A OMDA cresceu, se expandiu, e hoje atende também cerca de 110 crianças em um projeto social ligado à prática do basquete tradicional. Todos os treinos ocorrem nas quadras cedidas pela Unisul, que assim como diversas outras empresas, presta um apoio fundamental para a continuidade do trabalho da OMDA.

Desde 2020, a parceria com a AFLODEF tem auxiliado a equipe OMDA/Tubarões a superar questões logísticas como o transporte para as competições - visto que, no basquete em cadeiras de rodas, é necessário levar não só os atletas, mas todo o equipamento necessário.

Assim, além de levar os 10 atletas, é preciso transportar dez cadeiras de rodas. Dessa forma, dos treinos até o pódio, o basquete em cadeira de rodas exige profissionais preparados para atuar nas quadras e também fora delas. A parceria entre OMDA/Tubarões e AFLODEF surgiu justamente com o intuito de viabilizar a logística e o profissionalismo necessários.

Parceiros, OMDA e AFLODEF se enfrentaram em uma partida durante o desafio 3x3, realizado pela NSC em parceria com a FCB.

Victor Guião | Virtus

Movimento

Apesar das limitações motoras dos atletas e da adaptação necessária na modalidade, uma partida de basquete sobre rodas é dinâmica e proporciona, ao público e aos jogadores, muita emoção e diversão.

Para o co-fundador e atual técnico Pedro, ver os atletas em quadra é um momento de choque para muitas pessoas.

“Tem pessoas que nunca viram e ficam maravilhadas com a modalidade, porque ainda existe essa cultura da sociedade, de olhar para a pessoa com deficiência com esse ar de pena. E isso é tudo o que os atletas não querem. A pessoa com deficiência, quando tem a oportunidade, ela sabe fazer o negócio acontecer”, afirma.

Para o atleta da modalidade Marcos Antônio Fabre, 41 anos, o esporte possibilita uma inserção positiva de pessoas com deficiência na sociedade, possibilitando um outro olhar para este público.

“O pessoal que vai assistir sai de lá muito empolgado. As vezes acha que é uma coisa, e quando vai ver, é outra. Vê que é pegado, é competitivo, é rápido, é veloz, é forte. Não é uma brincadeira entre pessoas com deficiência. É, de fato, um esporte”, destaca o atleta.

Praticante do esporte há mais de vinte anos, Marcos ressalta que os benefícios proporcionados são inúmeros, trazendo melhora na qualidade de vida de todos os participantes - sejam estes atletas amadores ou profissionais.

“Além do cárdio - e pra um cadeirante, isso é mais difícil de conseguir - é também o mental. Poder correr, extravasar, até brigar com um colega. Esporte coletivo tem essa particularidade, da troca com pessoas diferentes, da interação com vários tipos de pessoas”, frisa.

Marcos afirma que deseja continuar no esporte por muito tempo, enquanto seu corpo permitir.

“É um esporte que acaba exigindo muito dos membros superiores, desgastando, acaba gerando lesões - no punho, no ombro, no cotovelo. Então, não sei quanto tempo eu consigo jogar sem sofrer. Mas enquanto eu puder, me manterei no basquete.”

Para Pedro, o crescimento da OMDA e do basquete em cadeira de rodas no geral depende principalmente do público ter acesso à modalidade, através da fomentação de clubes, fundações, parceiros, e da mídia.

“A sociedade precisa de mais informação, de mais divulgação para poder se aproximar dessa modalidade. Por isso, os meios de comunicação são muito importantes para que a gente possa fazer com que a modalidade cresça”, afirma.

Quer saber mais? Acesse o especial Basquete Transforma SC, no GE.

Leia também

Quer aprender a jogar basquete?

Você conhece a história do basquete?

4 motivos que fazem do basquete o esporte ideal para os jovens

Fonte: Globo Esporte/G1

Comunicar erro
Agro Noticia 728x90